Pai de resgatado em Mianmar critica atuação de autoridades brasileiras

São Paulo — Antônio Carlos Ferreira, pai de Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos, criticou nesta quarta-feira (12/2) a atuação do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), do Governo Federal e da embaixada brasileira no resgate do filho, vítima de tráfico humano há mais de 90 dias em Mianmar, no sudeste asiático.

Em entrevista ao Metrópoles, Antônio mencionou que ficou sabendo da situação do filho através de um amigo da vítima e que acionou as autoridades na sequência.

“Entrei em contato com o Ministério das Relações Exteriores, que me passou o WhatsApp da Embaixada do Brasil lá em Mianmar. Eles me pediram meus documentos e o do Phelipe e falaram que iriam tomar providência. Resumindo: não tomaram providência nenhuma”, desabafou Antônio.

O homem acredita que a embaixada brasileira deveria entrar em contato com o Itamarat, para que Mianmar fosse pressionado a resolver a situação. Algo que, segundo ele, não aconteceu.

“O Itamaraty nunca ligou pra mim. Ele nunca deu suporte pra gente. A única coisa que eu concordo com o Itamaraty é que na nota para imprensa ele falava assim ‘nós estamos acompanhando o caso’ isso eu concordo com ele. Eles estavam acompanhando o caso e acompanhando as pessoas sofrerem lá”

O pai de Phelipe ainda revelou que, após uma conversa com a Polícia Federal (PF), a corporação repassou seu contato à uma Organização Não-Governamental (ONG) chamada The Exodus Road. Porém, as criticas às autoridades brasileiras não cessaram, Antônio afirmou que entrou em contato com a vice-presidente da entidade, que foi ignorada pelo Ministério das Relações Exteriores ao tentar contato.

À reportagem, Antônio ainda contou que a embaixada alegou que a ONG não tinha “autoridade nem mandato em Mianmar” e que por isso manteria contato somente com o familiar de Phelipe:

“Eu quero saber se eles têm autoridade em Mianmar? Eu queria saber se eles iam fazer alguma coisa pelo meu filho, para resgatá-lo”, questionou Antônio.

Apesar de, segundo o familiar, não obter o apoio das autoridades, a entidade conseguiu resgatar tanto Phelipe quanto Luckas Kim, outro paulista que já estava preso em Mianmar há mais de cinco meses.

Antônio conta que ambas as vítimas escaparam dos criminosos através de uma fuga e que mesmo sendo espancados na ação foram liberados por conta da pressão de governos estrangeiros.

No momento desta publicação, os dois estão na Tailândia sob cuidados da ONG e de acordo com o familiar de Phelipe devem continuar no local pelos próximos 12 dias. A partir desta data, caberá ao Governo para conseguir a repatriação dos dois. Ao Metrópoles, Cleide Viana, a mãe de Luckas, contou que o período deve variar entre 10 e 15 dias.

O homem também revela que na saída de Mianmar, os dois foram direcionados à Tailândia e que no país receberia melhores instruções quanto a volta ao Brasil. Juntos aos paulistas estavam “diversos imigrantes”. Segundo ele, as embaixadas dos países dos presentes no local estavam no endereço para instruir os cidadãos, menos a do Brasil, algo que causou uma confusão inicial em Phelipe e Luckas.


Caso Luckas Kim

  • Luckas já vivia na Ásia — em Bangkok, na Tailândia –, mas foi enganado com falsas promessas de emprego e levado a Mianmar.
  • Em entrevista ao Metrópoles, a mãe do rapaz, Cleide Viana, contou que ficou sabendo das condições de exploração do filho após uma ligação de cerca de quatro minutos, realizada no dia 27 de outubro.
  • Segundo a mulher, ele estava “sendo explorado, torturado e forçado a cometer crimes contra a própria vontade”.
  • Após o contato em outubro, ela afirmou que não recebeu mais notícias e, então, passou a mandar e-mails para a Embaixada de Mianmar, Itamaraty, deputados e até uma carta para o presidente Lula.
  • Lucas teria ligado para a mãe novamente no dia 8 de dezembro e contou que seus “chefes” exigiram 20 mil dólares (cerca de R$ 122 mil) para liberá-lo. Por isso, ela abriu uma vaquinha online para arrecadar dinheiro e resgatar o filho.
  • O valor obtido, segundo a mulher, também ajudaria a custear passagens, apoio jurídico, traduções e “até negociações com intermediários”.
  • O Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) afirmou, em nota, no dia 17 de dezembro, que acompanhava o caso e que estava em contato com as autoridades competentes, incluindo policiais e familiares de Luckas.
  • No posicionamento, a pasta disse ainda que, nas semanas anteriores, havia realizado diversas gestões junto ao governo de Mianmar, com vistas a resgatar o paulista, operação que é de competência dos policiais locais, segundo o MRE.
  • Cleide afirmou, no início de janeiro, que esteve em contato com a embaixada brasileira. O órgão a teria informado estar em negociação com o país asiático.
  • “Eles falam que é um lugar perigoso e tem que ter cuidado nas negociações para não prejudicar os meninos”, disse.
  • Em nota enviada nesta terça (11/2), o Itamaraty afirmou que tomou conhecimento, com grande satisfação, da liberação dos dois brasileiros vítimas de tráfico de pessoas na fronteira entre Mianmar e Tailândia.
  • A pasta também afirmou que, por meio de suas Embaixadas em Yangon, no Myanmar, e em Bangkok, na Tailândia, vinha solicitando os esforços das autoridades competentes, desde outubro do ano passado, para a liberação dos nacionais.

“O tema foi também tratado pela Embaixadora Maria Laura da Rocha, na ocasião na qualidade de Ministra substituta, durante a IV Sessão de Consultas Políticas Brasil-Myanmar, realizada em Brasília, em 28 de janeiro último. Em suas gestões, a Embaixadora Maria Laura da Rocha reforçou a necessidade de esforços contínuos para localizá-los e resgatá-los. O setor consular do Itamaraty manteve, ainda, contato permanente com as famílias”, diz a nota.


Metrópoles contatou a ONG The Exodus Road, responsável pelos resgastes, e aguarda uma resposta.

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