Café fake? Entenda o que é a mistura “sabor café” que viralizou nas redes

Nas redes sociais, viralizam fotos de um item novo nas prateleiras de alguns supermercados: café fake ou “cafeke”. O apelido ganhou fama pelo produto ter uma embalagem muito parecida com as do café torrado e moído, mas ser descrito como o “mistura para preparo de bebida sabor café”. Não dá para saber o que o consumidor está levando para a casa, mas associações adiantam que não são grãos puros do tradicional cafezinho brasileiro.

  • Tomar muito café faz mal à saúde? Saiba identificar excessos
  • Café descafeinado e câncer: uso de solvente é seguro para remover cafeína?

“Com a intenção de burlar a legislação e enganar o consumidor, algumas empresas têm tentado enquadrar a mistura intencional de impurezas no café em outras categorias de alimentos, mantendo-se a identidade visual parecida com o café verdadeiro”, afirma a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), em nota sobre o café fake.

Afinal, o que é café?

Antes de seguir, é preciso se atentar para o que é que pode ser vendido nos supermercados com o nome de café. Toda nomenclatura comercial tem regras bastante rígidas, o que protege o consumidor na hora da compra. Para chegar a essa definição, o Canaltech conversou com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).


Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.

Para um produto receber o nome de “café torrado em grão” ou “café torrado moído”, ele deve ser composto basicamente por grãos de café submetidos a um tratamento térmico até atingir o ponto de torra escolhido, algo bastante intuitivo. “Não há previsão de adição de nenhum outro ingrediente a não ser os aditivos alimentares autorizados para uso conforme expressa o § 3º do art. 8 da RDC nº 716/2022”, informa a Anvisa.

Imagem de grãos verdadeiros de café sendo moídos, o que não é café fake
Viralizam casos de venda de café fake, um tipo de produto que não deve ser confundido com o verderiro café torrado em grãos (Imagem de: Gregory Hayes/Unsplash)

Em relação às versões saborizadas do café, também existem regras para informar o consumidor. “Caso esses produtos sejam adicionados de aromatizantes, a denominação de venda deve ser acrescida da expressão ‘sabor…..’, seguido da classificação do aditivo alimentar aromatizante, conforme RDC nº 725/2022″, detalha a Anvisa. O que foge a essas regras já pode ser chamado de café fake, dependendo de como é anunciado, e este não é o mesmo caso do café solúvel (ou café instantâneo).

Quem busca uma forma de facilitar a distinção do que é e do que não é café pode procurar na embalagem do produto a existência do selo de pureza e qualidade da ABIC.

Entenda o que é “café fake”?

Após as denúncias que ganharam a internet e já viraram motivo de piada, resta saber o que tem dentro dessa “mistura para preparo de bebida sabor café”. Em tese, é possível que a mistura contenha resíduos agrícolas, matérias estranhas, impurezas (cascas, palha, folhas e paus), aditivos e outros compostos desconhecidos. Isso porque é preciso analisar a composição do material, em laboratório, para obter uma resposta definitiva. E sem regras definidas, cada uma dessas misturas pode conter uma formulação diferente.  

Questionada sobre o café fake, a Anvisa explica que, para ter certeza, seria necessário ter o produto em mãos, conhecer a lista de ingredientes e as indicações de uso, o que “é essencial para entender as características de identidade e avaliar o adequado atendimento às regras sanitárias”, comenta. “De toda forma, pela designação, entende-se que o produto não é um café”, pontua.

A partir das imagens que ciruculam na internet, essas informações “não parecem favorecer, a princípio, uma fácil distinção do produto, podendo induzir o consumidor a erro sobre a real natureza e características do produto. Esta prática talvez possa ser compreendida como irregular em relação ao Código de Defesa dos Consumidores (CDC), que reconhece a vulnerabilidade do consumidor e exige das empresas informações claras e precisas”, complementa a agência.

Parece, mas não é

A lista de produtos que pertencem à classe “parece, mas não é” tem aumentado nos últimos anos, e o café fake está longe de ser um fato isolado nos supermercados brasileiros. Muito possivelmente, um dos casos mais simbólicos do problema foi o embate entre o leite condensado e a mistura láctea, em 2022. Apesar de parecidos, especialistas explicam que eles não são equivalentes, como muita gente pode pensar.

Inclusive, já existiram algumas polêmicas anteriores envolvendo itens que se vendem como se fossem café, como o “pó para preparo sabor café”, lançado também no ano de 2022. 

No caso específico de café, as versões falsas e os produtos alternativos surgem como “solução” para o aumento dos preços. Isso porque as mudanças climáticas estão afetando drasticamente o plantio no país, com as secas prolongadas de 2024 e as chuvas de verão, com ameaça de fungos, neste início de ano. Outro fator que eleva os preços é o mercado internacional, onde os grãos estão quase tão valiosos quanto o ouro.

Olhe o rótulo!

“Com a diversificação de produtos no mercado, é preciso que os consumidores fiquem cada vez mais atentos no ato da compra, dando atenção à designação do produto e, principalmente, à lista de ingredientes”, finaliza a Anvisa. Por agora, mais investigações devem ocorrer para entender se esse novo produto com elementos de café é regular.

Leia mais:

  • Café e chá podem reduzir o risco de câncer, diz estudo
  • O melhor horário para tomar café, segundo a ciência
  • Quanto de cafeína tem no café? E quanto é seguro beber?

VÍDEO: descubra algumas curiosidades para tornar o seu café ainda mais gostoso

 

Leia a matéria no Canaltech.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.