Pix inspira outros países e Banco Central articula para ampliar alcance do sistema brasileiro

 

Lançado em 2020, o Pix revolucionou o modo como os brasileiros realizam transações financeiras. No ano passado, a ferramenta, criada pelo Banco Central (BC), ultrapassou a marca de 170 milhões de usuários, que movimentaram 26 trilhões de reais por meio de 63 bilhões de transações — um salto de 51% sobre o número de operações de 2023.

Ao cair no gosto popular, o Pix também alçou o Brasil ao segundo lugar no ranking global de países com os maiores sistemas de pagamento instantâneo, atrás apenas da Índia, com cerca de 130 bilhões de transações, segundo a consultoria GlobalData. O sucesso incontestável do Pix atraiu o interesse de nações como a Colômbia e o Canadá. Até os Estados Unidos seguiram um caminho semelhante, criando o FedNow, em 2023.

Atualmente, mais de 70 nações possuem sistemas semelhantes, criando um cenário propício para pensar em uma rede global integrada — uma espécie de Pix mundial. “O Pix tem potencial de se integrar a sistemas internacionais”, afirmou Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, em um evento recente do Banco de Compensações Internacionais (BIS).

Conhecido como o “banco central dos bancos centrais”, o BIS desempenha papel crucial nessa integração ao coordenar a criação de uma ferramenta que promete unir os sistemas instantâneos de sessenta países. A plataforma, chamada de Nexus, está em testes em Singapura, Índia, Malásia, Filipinas e Tailândia. Se for bem-sucedido, o projeto permitirá transações financeiras entre quaisquer pontos do mundo em um piscar de olhos, 24 horas por dia, sete dias por semana. O Nexus ainda não tem data para estrear no Brasil, mas o BC apoia a ideia, por se encaixar na estratégia de internacionalização do Pix.

Enquanto isso, o BC brasileiro conversa com seus pares de Colômbia, Chile, Equador e Uruguai para difundir o sistema brasileiro na América Latina. A expansão, porém, enfrenta desafios significativos, sobretudo no campo regulatório, já que cada país conta com leis e estruturas financeiras próprias, o que dificulta a conexão dos sistemas. “Os bancos precisam falar a mesma língua”, diz Daniel Pontes, fundador da corretora SWAP Câmbio. “Mas, se der certo, permitirá um ambiente seguro e, possivelmente, mais barato para os negócios”.

Enquanto as autoridades buscam uma solução, o Pix já é “exportado” pela iniciativa privada. A PagBrasil foi uma das pioneiras ao estabelecer parcerias com operadoras de maquininhas de outros países. Assim, lojistas no exterior podem aceitar o Pix como forma de pagamento de turistas brasileiros e expatriados. “Recriamos a experiência exatamente como é no Brasil”, afirma Ralf Germer, presidente da PagBrasil, que tem operações na Argentina, no Uruguai, no Chile, no Peru e em países europeus.

Do outro lado do Atlântico, o Braza Bank, banco de câmbio e pagamentos internacionais, levou o Pix para Portugal, um dos principais destinos de brasileiros na Europa. “Se a operação for bem-sucedida, expandir o Pix para outros mercados europeus será mais fácil”, diz Marcelo Sá, diretor de negócios do Braza Bank. Segundo Sá, as trocas via Pix já representam 30% dos pagamentos processados pela instituição por lá.

O Mercado Pago também entrou na jogada e recentemente passou a aceitar o Pix na Argentina. Entre as vantagens que levam lojistas estrangeiros a adotar a ferramenta brasileira está o baixo custo por transação. Enquanto as compras com cartão de crédito no exterior pagam uma taxa de IOF de 3,38%, as feitas por Pix desembolsam apenas 0,38%. Isso coloca o sistema como uma alternativa vantajosa, superando até os cartões de empresas de remessa, que aplicam uma tarifa de 1%.

Seja pelas mãos das empresas, seja via bancos centrais, o fato é que o mercado mundial de pagamentos instantâneos vive uma explosão. Segundo a GlobalData, em 2023, 266 bilhões de transações foram realizadas por meio desses sistemas — um aumento de 42% sobre o ano anterior. O volume correspondeu a 19% de todas as transações eletrônicas do ano retrasado. A consultoria projeta que, em 2028, o mundo realize 575 bilhões de transações instantâneas, que representarão 27% do total de operações financeiras. Cada vez mais, o Pix se firma como peça importante no tabuleiro desse jogo financeiro global.

Fonte: VEJA

 

 

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