Bolsonaro acorda hoje mais perto da prisão ou do exílio

Aqui, no final do ano passado, quando muita gente ainda duvidava ou torcia contra, escrevi que Bolsonaro seria indiciado pela Polícia Federal, depois denunciado pela Procuradoria-Geral da República, e em seguida julgado e condenado pelo Supremo Tribunal Federal. Só não escrevi que seria preso, embora merecesse.

Escrevo agora: será preso. A não ser que peça asilo em alguma embaixada. Não se recusa asilo a um ex-presidente, nem aos mais sanguinários ditadores. É o que a história mostra. Admirador da ditadura militar de 64, da tortura e dos torturadores, Bolsonaro foi um péssimo governante e um golpista de fancaria.

“Eu jamais serei preso”, disse muitas vezes. Mas a prisão está à vista, e a única maneira de evitá-la é fugir para outro país. Antes de ser preso pelo juiz Sérgio Moro, Lula foi aconselhado a se exilar. Recusou-se. O exílio soaria como uma admissão de culpa e ele se dizia inocente. De resto, uma fuga encerraria sua carreira política.

Lula acabou solto pela justiça, candidatou-se outra vez a presidente e se elegeu. No carnaval do ano passado, logo após a Polícia Federal ter apreendido seu passaporte para evitar que fugisse, Bolsonaro apareceu na embaixada da Hungria, em Brasília. Passou duas noites por lá – deu no The New York Times.

Alvo de investigações criminais, ele não poderia ser preso estando numa embaixada estrangeira, porque a área está legalmente fora do alcance das autoridades nacionais. Bolsonaro é amigo de Viktor Orbán, o primeiro-ministro da Hungria, líder da extrema-direita. Já o chamou de “meu irmão”, e Orbán chamou-o de “herói”.

Duas semanas mais tarde, Bolsonaro participou de um comício na Avenida Paulista, em São Paulo, onde se apresentou como vítima de perseguição política. Bolsonaro não tem vocação para mártir. Ninguém no seu entorno o imagina preso por maiores que possam ser suas regalias, dada à condição de ex-presidente.

Por sinal, Lula não desfrutou de regalias nos 580 dias que permaneceu preso em um quarto improvisado na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. De lá só saiu uma vez para o velório da sua mulher, Marisa Letícia. Não lhe deixaram sair para o velório de um dos seus netos.

Ex-capitão do Exército, se preso, Bolsonaro terá direito a cumprir pena em uma unidade militar. Não lhe negarão continência nem conforto. O problema será o tamanho da pena. Ela deverá ser longa, maior do que as penas dos golpistas da arraia miúda. A Procuradoria-Geral da República denunciou-o pelos crimes de:

* liderar organização criminosa armada (pena máxima: 20 anos);

* tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (pena máxima: 8 anos);

* golpe de Estado (pena máxima: 12 anos);

* dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima (pena máxima: 3 anos);

* e deterioração de patrimônio tombado (pena máxima: 3 anos).

Somadas, as penas máximas chegam a 46 anos. O tempo máximo de cumprimento de pena aumentou no governo Bolsonaro de 30 para 40 anos. É a primeira vez que um ex-presidente da República é denunciado por tentativa de derrubar o Estado democrático de Direito, que no próximo mês completará 40 anos.

Se tudo correr como previsto, o julgamento de Bolsonaro poderá terminar em meados deste ano, mas não a sua agonia. Bolsonaro foi também indiciado pela Polícia Federal por mais dois crimes: roubo de joias presenteadas por governos estrangeiros ao Estado brasileiro; e falsificação de certificado de vacina contra a Covid-19.

Recomenda-se à Polícia Federal que vigie todos os passos de Bolsonaro. Quem faz aqui deve pagar aqui.

 

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