Milícia do Brás: PMs se aliaram a cooperativa para extorquir camelôs

São Paulo — Uma milícia que extorquia dinheiro de camelôs das ruas do Brás, famoso reduto de comércio popular no centro da capital paulista, usava associações como fachada para cobrar valores de suas vítimas, aponta uma denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

A Promotoria afirma que 15 denunciados sob acusação de pertencer a grupos extorquiam dinheiro camelôs. O esquema tinha entre seus integrantes três policiais militares da ativa, três reformados e uma escrivã da Polícia Civil de São Paulo.

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Acusada de integrar milícia usava caderneta para registrar pagamentos ilícitos

Investigados cobravam dinheiro principalmente de ambulantes estrangeiros
PM Humberto de Almeida Batista 
em meio a incursão de investigadores em área de milícia
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Policiais e investigada são flagrados extorquindo comerciantes do Brás, no centro de SP

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Acusada de integrar milícia usava caderneta para registrar pagamentos ilícitos

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Investigados cobravam dinheiro principalmente de ambulantes estrangeiros

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PM Humberto de Almeida Batista
em meio a incursão de investigadores em área de milícia

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Os policiais atuavam como uma espécie de braço armado do grupo, diz a denúncia. Já a associação era usada para dar impressão de legalidade, segundo Grupo de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do MPSP.

Uma dessas associações era a Cooperativa de Trabalho dos Profissionais do Comércio Solidário do Brás (CoopsBrás), que era gerida pelo casal Kelen Batista e seu marido Peterson Ribeiro Batista, conhecido como “Tetinha”.

Segundo a apuração, “ambos foram nominalmente citados pelas vítimas protegidas, sendo certo que outra vítima citou a CoopsBrás como sendo a ‘empresa de cobertura’ que os extorsionários se utilizam para dar aparência de licitude às cobranças indevidas”.

Kelen, vice-presidente da associação, foi vista andando entre as barracas e abordando seus donos. Acompanhada de cinco homens armados, ela cobrava dinheiro e media com uma trena os espaços ocupados pelos camelôs.

Segundo o Ministério Público, o cabo José Renato Silva de Oliveira, os sargentos da PM Wellington Stefani e Humberto de Almeida Batista, a escrivã da Polícia Civil Viviane Letícia Felix Trevisan e os PMs reformados Maurício Oliveira de Souza e Sergio Ferreira do Nascimento faziam parte do braço armado da extorsão.

Cobranças

Uma testemunha protegida relatou aos promotores que, no começo, um grupo cobrava R$ 50,00 pelo uso de um espaço, mas após seis meses passou a exigir R$ 3.000,00 anuais e R$ 200,00 semanais, utilizando ameaças e intimidação. No segundo ano, os valores subiram para R$ 5.000,00 e R$ 250,00 semanais. Em setembro de 2023, ao retornar ao local de trabalho após uma ausência por doença, a testemunha foi expulsa pelo grupo, que afirmou ter colocado outra pessoa em seu lugar e ameaçou agressão caso não saísse.

A denúncia traz uma espécie de caderneta, com os nomes dos camelôs e os valores pagos.

A apuração do MPSP afirma que outra entidade agia na região. “O denunciado Ronei Rodrigues da Cruz possui o mesmo modo de atuação realizado pelos milicianos da Coopbrás, valendo-se do Sindicato dos Camelos Independentes de São Paulo para tentar atribuir ar de legalidade às suas cobranças indevidas. As buscas realizadas em seus endereços evidenciaram de forma clara tal atuação”, afirma a denúncia.

A situação chegou ao ponto de vendedores se endividarem com agiotas para pagarem o grupo. Quando não quitavam a dívida, os mesmos policiais eram contratados pelos agiotas para exigir os valores do empréstimo.

“A informalidade do comércio e a presença de grande quantidade de imigrantes em situação irregular de permanência no país, fazem com que os comerciantes temam ter seu meio de sustento retirado, facilitando sua submissão às organizações criminosas que atuam na região, que contam, em sua maioria, com a participação de policiais militares e civis”, afirma a promotoria sobre os envolvidos.

A reportagem não localizou a defesa dos acusados. O espaço segue aberto para manifestações.

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