Bolsonaristas silenciam sobre Oscar e passam Carnaval atacando Moraes

São Paulo – Em meio à comoção pelo primeiro Oscar brasileiro e as ruas tomadas por blocos de Carnaval, os bolsonaristas silenciaram sobre a conquista do filme “Ainda Estou Aqui” e passaram o feriado criticando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

O filme trata do caso do assassinato do ex-deputado Rubens Paiva, um desafeto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apoiador da Ditadura Militar.

Os últimos dias da família Bolsonaro foram tomados pela mobilização contra a possibilidade de apreensão do passaporte do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Moraes é atacado por ter encaminhado à Procuradoria Geral da República uma queixa-crime do PT, que pede a apreensão do passaporte do parlamentar sob a justificativa de que atua no exterior para impor sanções ao Brasil por parte dos Estados Unidos. Por ora, o ministro não emitiu ordem alguma e apenas pediu manifestação do órgão.

No sábado (2/3), Eduardo postou uma montagem de Moraes com a frase, em francês, que diz: “O estado sou eu”. A frase é atribuída ao rei Luís XIV (1638-1715), que ficou conhecido como rei-sol, devido à concentração de poder sobre sua figura na época.

Posteriormente, o deputado fez uma série de postagens em que elogia os Estados Unidos e interage com membros do governo daquele país, como o bilionário e chefe do Departamento de Eficiência Governamental, Elon Musk. “Ele está fora de controle”, disse o parlamentar a Musk, em um post sobre uma brasileira naturalizada norte-americana que teve ordem de prisão expedida.

O ex-presidente Jair Bolsonaro e outros dois de seus filhos — o senador Flávio Bolsonaro (PL) e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL) — seguiram na mesma toada. “A possível apreensão do passaporte do tarDeputado Eduardo Bolsonaro visa criar constrangimento, ou instruir ação judicial para impedi-lo de assumir a Comissão de Relações Exteriores”, escreveu o ex-mandatário.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL) afirmou que a “mera cogitação em suspender o passaporte de um Deputado Federal  é mais um crime contra a democracia cometido por Alexandre de Moraes”. Antes da vitória, ao ser questionado sobre “Ainda Estou Aqui”, Nikolas afirmou que não torceria contra o filme.

Apenas uma minoria de parlamentares se referiu ao filme. Um dos que se manifestou sobre vitória do Oscar, que mobilizou o país, foi o deputado federal Marco Feliciano (PL), que criticou a politização do filme.

“O filme brasileiro “Ainda estou aqui”, infelizmente perdeu as duas mais importantes e mais esperadas estatuetas: a de melhor atriz e a de melhor filme. Ganhou a estátua de melhor filme internacional. Parabéns a produção e parabéns a atuação. Se não tivesse sido tão politizado, quem sabe não teria levado as demais?”, escreveu.

O senador fluminense Carlos Portinho (PL) fez um post comemorando a vitória, foi criticado por alguns nos comentários e, pouco tempo depois, postou que o Brasil ainda tem presos políticos e criticou a “concentração de poderes na mão de um Tirano” e disse que “aqui Democracia não é”.

O deputado Bibo Nunes (PL-RS) elogiou o filme, mas apagou o comentário. O político manteve publicação em que afirma esperar que o filme “não tenha usado verba pública, pois o Diretor Walter Salles é um milionário”.

Embora tenha se mantido longe das críticas a Moraes, o governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), da ala vista como mais moderada do bolsonarismo, foi outro que não se manifestou sobre a vitória do filme que mobilizou o país. Antes do anúncio Oscar, no sábado, o governador se concentrou em postagens sobre policiais que fizeram prisões vestidos de Power Rangers, em um momento que a Polícia Civil é assolada por casos de corrupção. No dia seguinte, suas redes não fazem menção ao tema.

Embora apoiador de Bolsonaro, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), comemorou o feito. “Parabéns a todos pelo Oscar de Melhor Filme Internacional, ‘Ainda Estou Aqui’, a estatueta de ouro é nossa! Mais um orgulho em ser brasileiro, a cidade de São Paulo está em festa!”, escreveu Nunes.

Nos blocos de Carnaval que tomaram as ruas de São Paulo, houve exaltação à vitória do filme dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres e pedidos de prisão de Bolsonaro. O tradicional bloco Charanga do França, que desfila nas ruas do bairro da Santa Cecília (centro), contou uma marchinha que dizia “Prende, prende, prende Bolsonaro”.

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