“Melhor que laranja é ter o próprio banco”, diz promotor sobre PCC

São Paulo — O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), avalia que o Primeiro Comando da Capital (PCC), a ajuda de agentes corruptos do estado, sofisticou a forma de movimentar o dinheiro resultante de suas atividades criminosos, principalmente o tráfico de drogas, com o qual lucra bilhões de reais por ano.

Gakiya afirmou que o PCC evoluiu do uso de doleiros, para lavar dinheiro do crime —  o qual chegou até a enterrar em “casas cofre” — para a criação de suas próprias instituições financeiras.

“Melhor do que você ter laranjas para poder lavar o seu dinheiro ou montar uma empresa de fachada, é você ter o seu próprio banco. Infelizmente, é isso que a gente está assistindo. O crime organizado já montando as suas próprias instituições […] de acordo com as regras do jogo”.

A declaração de Gakiya — que é jurado de morte pelo PCC, facção a qual investiga há mais de 20 anos — foi feita na manhã desta terça-feira (25/2), quando deu detalhes, em coletiva de imprensa, sobre a Operação Hydra, feita em parceria com a Polícia Federal. Na ação, foi preso o policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior, apontado como fundador e CEO da 2Go Bank,  fintech por meio da qual teria lavada, nos últimos cinco anos, ao menos R$ 6 bilhões do PCC.

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Cyllas Elia foi citado na delação premiada de Vinícius Gritzbach ao MPSP

O policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior, fundador e CEO da fintech 2GO Bank, foi preso durante a operação
Cyllas, que atuou no Deic, foi citado por Gritzbach em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil
Cyllas Salerno
Coletiva do MPSP sobre operação contra fintech ligada ao PCC: Lincoln Gakyia (primeiro à esq.) e o PGJ Paulo Sérgio de Oliveira e Costa (no meio)
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Policial Civil Cyllas Elia já havia sido preso em 2024

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Cyllas Elia foi citado na delação premiada de Vinícius Gritzbach ao MPSP

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O policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior, fundador e CEO da fintech 2GO Bank, foi preso durante a operação

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Cyllas, que atuou no Deic, foi citado por Gritzbach em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil

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Cyllas Salerno

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Coletiva do MPSP sobre operação contra fintech ligada ao PCC: Lincoln Gakyia (primeiro à esq.) e o PGJ Paulo Sérgio de Oliveira e Costa (no meio)

Alfredo Henrique/Metrópoles

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O promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco

Arquivo pessoal/Divulgação

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Quem é o promotor que o PCC planejou matar

Youtube/Metrópoles

Gakiya atribui a criação de fintechs, por parte do crime organizado, a uma deficiência de fiscalização dos órgãos fiscalizadores.

“O que nós estamos vendo hoje é um outro patamar, que atingiu o crime organizado, que se sofisticou nessa engenharia financeira de lavagem [de dinheiro], que começou lá atrás utilizando doleiros, no começo até enterrando dinheiro nas casas cofre, e hoje utilizando brechas legais e muito bem assessorados. Esses criminosos estão, definitivamente, operando no mercado financeiro formal”.

Braço corrupto do estado

A ascensão do PCC a status de máfia, como a define o próprio promotor de Justiça, se deve ao auxílio do “braço corrupto do estado” nas ações da facção criminosa. Gakiya afirmou “causar desconforto” ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) constatar a infiltração do crime organizado nas estruturas governamentais, entre elas as policiais.

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“A presença, infelizmente, desse braço corrupto do estado é o meio necessário para que a organização criminosa [PCC] consiga atingir os seus objetivos, não é? E um deles é a manutenção da defesa do território que eles já ocuparam, é a manutenção dos seus negócios, na lavagem de dinheiro. Então, sem esse braço [do estado], sem essa infiltração nas estruturas do estado, certamente o PCC não teria atingido esse nível que atingiu hoje”.

Como já mostrado pelo Metrópoles, policiais civis e militares estão presos, sob a suspeita de envolvimento com as práticas criminosas da facção — incluindo a lavagem de dinheiro — além de participação direta e indireta no assassinato do corretor de imóveis Vinícius Gritzbach. Ele foi executado no Aeroporto Internacional de São Paulo, na região metropolitana, oito dias após delatar o envolvimento de agentes do estado com a facção criminosa.

Fintechs

As fintechs, como são chamadas as empresas que oferecem serviços financeiros por meio de plataformas on-line, viraram o novo esconderijo do dinheiro de facções que lucram com o tráfico de drogas, como o PCC, de empresários que fogem de dívidas e impostos e até mesmo de casas de apostas envolvidas em esquemas de lavagem.

Ao lado de Gakiya, o promotor Fábio Bechara, que também atua no Gaeco, afirmou nesta terça-feira (25/2) que “os novos meios de pagamentos substituíram o papel de doleiros”, que ganharam fama nos últimos anos ao serem presos por lavar e esconder dinheiro dos grandes escândalos de corrupção no Brasil.

As companhias desse perfil têm vendido abertamente contas blindadas contra bloqueio judicial e rastreamento, deixando os saldos bancários dos clientes invisíveis para o Sistema de Busca de Ativos do Poder Judiciário (Sisbajud), que executa bloqueios em processos judiciais, e até para o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão responsável por identificar transações suspeitas.

Operação Hydra

O policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior foi preso nesta terça na Operação Hydra, deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) e a Polícia Federal (PF) para combater a lavagem de dinheiro ligada à facção criminosa.

A investigação, que mira na atuação das fintechs 2GO Bank e Invbank, foi iniciada a partir da delação de Vinicius Gritzbach, jurado de morte pelo PCC e executado a tiros de fuzil em novembro de 2024 no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.

Cyllas Elia é fundador e CEO da fintech 2GO Bank. Ele já havia sido preso em 26 de novembro do ano passado, durante a Operação Tai-Pan, da PF, contra crimes financeiros que movimentaram R$ 6 bilhões nos últimos cinco anos. O policial foi solto em janeiro após decisão da Justiça Federal, mas estava afastado das funções e responde a um procedimento na Corregedoria da Polícia Civil.

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A investigação, que mira na atuação das fintechs 2GO Bank e Invbank, foi iniciada a partir da delação de Vinicius Gritzbach

O policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior, fundador e CEO da fintech 2GO Bank, foi preso durante a operação
A Operação Hydra tem como objetivo combater a lavagem de dinheiro ligada à facção criminosa
Cyllas, que atuou no Deic, foi citado por Gritzbach em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil
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Operação Hydra, do MPSP e da Polícia Federal, foi deflagrada na manhã desta terça-feira

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A investigação, que mira na atuação das fintechs 2GO Bank e Invbank, foi iniciada a partir da delação de Vinicius Gritzbach

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O policial civil Cyllas Salerno Elia Júnior, fundador e CEO da fintech 2GO Bank, foi preso durante a operação

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A Operação Hydra tem como objetivo combater a lavagem de dinheiro ligada à facção criminosa

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Cyllas, que atuou no Deic, foi citado por Gritzbach em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil

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Quem é o policial preso em operação que mira fintechs ligadas ao PCC

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De acordo com o MPSP, Gritzbach “jogou luz na atuação de fintechs para o branqueamento de bens e valores oriundos de atividades criminosas”. Essa é uma das frentes das investigações realizadas pela PF, cujo objetivo é desarticular esquema de lavagem de dinheiro por meio das instituições de pagamento.

Em resumo, duas empresas ofereciam serviços financeiros de forma alternativa às instituições bancárias tradicionais, movimentando valores ilícitos. Elas constituíram engenharia financeira complexa para velar os reais beneficiários.

A PF e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPSP, cumpriram um mandado de prisão preventiva e dez mandados de busca e apreensão em endereços nas cidades de São Paulo, Santo André e São Bernardo.

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