Brasileiros sofrem xenofobia na Alemanha com avanço da AfD

Berlim – O avanço do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) nas eleições parlamentares tem sido acompanhado pelo aumento de casos de xenofobia e racismo. A sigla aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para o pleito deste domingo (23/2), acirrando o discurso anti-imigração no país.

Uma reportagem da agência Deutsche Welle (DW) revelou o relato de brasileiros que sofreram discriminação na Alemanha. O caso de Isabel, estudante em Düsseldorf, exemplifica essa realidade. Ao tentar abrir uma conta bancária, um funcionário sugeriu que ela lesse o contrato em inglês. Quando aceitou, ouviu que aquele banco não era para ela e que deveria ir embora. “São experiências assim, nas entrelinhas”, afirmou.


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Imigração e preconceito

Atualmente, a Alemanha abriga 15,6 milhões de imigrantes, representando 19% da população. Segundo uma pesquisa de 2024 da plataforma Statista, 15,3% dos alemães acreditam que os estrangeiros exploram os benefícios sociais do país, enquanto 11% defendem a deportação de imigrantes desempregados.

O sociólogo da Universidade Livre de Berlim, Sergio Costa, associa o crescimento da xenofobia ao discurso político da AfD. “Quando políticos dão esse sinal à população, ela se sente autorizada a tratar mal estrangeiros. Isso não ocorre apenas na Alemanha, mas em outros países europeus onde a direita ganha força”, explica.

Além disso, Costa destaca que partidos considerados mais moderados, como a União Democrata Cristã (CDU), também adotam discursos contra imigrantes para evitar a perda de eleitores para a AfD. O candidato a chanceler Friedrich Merz (CDU), por exemplo, tentou aprovar medidas de rejeição a imigrantes e restrições à reunificação familiar.

Histórico da xenofobia na Alemanha

O crescimento do preconceito contra estrangeiros não começou com a AfD, fundada em 2013. Segundo Costa, a discriminação ganhou força após a reunificação alemã em 1990, período em que regiões industriais da Alemanha Oriental perderam relevância econômica e a diversidade social cresceu.

“A transformação não é aceita por todos. Para alguns, hostilizar estrangeiros é uma forma ilusória de resistir à perda de influência, como ocorre com homens diante do avanço da igualdade de gênero”, analisa Costa.

Ataques e ameaças contra brasileiros

A brasileira Daniela, moradora de Dresden, também sofreu xenofobia. Ela recebeu um panfleto da AfD, semelhante a uma passagem aérea, sugerindo a deportação de imigrantes. “Foi um choque de realidade. Já cuspiram perto de mim e ignoraram meus cumprimentos. No Brasil sou vista como branca, mas isso não me protegeu aqui”, relatou.

O Ministério do Interior da Alemanha registrou um aumento de 813% nas denúncias de xenofobia e racismo entre 2019 e 2023. Entretanto, a Embaixada do Brasil em Berlim não informou se recebeu queixas formais.

A presidente da ONG Janaínas, que apoia brasileiras vítimas de xenofobia, teme que um crescimento da AfD no Parlamento torne a vida dos imigrantes ainda mais difícil. “O receio fará parte do nosso cotidiano. As microagressões vão aumentar, e talvez percamos políticas públicas de proteção”, alerta.

Leis e proteção aos imigrantes

Desde 2006, a Alemanha possui uma lei antidiscriminação que prevê indenizações para vítimas de xenofobia. No mesmo ano, foi criada a Agência Alemã de Antidiscriminação, que presta apoio jurídico e psicológico a imigrantes discriminados.

Com informações do ConJur

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