Desaparecidos: como a PF descobre o paradeiro de pessoas que somem

Na busca por pessoas desaparecidas, a Polícia Federal (PF) se vale de uma série de bancos de dados cujo acesso, por conter informações sensíveis, são normalmente restritos à corporação.

Utilizando recursos de inteligência, a PF cruza informações sobre movimentações financeiras, registros migratórios e atualizações cadastrais, permitindo identificar padrões ou encontrar pistas que auxiliem na solução dos casos.

A iniciativa da PF para centralizar e padronizar a investigação de desaparecimentos no Brasil e no exterior é o Projeto Lumini. Criado em 2023, ele busca agilizar a localização de pessoas desaparecidas ao integrar diferentes bases de dados e coordenar esforços entre órgãos de segurança.

Um dos eixos de atuação do projeto é a busca por pessoas desaparecidas vivas. Normalmente, os agentes são acionados para esses casos pelos estados quando a Polícia Civil não consegue solucioná-los.

As estratégias utilizadas pela PF

Para encontrar pessoas vivas com status de desaparecidas, a PF utiliza um conjunto de bancos de dados para reunir informações que podem indicar seu paradeiro. Dentre as principais táticas empregadas estão:

  • Verificação de emissão de novos documentos: Caso a pessoa tenha solicitado um novo CPF ou passaporte após o desaparecimento, essa informação pode ser um indicativo importante sobre sua localização;
  • Consulta a registros migratórios: A PF pode identificar se a pessoa viajou para o exterior, se embarcou em algum voo ou se foi barrada na imigração ao tentar ingressar ilegalmente em outro país;
  • Análise de movimentações financeiras: Se o desaparecido recebeu auxílio emergencial, esse registro pode ser analisados para identificar sua possível localização;
  • Atualização cadastral: Mudanças de endereço e novos números de telefone vinculados ao CPF do desaparecido são monitorados para entender se há alguma movimentação recente;
  • Monitoramento de atividades digitais suspeitas: Em alguns casos, a PF verifica se o desaparecido passou por sites associados à exploração sexual ou outras atividades ilícitas.

Carro da Polícia Federal da Paraíba.

Resultados
Como mostrou a coluna, até o momento, o Projeto Lumini já recebeu 3.971 casos de desaparecimento, tendo solucionado 1.433. Os números incluem desaparecidos tanto em território nacional quanto no exterior.

Nas hipóteses de desaparecimentos fora do Brasil, a Polícia Federal trabalha em parceria com a autoridades locais. Como mostrou a coluna, a corporação tem 32 casos desse tipo, espalhados em 21 países como Rússia, Estados Unidos, Itália, Paquistão e Venezuela. Do total, 10 foram solucionados nos últimos dois anos.

O projeto Lumini

As denúncias sobre desaparecidos chegam à PF, via de regra, por meio da Polícia Civil, Institutos de Identificação e Medicina Legal, além de canais externos. O Serviço de Repressão a Crimes de Ódio e Tortura (SERCOT) fica responsável pela coordenação das investigações e pelo processamento do fluxo de trabalho.


A operação se divide em quatro eixos principais:

  • Pessoas desaparecidas vivas: Quando a Polícia Civil não consegue solucionar um caso, a PF passa a atuar, oferecendo apoio com informações de inteligência e auxiliando nas investigações estaduais
  • Pessoas não identificadas: Indivíduos sem documentação, encontrados em institutos de identificação, têm seus dados analisados pelo sistema da PF, que busca correspondências em bancos de dados para confirmar identidades
  • Pessoas identificadas, mas não reclamadas: Corpos identificados que não foram reclamados por familiares são rastreados para localizar parentes
  • Desaparecimentos internacionais: A PF auxilia na busca de brasileiros desaparecidos no exterior e estrangeiros desaparecidos no Brasil

Os casos são recebidos pela PF via e-mail, que dão origem a um processo interno, que vai tramitando dentro da corporação.

No geral, a corporação não abre inquéritos policiais para cuidar de desaparecidos, salvo nos casos em que, ao longo da apuração, haja indícios de que haja algum crime envolvido como sequestro, tráfico internacional de pessoas ou cárcere privado.

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