Veja as ferramentas ajudam os pais a impor limite para o uso de telas pelos filhos

 

Controle de tempo de tela, limitação de uso de redes e até restrição de quais jogos podem ser baixados no celular. Essas são algumas das funcionalidades de ferramentas que ajudam os pais a impor – ou tentar impor – algum limite para o uso de tecnologia pelos filhos.

Os recursos de controle parental já estão disponíveis no mercado há algum tempo, mas recentemente têm sido expandidos com novas funcionalidades. O Google, por exemplo, lançou um app específico para isso em 2017, seguido pela Apple que, em 2018, passou a oferecer a opção de gerenciamento tempo de iPhones e iPads de crianças e adolescentes.

Desde então, os sistemas oferecidos pelas grandes empresas de tecnologia evoluíram e passaram a oferecer mais opções de personalização. Aplicativos independentes também ganharam espaço como aliados dos pais na tentativa de regular o uso da tecnologia pelos filhos.

No início do mês, o Google atualizou o Family Link, aplicativo de controle parental que é um dos mais populares no segmento, e ampliou a possibilidade de controle dos pais. Um dos novos recursos é o “Horário Escolar”, desenhado para garantir a restrição ao uso de aparelhos durante o período de aulas. Além de restringir o uso do dispositivo, a ferramenta também mostra aos pais se algum app foi acessado no tempo de restrição, e por quanto tempo.

Entre os aplicativos independentes, o Qustodio é um dos mais populares. Além de oferecer controle de tempo e filtragem de apps e conteúdo, a ferramenta lançou no ano passado um sistema de inteligência artificial que identifica mensagens problemáticas recebidas pelos filhos. A tecnologia detecta termos potencialmente violentos, por exemplo, e alerta os pais.

Em geral, os aplicativos de controle parental funcionam de maneira semelhante: os pais criam uma conta, conectam os dispositivos dos filhos e gerenciam permissões e restrições por meio de um painel de controle. A partir dele, podem ajustar limites de tempo, bloquear conteúdos e receber relatórios sobre o uso dos aparelhos.

Nos sistemas que já estão integrados ao celular (como o da Apple, chamado de “Tempo de Uso”), o celular dos filhos já fica vinculado ao do adulto, que pode configurar o uso dos aparelhos.

Para especialistas, essas ferramentas ajudam os adultos a impor limites aos filhos, mas têm elas próprias limitações: nenhuma substitui o papel dos pais na educação digital dos filhos. É no diálogo, e não só no bloqueio, que as crianças aprendem a navegar pelo mundo online, defende Kelli Angelini, cofundadora do Instituto Educando Direito:

— Você precisa começar pela conversa, para explicar que o controle parental é uma forma de proteção e que o excesso de tela causa uma série de prejuízos para a saúde. E aí, juntos, pais e filhos podem chegar a um denominador comum sobre os limites, que mudam ao longo do tempo — afirma a especialista, que é advogada e palestrante.

Autora do livro “Segredos da Internet que crianças e adolescentes ainda não sabem” (Editora Inverso), ela acrescenta que o processo de configurar as limitações pode ser também uma oportunidade de diálogo, para os pais entenderem os interesses dos filhos online, por exemplo. A sugestão da especialista é que o gerenciamento comece desde o momento em que as crianças comecem a ter contato com telas:

— Se os limites são colocados desde sempre, fica mais fácil para a criança entender. E essa é uma obrigação dos pais, de proteger, cuidar e colocar limites. Mas nenhuma ferramenta faz o trabalho sozinha. Precisa vir com um combo de diálogo, acolhimento e combinados.

Angelini ressalta que o avanço das ferramentas de controle veio na esteira de uma pressão maior para que empresas de tecnologia garantam proteção de crianças e adolescentes, o que ressalta que é, ou deveria ser, uma obrigação da indústria.

Alvo de um processo coletivo nos EUA movido por mais de 40 estados, que a acusam de explorar práticas viciantes que prejudicam adolescentes, a Meta anunciou há duas semanas, no Brasil, novas restrições de controle parental para o Instagram.

As novas medidas incluem tornar as contas de menores de 18 anos privadas por padrão, limitar mensagens e aplicar filtros mais rigorosos para reduzir a exibição de conteúdos sensíveis. Pais também poderão acompanhar com quem os filhos interagem e limitar o tempo de uso da plataforma, que só permite cadastros a partir dos 13 anos.

O médico psiquiatra Pedro Pan, pesquisador da Unifesp e do Instituto Ame Sua Mente, diz que a pesquisa sobre o impacto das telas no desenvolvimento de crianças e adolescentes é emergente. A literatura científica, no entanto, já tem evidências suficientes sobre alguns dos prejuízos gerados pelo excesso de telas, ressalta:

— Sabemos que o uso abusivo de telas priva crianças e adolescentes de experiências importantes para desenvolvimento de habilidades e competências, além de reforçar um comportamento aditivo. A própria lógica dos algoritmos é feita para que o usuário acesse cada vez mais. Do ponto de vista clínico, isso traz consequências — afirma o médico, que cita sedentarismo, piora na qualidade do sono e uma rede social mais restrita como algumas das consequências negativas do uso desequilibrado da tecnologia.

O psiquiatra concorda que os limites para o uso de aparelhos devem ser estabelecidos desde cedo. Pan é coautor de uma pesquisa publicada na revista científica Jama Pediatrics que aponta que o uso de tablets na primeira infância pode estar associado a dificuldades na regulação emocional das crianças, criando um ciclo que reforça a frustração e o uso prolongado desses dispositivos.

Uma pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br) publicada na semana passada mostra que há um contato cada vez mais precoce das crianças brasileiras com a internet. Ter um celular próprio também é algo que acontece cada vez mais cedo. Entre 2015 e 2024, o número de brasileiros de 6 a 8 anos com um aparelho saltou de 18% para 36%, segundo a pesquisa.

A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é de que crianças menores de 2 anos não tenham contato com telas. Entre 2 e 5 anos, o tempo deve ser limitado a uma hora diária, sempre com supervisão. Dos 6 aos 10, o ideal é até duas horas, também sob acompanhamento dos pais. Para adolescentes de 11 a 18 anos, a orientação é manter o uso entre 2 e 3 horas por dia. A SBP alerta que ultrapassar quatro horas diárias pode aumentar riscos à saúde e favorecer dificuldades comportamentais entre adolescentes.

Priscila Couto, líder de Segurança e Confiabilidade para a América Latina no Google, defende que as ferramentas de controle parental procuram ir além do bloqueio, e oferecer a possibilidade de cada família, com suas dinâmicas próprias, decidirem como querem colocar limites para a interação digital dos filhos. Ela diz que o desenvolvimento do Family Link, que é parte do trabalho global do time de engenheiros do Google no Brasil, tem sido aprimorado a partir do retorno de pais, educadores e especialistas:

— No meu dia a dia, eu estou literalmente me sentando sempre com essas pessoas para conversar e entender de que forma não só o Family Link, como todos os nossos outros produtos, estão impactando as vidas dos usuários — diz Couto, que ressalta que o app é pensado para se adequar a diferentes necessidades familiares e defende que a proibição completa não é a melhor abordagem — Cada família tem uma dinâmica para a utilização de tecnologia. Nós damos as ferramentas para as famílias decidirem como vai ser a jornada de aprendizagem e de uso das crianças e dos adolescentes da tecnologia.

Qual ferramenta escolher?

• Crianças com Android até 13 anos: Google Family Link

• Crianças acima de 13 anos ou com diferentes dispositivos: Qustodio

• Crianças que usam Windows/Xbox: Microsoft Family Safety

• Famílias no ecossistema Apple: Apple Screen Time

Google Family Link

Como configurar:

1. No celular dos pais, baixe o app Google Family Link (Android ou iOS).

2. No celular da criança, crie ou vincule uma conta Google infantil. Se a criança já tem uma conta Google criada sem supervisão, pode ser necessário redefini-la para ser gerenciada pelos pais, caso contrário, algumas funções podem não funcionar corretamente.

3. Siga as instruções no app para conectar os dispositivos e ativar os controles.

Principais recursos:

• Controle de tempo de tela (diário e horário de dormir).

• Aprovação de novos apps antes do download.

• Filtro de conteúdo para apps, buscas e sites.

• Rastreamento de localização em tempo real.

• Modo Escola (Horário de Aulas) – permite limitar apps durante o horário escolar (disponível apenas no Android, por enquanto).

Observação: O Family Link funciona melhor para crianças até 12 anos. Após essa idade (13 anos), o adolescente pode optar por interromper o uso do controle parental quando quiser, mas os pais são avisados.

Qustodio

Como configurar:

1. Crie uma conta no site do Qustodio.

2. Baixe o app Qustodio nos dispositivos dos pais e da criança.

3. Configure as restrições no painel de controle.

Principais recursos:

• Monitoramento detalhado do tempo de tela e configuração para horário de uso (noturno).

• Bloqueio de apps específicos (ex: YouTube, TikTok).

• Filtros para navegação segura na internet.

• Relatórios de atividades e alertas

• Localização do dispositivo do filho

Microsoft Family Safety

Como configurar:

1. Acesse Microsoft Family Safety via site da Microsoft para gerenciar a conta da criança.

2. Adicione os membros da família e vincule os dispositivos.

3. Baixe o app Family Safety no celular (opcional) para monitorar remotamente.

Principais recursos:

• Controle de tempo de tela no Windows, Xbox e Android.

• Filtro de conteúdo para web e buscas no Microsoft Edge.

• Monitoramento de localização (somente em celulares Android).

• Aprovação de compras na Microsoft Store.

Observação: o controle parental no iPhone/iPad é limitado, pois o recurso tem mais funcionalidades em Windows, Xbox e Android.

Apple Screen Time

Como configurar:

1. No iPhone, iPad ou Mac dos pais, vá para Ajustes > Tempo de Uso.

2. Ative o Compartilhamento Familiar e adicione seu filho

3. Configure as restrições e limites desejados.

Principais recursos:

• Limitação de tempo de tela e horários sem uso (ex: hora de dormir).

• Controle do tempo gasto em apps específicos.

• Aprovação de compras e downloads na App Store.

• Localização do dispositivo via Find My.

Observação: caso a criança ou adolescente já tenha uma conta Apple, ela pode ser vinculada ao Compartilhamento Familiar sem precisar criar uma nova.

Fonte: O Globo

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