Carnavais, Brasil e inflação (por Roberto Caminha Filho)

Se tem uma coisa que o brasileiro faz bem, é festa. O problema é quando a comemoração continua bem depois do bloquinho ter passado e a realidade bate à porta. Mal acabaram as eleições para presidente da República, e os dirigentes políticos seguem em ritmo de celebração. Gastos excessivos, eventos luxuosos, discursos que mais parecem ecoar slogans de campanha, e, claro, muita pose para fotos. Mas enquanto eles fazem festa, quem paga a conta?

E enquanto os discursos inflamados continuam, os problemas também seguem firmes e fortes. A Petrobras, nossa gigante do setor de energia, já dá sinais de fraqueza. Não é fácil administrar uma empresa quando se tenta conciliar a incompetência de maus políticos com uma gestão duvidosa. O resultado? Os números começam a cair, os investidores coçam a cabeça e o brasileiro se prepara para sentir o impacto no bolso, como sempre.

A imprensa, que antes parecia tão alinhada, agora começa a dar os primeiros sinais de rebeldia. Talvez tenha percebido que apoiar cegamente não paga as contas, e um pouco de distanciamento pode resgatar alguma credibilidade. Quem diria? Até os amigos da velha mídia resolveram tirar o pé do acelerador da bajulação. Eos alertas já começaram: Vem aí o Dragão da Inflação.

Enquanto isso, se Roberto Campos e Eugênio Gudin estivessem vivos, certamente teriam muito a dizer sobre a economia do país. Campos, com sua ironia afiada e sua defesa do liberalismo econômico, provavelmente comentaria que “o Brasil não perde uma oportunidade de perder oportunidades”. Já Gudin, o pioneiro da economia liberal no Brasil, talvez alertasse para os perigos do Estado inchado e da interferência excessiva nos mercados. A amizade entre os dois economistas era baseada na convicção de que o Brasil precisava de menos governo e mais mercado, um conceito que parece ainda distante da realidade política atual.

Roberto Campos, conhecido como “Bob Fields” por seus críticos, era um defensor ferrenho do livre mercado e da modernização econômica. Para ele, o problema do Brasil era o excesso de intervencionismo e a resistência a reformas estruturais. Seu humor ácido o fazia declarar que “o Brasil tem excesso de passado no presente e excesso de presente no futuro”.

Já Eugênio Gudin, considerado um dos pais da economia liberal no Brasil, foi um dos primeiros intelectuais a advogar por uma economia baseada na livre iniciativa e na redução da intervenção estatal. Para Gudin, a inflação era um reflexo direto da falta de disciplina dos governos, algo que, décadas depois, continua sendo um problema recorrente no Brasil.

Ambos economistas acreditavam que o país deveria reduzir a burocracia, abrir-se ao comércio internacional e criar um ambiente favorável ao investimento privado. No entanto, suas ideias sempre esbarravam em uma cultura política que via o Estado como principal agente do desenvolvimento. Economia, no nosso Brasil, ainda é puro ôba ôba.

O Roberto Campos passou a vida dizendo:

O Plano Cruzado nos treinou para entender uma coisa:

“Se a inflação é a alta dos preços, então, o culpado é o empresário. E não é. Inflação é a expansão monetária, então, o culpado é o Governo”.

O Governo passa a imprimir dinheiro e espalhar bondades com dinheiro podre, e o excesso de papel no mercado, faz os preços se elevarem…naturalmente.

No leito, preparando-se para a grande viagem, o Professor Gudin falou a Roberto Campos:
“Roberto, o Brasil foi a amante que mais amei e a que mais me cor-ne-ou”

Eram dois sábios e gozadores. Eu tive o prazer de sentar ao lado do Professor Roberto Campos, em um voo do Rio até Brasília. Ele conhecia mais da minha terra do que eu. Muito mais.

No meio desse furacão, o brasileiro segue sua rotina. Tenta equilibrar o orçamento, lidar com preços que só sobem, encarar um transporte público lotado e sonhar com um futuro onde governar signifique algo além de discursos vazios e eventos caros. Porque, no fim das contas, não adianta celebrar uma vitória se o país inteiro sai perdendo. Acima de todo esse apocalipse, existe o crescimento acelerado do crime organizado.

 

Roberto Caminha Filho, economista, espera, na rede, o dia em que um Presidente brasileiro tenha o espírito da inglesa Margareth Tatcher, ou da alemã Angela Merkel.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.