Zelensky quer Europa unida contra Rússia: “Trump não gosta dos fracos”

Às vésperas do terceiro aniversário da intervenção militar da Rússia na Ucrânia, que teve início em 24 de fevereiro de 2022, Volodymyr Zelensky conclamou a Europa a se unir em torno de uma política externa e de defesa comum, que mostraria a Washington que o continente estava assumindo o controle de sua própria segurança.

O presidente ucraniano fez um apelo enfático por uma Europa mais forte, falando em uma só voz e com seu próprio exército. “Eu realmente acredito que chegou a hora de criar as forças armadas da Europa”, martelou o líder ucraniano em um discurso na Conferência de Segurança de Munique, diante de uma plateia de líderes políticos internacionais. “O tempo em que os Estados Unidos apoiavam a Europa simplesmente porque sempre fizeram isso já passou”, alertou.

“Ontem, aqui em Munique, o vice-presidente americano foi muito claro. Estamos chegando ao fim de várias décadas de boas relações entre os Estados Unidos e a Europa”, alertou Zelensky, em referência ao encontro que teve na véspera com o representante de Washington, J.D. Vance. “De agora em diante, as coisas serão diferentes e a Europa deverá se adaptar […] Sejamos honestos, não podemos descartar a possibilidade de os Estados Unidos dizerem não à Europa em questões que a ameaçam”, lançou o líder ucraniano.

4 imagens

Trump, Macron e Zelensky se reuniram em dezembro de 2024 na França

Zelensky se reuniu com uma delegação dos EUA na Alemanha para discutir a guerra da Ucrânia
1 de 4

Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia

Viktor Kovalchuk/Global Images Ukraine via Getty Images

2 de 4

Trump, Macron e Zelensky se reuniram em dezembro de 2024 na França

Divulgação/Presidência da França

3 de 4

Zelensky se reuniu com uma delegação dos EUA na Alemanha para discutir a guerra da Ucrânia

Divulgação/Presidência da Ucrânia

4 de 4

Divulgação/Presidência da Ucrânia

O discurso de Zelensky é também uma reação direta a conversa telefônica na semana passada entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia Vladimir Putin. A ligação foi realizada sem que nenhum líder europeu fosse consultado.

Os europeus estão, em geral, na defensiva diante dos anúncios da Casa Branca sobre as discussões entre Trump e Putin. Vinte e três países da OTAN também são membros da União Europeia e, para eles, a perspectiva de negociações lideradas por Donald Trump para a paz na Ucrânia não é uma boa notícia, apesar da promessa do Secretário de Defesa dos EUA de que a Ucrânia precisará de garantias de segurança para evitar que a Rússia ataque novamente.

Alguns representantes europeus se manifestaram abertamente contra as concessões prometidas antecipadamente por Trump a Putin. A chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, por exemplo, condenou a estratégia do chefe da Casa Branca e considerou que um acordo “pelas costas da Europa” não funcionaria. Ela se juntou ao ministro da Defesa alemão, Oskar Pistorius, para expressar seu pesar pelo método de Trump.

Trump não mencionou europeus em conversa com Putin

Várias vozes também se levantaram para denunciar o perigo de um acordo de paz que forçaria a Ucrânia a capitular. O Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, disse a eles que o presidente dos Estados Unidos era o único mestre das negociações que estavam por vir.

Os líderes da União Europeia se mostram convencidos de que a segurança do continente está em jogo nas futuras negociações sobre a Ucrânia, que o governo dos EUA tenta acelerar, mas têm encontrado dificuldade para impor a posição do bloco. No entanto, os europeus já alertaram que não poderão financiar ou fornecer tropas de manutenção da paz se não estiverem envolvidos nas negociações.

Durante a conversa que teve com Putin, o presidente americano “não mencionou nenhuma vez que os Estados Unidos precisam da Europa na mesa de negociações”, alertou Zelensky. “Trump não gosta de amigos fracos, ele respeita a força”, enfatizou. Diante do risco de serem marginalizados, o presidente ucraniano pediu que os europeus ajam, “para o seu próprio bem”. Segundo ele, “os Estados Unidos não oferecerão garantias de segurança a menos que as garantias da Europa sejam sólidas”.

Putin “mentiroso”

Zelensky insistiu que não deve haver “nenhuma decisão sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”, assim como não deve haver “nenhuma decisão sobre a Europa sem a Europa”, porque “se formos excluídos das negociações sobre nosso próprio futuro, todos perderemos”. Para ele, presidente russo “não pode oferecer garantias reais de segurança, não apenas porque ele é um mentiroso, mas porque o poder russo em seu estado atual precisa da guerra para se manter”.

Para o líder ucraniano, o presidente russo vai tentar instrumentalizar essa proximidade recente com Trump como uma demonstração de força em seu próprio país. Putin “tentará garantir que o presidente americano esteja na Praça Vermelha em 9 de maio [dia em que os russos comemoraram a vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial] não como um líder respeitado, mas como um símbolo em sua própria performance”, apostou o presidente ucraniano.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.