Ex-testemunhas de Jeová protestam em SP contra normas da religião

São Paulo — Um grupo de 50 ex-testemunhas de Jeová realiza um protesto, neste sábado (15/2), em meio à chegada ao Brasil, pela primeira vez, de Robert Ciranko, um dos líderes mundiais da igreja. O ato começou por volta das 9h, em Cesário Lange, no interior de São Paulo, onde o missionário norte-americano está hospedado.

A previsão é de que cerca de 10 pessoas ficarão na sede da comunidade religiosa durante esta tarde. Segundo os organizadores, a manifestação tem o objetivo de chamar atenção para problemas que ocorrem na congregação.

Entre eles, casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes que seriam acobertados pela instituição. O ato também repudia a norma de que testemunhas de Jeová não podem receber transfusão de sangue.

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O grupo condena a regra interna de que ex-fiéis devem ser isolados socialmente

Os manifestantes também pedem o fim da proibição do recebimento de transfusão de sangue
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Protesto de ex-testemunhas de Jeová ocorre neste sábado (15/2). Eles pedem investigação de abusos sexuais e pedofilia na congregação

Material cedido ao Metrópoles

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O grupo condena a regra interna de que ex-fiéis devem ser isolados socialmente

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Os manifestantes também pedem o fim da proibição do recebimento de transfusão de sangue

Material cedido ao Metrópoles

Ex-testemunhas de Jeová

Uma das participantes do protesto, Jacira da Silva Amaral, de 72 anos, foi testemunha de Jeová por 40 anos e seguia à risca todas as crenças pregadas. Em 2021, ela percebeu um grande incômodo que a fez desistir da religião.

Em entrevista ao Metrópoles, a costureira detalha que uma das reivindicações do grupo é um pedido de revogação de norma interna, conhecida como ostracismo, que recomenda encerramento de contato com familiares e amigos que deixaram de seguir a doutrina.

“Quando uma pessoa sai da organização, há uma ‘morte social’. Acontece quebra de famílias: pais que expulsam filhos, divórcios”, conta Jacira. “Não existe saída honrosa.”

Em relação às denúncias de abuso sexual infantil, os dissidentes pedem o fim de uma regra de que deve haver, no mínimo, duas testemunhas para que casos de pedofilia sejam julgados dentro da congregação. “Se não confessar, o abusador continua [na organização]”, diz Jacira.

“Tenho dever de clamar por Justiça, não é uma religião verdadeira. Muitos são enganados e escravizados. É uma empresa do ramo imobiliário disfarçada de religião”, declara a costureira.

A manifestação deste sábado (15/2) é conduzida por Yann Rodrigues. O profissional liberal foi expulso da própria casa, aos 15 anos, quando se desvinculou da comunidade. Desde 2024, comanda o Movimento de Ajuda às Vítimas das Testemunhas de Jeová (MAV-TJ).

Dados

De acordo com dados oficiais, a doutrina Testemunhas de Jeová está presente em 240 países. A estimativa é de que há aproximadamente 10 milhões de fiéis pelo mundo, espalhados em 118.767 filiais.

Em 2019, o Ministério Público (MPSP), por meio da 3ª Promotoria de Justiça Criminal de São Paulo, abriu um inquérito para investigar a associação religiosa. Além de abuso sexual e pedofilia, a associação também é investigada por tentar constranger as vítimas e impedir a denúncia dos crimes.

Procurada pelo Metrópoles, neste sábado (15/2), a sede da organização Testemunhas de Jeová no Brasil não se manifestou. Via ligação, um representante disse que só há a possibilidade de qualquer pronunciamento em dias úteis. O espaço segue aberto.

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