Aprenda sobre o que é melanoma, como é diagnosticado e como preveni-lo

 

O melanoma é a forma mais perigosa de câncer de pele porque, em estágios mais avançados, pode se espalhar pelo corpo e, em uma pequena porcentagem de casos, levar à morte.

Essa preocupação tem levado muitas pessoas a se consultarem sobre o tema. Diante disso, os diagnósticos de melanoma aumentaram drasticamente ao longo dos anos, mas as taxas gerais de mortalidade permaneceram estáveis. Este pode ser um sinal de que não há uma epidemia desse tipo de câncer, mas que, em alguns casos, pacientes podem estar sendo diagnosticados em excesso.

Essa premissa vem sendo identificada nos Estados Unidos, onde mais de 80 mil norte-americanos são informados todos os anos que têm câncer de pele melanoma. Se isso parece muito, é porque os números são seis vezes maiores do que eram há 40 anos. No entanto, em vez de ser resultado do aumento dos fatores de risco ambientais ou de uma detecção mais completa, os especialistas atribuem cada vez mais o salto ao excesso de diagnóstico.

Já no Brasil, os dados contrariam essa tendência norte-americana, já que não há tantas pessoas sendo examinadas e sim, um aumento real da doença.

Casos de melanoma no Brasil

De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2019 o Brasil teve em média cerca de 6 mil novos casos de melanoma, sendo quase 3 mil em homens e 3,34 mil em mulheres, como publicado em um artigo do Hospital A.C.Camargo, referência de tratamento de câncer em São Paulo.

Já um levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica na base Cancer Tomorrow, da Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta que as mortes no Brasil por melanoma podem saltar de 2,2 mil registradas em 2020 para 4 mil em 2040.

Esse número está acima da média mundial de aumento de 57% na comparação dos dois anos, mostrando que a realidade brasileira é bem diferente da de outros países – inclusive, por ser um país onde muitas pessoas se expõe ao sol, voluntária e involuntariamente, além de estar sofrendo com fortíssimas ondas de calor.

Como é feito o diagnóstico do melanoma?

Quando os dermatologistas notam manchas na pele de um paciente sobre as quais não têm certeza, eles fazem uma biópsia e a enviam para um patologista, que analisa as células em um microscópio de alta potência. Se o diagnóstico for de câncer, o paciente volta ao médico para remover todo o tumor e uma pequena área ao redor dele.

“Dependendo do caso, é uma cirurgia maior, com uma cicatriz maior” do que a amostra da biópsia, afirma Nicholas Gulati, diretor da Clínica de Detecção Precoce de Câncer de Pele da Icahn School of Medicine at Mount Sinai, em Nova York, nos Estados Unidos.

Em muitos casos, o diagnóstico de melanoma é um julgamento feito pelos patologistas. “Em todos os sistemas de órgãos – não apenas na pele –, há coisas que parecem câncer sob o microscópio”, mas que na verdade não se comportam como câncer, explica Earl Glusac, pesquisador de dermatopatologia do Yale Cancer Center, que vem revelando suas preocupações sobre o diagnóstico excessivo de melanoma há mais de uma década.

Pode parecer câncer, mas nem sempre é: existe mesmo um excesso de diagnósticos de melanoma?

Segundo a conclusão de um artigo de revisão, os padrões existentes não conseguem distinguir adequadamente os crescimentos da pele que são realmente inócuos. Ou seja, o fato de que muitos desses crescimentos sejam de fato inofensivos foi documentado em um estudo publicado em junho de 2024.

O material chegou ao resultado de que as pessoas com melanoma in situ vivem mais do que aquelas sem o diagnóstico, o que indica “detecção significativa de doença de baixo risco entre indivíduos que buscam saúde”.

Já outro artigo recente publicado na revista científica BMJ Evidence-Based Medicine acrescenta evidências crescentes de que a maioria das pessoas nos Estados Unidos está recebendo diagnósticos de melanoma desnecessariamente. A pesquisa sugere que, embora as células obtidas por biópsia da pele possam parecer anormais ao microscópio, é improvável que elas causem problemas de saúde atuais ou futuros.

“Não creio que um número suficiente de pessoas compreenda o alcance potencial do excesso de diagnóstico de melanoma. É bastante alarmante”, diz o principal autor do estudo, Adewole Adamson, dermatologista da Dell Medical School da Universidade do Texas em Austin. “Você está detectando tumores que nunca teriam causado danos”.

Nesta investigação, os pesquisadores concluíram que 65% das mulheres brancas e 50% dos homens brancos são diagnosticados com câncer de pele em excesso nos Estados Unidos depois de compararem as taxas de mortalidade geral com o risco ao longo da vida de receber um diagnóstico de melanoma. O estudo foi limitado a pessoas brancas, pois é um grupo com probabilidade significativamente maior de desenvolver a doença.

A maior categoria de diagnósticos excessivos, mais de 85%, ocorreu com as manchas mais finas na camada mais externa da pele, conhecidas como estágio 0 ou cânceres in situ, segundo o estudo.

O diagnóstico excessivo é um dos problemas mais prejudiciais e caros da medicina, de acordo com um editorial publicado há vários anos. Isso ocorre porque ele leva a tratamentos desnecessários, com os custos financeiros e as cicatrizes resultantes. E as pessoas que ficam sabendo que têm câncer geralmente passam por um medo intenso que pode durar a vida inteira.

“Os pacientes falam sobre seu medo de morrer, medo do sol, medo de que o câncer volte. Alguns tomam decisões drásticas sobre se vão se casar ou ter filhos”, comenta Adamson. “Estamos prejudicando um número significativo de pessoas”.

Como fazer a prevenção do melanoma

Enquanto um painel de especialistas da Força-Tarefa de Saúde Preventiva dos Estados Unidos (U.S. Preventive Services Task Force), entidade independente de especialistas dedicados a cuidados primários e prevenção, concluiu que não recomendava exames regulares de câncer de pele para todos os norte-americanos em abril de 2024, alguns grupos como a Skin Cancer Foundation (entidade sem fins lucrativos dedicada a educar a população sobre o câncer) defendem exames anuais de pele.

Já a American Academy of Dermatology, composta por profissionais da área médica, não adota essa posição, mas o grupo incentiva seus membros a realizar exames periódicos entre o público em geral em suas comunidades.

No caso do Ministério da Saúde do Brasil, a recomendação principal é, primeiramente, restringir a exposição ao sol, em especial no horário das 10h às 16h, quando os raios são mais intensos.

A entidade também sugere procurar lugares com sombra, usar proteção adequada como roupas, bonés ou chapéus de abas largas, óculos escuros com proteção UV, sombrinhas e barracas mesmo durante outros horários do dia, de modo a diminuir potencialmente a incidência do sol na pele. Deve-se estar atento a estes pontos principalmente durante ondas de calor e nos meses de verão.

O órgão brasileiro também recomenda aplicar na pele um protetor solar com fator de proteção de no mínimo 15, e também usar um filtro solar próprio para os lábios – tudo antes de se expor ao sol.

Já no que se refere à atuação do profissional de saúde, os médicos concordam que as pessoas devem examinar regularmente a própria pele e procurar um dermatologista se virem alguma mancha nova ou que esteja mudando, ou que esteja coçando ou sangrando. É importante que esses crescimentos sejam avaliados com uma biópsia, pois o médico não pode dizer se é um câncer invasivo apenas olhando para ele, diz Gulati.

Adamson, por sua vez, sugere que os dermatologistas sejam honestos com os pacientes sobre a falta de ciência por trás dos exames regulares de corpo inteiro. Ele também comenta que seria necessário realizar um grande estudo clínico de longo prazo que acompanhe as pessoas que fazem o exame e as que não fazem, para determinar se há, de fato, algum benefício para a saúde em encontrar e remover esses cânceres em estágio 0.

Fonte: National Geographic Brasil

 

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