Pompeia alaga mesmo com obra milionária e estudo entregue há 6 anos

São Paulo — Alagamentos na região da Avenida Pompeia, na zona oeste de São Paulo, são históricos e já consumiram recursos milionários na década passada, sem resolver o problema. Há seis anos, a prefeitura foi informada sobre a necessidade de intervenções complementares para reduzir os efeitos das enchentes. Mas, até o momento, nada foi feito.

A situação preocupa moradores, comerciantes e até mesmo futuros usuários da Linha 6-Laranja do metrô, porque um dos pontos críticos fica justamente onde está em construção a estação Sesc-Pompeia, na altura da Rua Venâncio Aires, com previsão de entrega para o ano que vem. A estimativa é a de que mais de 630 mil passageiros utilizem a linha diariamente.

Em 2013, durante a gestão de Fernando Haddad (PT), teve início a obra que prometia acabar com as enchentes na região, com a construção de duas novas supergalerias nos córregos Água Preta e Sumaré, em um projeto orçado à época em R$ 143 milhões. Ambas serviriam para dar um incremento de vazão que resolveria o problema no local e traria mais segurança em dias de chuva.

Entretanto, as obras foram concluídas em 2016 e não resolveram a situação por completo. Em 2019, durante a gestão Bruno Covas (PSDB), que assumiu no lugar do também tucano João Doria, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb) publicou um caderno com 236 páginas, onde aponta os motivos pelos quais a região ainda sofria com as enchentes, apesar da obra entregue na gestão Haddad.

De posse das informações que constam no estudo, a gestão Ricardo Nunes (MDB) também não fez nada a respeito nos anos seguintes.

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Avenida Pompeia, na zona oeste de São Paulo

Obras da Estação Sesc-Pompeia, da Linha 6-Laranja de metrô, em São Paulo
Obras da Estação Sesc-Pompeia, da Linha 6-Laranja de metrô, em São Paulo
Obras da Estação Sesc-Pompeia, da Linha 6-Laranja de metrô, em São Paulo
Superfície da galeria do Córrego Água Preta, na Pompeia, na zona oeste de São Paulo
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Rua Venâncio Aires, na Pompeia, na zona oeste de São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

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Avenida Pompeia, na zona oeste de São Paulo

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Obras da Estação Sesc-Pompeia, da Linha 6-Laranja de metrô, em São Paulo

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Superfície da galeria do Córrego Água Preta, na Pompeia, na zona oeste de São Paulo

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Grelha de drenagem na Avenida Pompeia, na zona oeste de São Paulo

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Avenida Pompeia, na zona oeste de São Paulo

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Avenida Pompeia, na zona oeste de São Paulo

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Rua Venâncio Aires, na Pompeia, na zona oeste de São Paulo

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“A obra executada reduziu as inundações que atingem a bacia, em especial para o trecho de jusante [fluxo normal da água], nas avenidas Francisco Matarazzo, Pompeia e Turiassú [atual Palestra Itália], porém restaram pontos inundáveis importantes, como a Rua Venâncio Aires”, diz trecho do caderno, que cita a “deficiência no sistema de captação, constituído pelas grelhas e pelo sistema de microdrenagem” como parte do problema.

Na prática, o estudo realizado pela Siurb e pela Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica mostrou que, basicamente, a água fica represada na superfície sem chegar até as supergalerias, que, por isso, funcionam parcialmente. Ou seja, é como se o ralo fosse pequeno demais, embora a tubulação seja grande.

Além disso, os cadernos apontam outro agravante: se as grelhas estiverem com 30% de sua área ocupada por detritos, dobra o acúmulo de água na superfície, durante um forte temporal. Ou seja, é necessária limpeza urbana impecável em toda a região para que a enxurrada não entupa as grelhas e bocas de lobo.

Soluções

Uma série de soluções foram apresentadas pelo estudo recebido pela prefeitura em 2019, como: a interligação de galerias antigas às novas; aumento da capacidade de engolimento das bocas de lobo; galeria de reforço complementar a partir da Rua Venâncio Aires; ampliação da galeria do Água Preta por 100 metros na Avenida Pompeia, em trecho sob a Avenida Francisco Matarazzo.

A galeria de reforço da Venâncio Aires, na rua da futura estação de metrô, começaria na altura da Rua Dr. Augusto de Miranda, seguiria até a esquina com a Pompeia, onde viraria à esquerda, em direção à Palestra Itália. Hoje, o local vira um rio durante os temporais.

Atualmente, as galerias novas e antigas correm em paralelo e funcionam de forma independente. Por esse motivo, por exemplo, a antiga galeria do Água Preta fica sobrecarregada, mesmo que a nova tenha capacidade de sobra no momento.

Para um grau confiável de proteção hidrológica e no limite da ocupação do solo, seriam necessárias outras intervenções, como a construção de parques lineares e galerias-reservatórios, entre outros.

Outras alternativas mais básicas apontam também para a necessidade de construção de três reservatórios.

No fim de 2023, a prefeitura arrecadou R$ 234 milhões com títulos de Certificado de Potencial Adicional de Construção (Cepacs) da Operação Urbana Água Branca. Parte desse valor deveria seguir para as obras complementares do sistema de drenagem na área dos córregos Água Preta e Sumaré. Desse total, segundo a prefeitura, 0,26% (R$ 613 mil) serão destinados a projetos de canalização do Água Preta.

Zonas inundáveis

O estudo também aponta para a necessidade de “medidas não estruturais” para adequar a convivência da população com as cheias. “Visam reduzir os danos das inundações a partir de leis, regulamentos, planos e programas, tais como o disciplinamento do uso e ocupação do solo, a implementação de sistemas de alerta e o desenvolvimento de planos de contingência para atuar em emergências”, diz.

O caderno aponta para a importância da criação de “zoneamento de inundações” “como parte do processo de controle de cheias no Município de São Paulo”. Entre áreas livres de alagamento e outras que não devem ser ocupadas senão por parques e campos não impermeabilizados, o estudo diz que algumas podem ser usadas com restrições.

Em áreas restritas, a legislação deve orientar a população sobre a necessidade de uma série de medidas, que vão desde a vedação de portas e janelas até um projeto de sistema de esgoto que leve em consideração o fato de que a água pode subir.

Boa parte da cidade de São Paulo foi construída sobre as áreas alagáveis de córregos e rios que foram enterrados com a urbanização intensa.

As regiões do córregos Água Preta e Sumaré têm passado por transformação significativa nos últimos anos, com a demolição de pequenas casas para a construção de prédios. Como exemplo, só no primeiro semestre do ano passado, Perdizes e Lapa tiveram o lançamento de 880 apartamentos.

O que diz a prefeitura

A Prefeitura de São Paulo diz, por meio da SPObras, que está em andamento a elaboração dos projetos básicos e executivos para a drenagem complementar das bacias dos córregos Água Preta e Sumaré, como parte da Operação Urbana Água Branca.

“A previsão é que as obras sejam licitadas neste ano. Outras quatro intervenções como os reservatórios da Praça Irmãos Karman, Caiubi, Venâncio Aires e Praça Rio dos Campos estão previstas no Plano de Ação 2025-2040 da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e devem ocorrer de acordo com o sistema de hierarquização do plano, baseado em aspectos técnicos e objetivos”, afirma, em nota.

A prefeitura diz que faz a limpeza periódica na região com desobstrução de bocas de lobo, poços de visitas e galerias. “Em 2024, foram limpos 3.059 metros de galerias e ramais e 618 bocas de lobo e poços de visitas. Também foram reformadas 4.110 bocas de lobo e poços de visitas, além de grelhas trocadas”, afirma.

Já a SP Urbanismo diz que foram liberados R$ 613.473,15 da Operação Urbana Água Espraiada para os projetos da canalização do Córrego Água Preta, recursos provenientes da outorga onerosa.

“O adensamento construtivo e populacional na região segue as diretrizes do Plano Diretor Estratégico e da Lei de Zoneamento, elaborados em 2014 e 2016, respectivamente. Em 2023, a gestão municipal atualizou essas normas, adotando parâmetros mais rigorosos para garantir qualidade ambiental, permeabilidade do solo e eficiência da drenagem urbana em novas construções”, diz.

O ex-prefeito e atual ministro Fernando Haddad (PT) foi procurado, mas não se manifestou até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto.

O que diz a LinhaUni

A concessionária Linha Uni, da Acciona, diz que para a construção de todas as estações de metrô é necessário realizar estudos hidrológicos, nos quais são feitos cálculos do tempo de recorrência das chuvas e dos fatores de acumulação, com o objetivo de identificar e prever o nível de elevação em relação a possíveis inundações.

“Assim, a arquitetura da infraestrutura de mobilidade é planejada considerando o nível máximo de água devido às chuvas que podem ser registradas na região utilizando um tempo de recorrência adequado”, diz.

No caso da estação SESC Pompeia, a Linha Uni afirma que, “como é de conhecimento geral”, a área tem um histórico de alagamentos durante a época das chuvas, o que fez com que fosse construída de “forma adequada com maior altura, bem como seus acessos havendo uma compatibilização dos níveis através de escadas, muros, rampas, entre outros”.

Sobre o alagamento registrado em 24 de janeiro, a Linha Uni diz que “não houve danos e nem atrasos ao cronograma da obra. Já sobre a ação do Corpo de Bombeiros, a corporação foi chamada por moradores próximos ao local e não houve feridos e nem funcionários resgatados”.

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