PM da milícia do Brás espancou comerciante que devia para agiota

São Paulo — Espancamentos, invasão de domicílio e ameaças com uso de viaturas da Polícia Militar (PM) marcaram a atuação de uma milícia formada por policiais civis e militares que aterrorizou lojistas do Brás, famoso reduto de comércio popular no centro da capital paulista. A investigação surgiu a partir de denúncias de testemunhas protegidas que se disseram acossadas pelo grupo.

Como mostrou o Metrópoles, além dos relatos, câmeras e grampos flagraram a atuação dos policiais, que se associavam a cooperativas e sindicatos para extorquir os comerciantes. A investigação foi feita de forma conjunta da Corregedoria da Polícia Militar (PM) e do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público (MPSP).

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Acusada de integrar milícia usava caderneta para registrar pagamentos ilícitos

Investigados cobravam dinheiro principalmente de ambulantes estrangeiros
PM Humberto de Almeida Batista 
em meio a incursão de investigadores em área de milícia
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Policiais e investigada são flagrados extorquindo comerciantes do Brás, no centro de SP

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Acusada de integrar milícia usava caderneta para registrar pagamentos ilícitos

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Investigados cobravam dinheiro principalmente de ambulantes estrangeiros

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PM Humberto de Almeida Batista
em meio a incursão de investigadores em área de milícia

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Em dezembro passado, eles deflagraram uma operação que cumpriu mandados de buscas contra 15 pessoas e prendeu 9. Dos alvos, três eram PMs da ativa, três reformados e uma escrivã da Polícia Civil — todos foram denunciados por formarem uma milícia em parceria com essas cooperativas e sindicatos investigados.

A milícia é acusada de cobrar R$ 15 mil por ano e até R$ 400 por mês dos ambulantes. Quando as vítimas deixavam de pagar, eram encaminhadas pelos PMs para os agiotas, que cobravam juros de 20% ao mês. Segundo um coronel da Corregedoria da PM, um dos policiais atuava, inclusive, cobrando as dívidas contraídas pelos vendedores com agiotas para pagar a extorsão.

Uma das testemunhas protegidas contou, por exemplo, que “comerciantes que não efetuam o pagamento sofrem ameaças e são retirados do local, sendo colocado no ‘ponto’ outro comerciante que pague o valor indevido”.

Ele relatou como o PM José Renato Silva de Oliveira invadiu a casa de um equatoriano e agrediu o comerciante com chutes e pontapés, além de ter ameaçado o lojista com uma arma de fogo.

Segundo ele, na ocasião, o PM “roubou a quantia de R$ 4 mil do equatoriano que devia para um agiota” para quem o policial trabalhava. A testemunha afirmou, ainda, que o mesmo PM dava cobertura a um grupo de milicianos que extorquia comerciantes e que, muitas vezes, esses vendedores contraíam dívidas com agiotas justamente para poderem pagar a propina.

Em outra ocasião, a testemunha afirmou que o mesmo policial militar passava de motocicleta caracterizada da PM “realizando anotações na prancheta de forma ameaçadora” na região do Brás. Segundo ele, não havia qualquer ocorrência naquele dia e que ele estava lá só para ameaçar os vendedores nas ruas.

A testemunha chegou a enviar imagens de câmeras do comércio que mostravam o PM circulando pela região.

Segundo promotores do Gaeco, o grupo se aproveitava do fato de que região é lotada de comerciantes estrangeiros em situação irregular no Brasil e exigia taxa para que eles montassem barracas nas ruas do Brás.

Ainda de acordo com a investigação, a Cooperativa de Trabalho dos Profissionais do Comércio Solidário do Brás (CoopsBrás), comandada por um casal que também foi preso, era uma fachada para fazer parecer que as vítimas estavam apenas se associando à causa do comércio local.

Quando não quitavam a dívida, os mesmos policiais da milícia eram contratados pelos agiotas para exigir os valores do empréstimo.

“A informalidade do comércio e a presença de grande quantidade de imigrantes em situação irregular de permanência no país fazem com que os comerciantes temam ter seu meio de sustento retirado, facilitando sua submissão às organizações criminosas que atuam na região, que contam, em sua maioria, com a participação de policiais militares e civis”, afirma o Gaeco na denúncia.

A reportagem não localizou a defesa dos acusados. O espaço está aberto para manifestações.

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