PMs roubaram celular de jovem após abuso para eliminar provas, diz mãe

São Paulo – Os dois policiais militares presos sob suspeita de estuprar uma jovem de 20 anos, dentro de uma viatura quando estavam de serviço — domingo (2/3) em Diadema, Grande São Paulo — também são acusados de roubar o celular e outros itens da vítima.

A moça havia ido para um bloco de carnaval em Santo André, no ABC. Depois disso, os PMs ofereceram-lhe uma carona até Diadema. O crime sexual teria ocorrido logo após. A jovem foi encontrada machucada e está à base de calmantes, segundo a mãe.

O padrasto da vítima recebeu áudios e vídeos, nos quais ela pedia ajuda e afirmava ter sido estuprada pelo soldado Leo Felipe Aquino da Silva e o cabo James Santana Gomes, ambos do 24º Batalhão, de Diadema. Um do registros foi obtido com exclusividade pelo Metrópoles (assista abaixo).

Segundo registrado pela própria PM, em uma ligação feita pelo familiar da vítima ao telefone 190, a última mensagem enviada pelo celular da vítima ao familiar teria ocorrido por volta das 22h.

Vídeo

 

“Roubaram tudo de minha filha, deixaram minha filha numa rua descampada, ela não sabe dizer onde, estava muito escuro”, afirmou à reportagem a mãe da jovem, sobre o momento no qual foi deixada pelos policiais na Rodovia Anchieta e seus celular e bolsa foram supostamente levados pelos PMs.

A jovem então começou a entrar na frente de carros, com o intuito de que algum lhe desse carona para sair do local. “Ela ficou sem sapato, sem documento, sem o óculos de grau, sem o Iphone dela, roubaram o telefone dela, roubaram tudo dela, é inadmissível”. Um homem deu carona para a moça até o 26º DP (Sacomã).

Para a mãe da vítima, o fato de os policiais levarem o celular gera desconfiança. “Nele tinham mais vídeos, que ela não conseguiu encaminhar para mim. Se eles são inocentes [como alegam os policiais] porque ficaram com o telefone dela?  Claro que eles [PMs] descartaram todos os pertences da minha filha, incluindo o telefone”. Até o momento, o smartphone da vítima não foi localizado.

Além do celular e bolsa, foram roubados da jovem um óculos de grau, um cartão bancário, um carregador de Iphone, além de R$ 14.

Fábio Tomaz, advogado dos PMs, afirmou em nota, nesta quarta-feira, ter “inabalável confiança” na inocência de seus clientes, a qual “será demonstrada ao final das investigações”.

Ele acrescentou que a versão dos policiais será colhida “no momento processual oportuno”, segundo o defensor, como “estratégia jurídica”.

O abuso

Com a viatura estacionada, segundo relatado pela vítima em depoimento – que está em segredo de Justiça – o PM que estava no banco do passageiro desembarcou e foi para o assento traseiro, onde a vítima estava, e começou a acariciá-la. “Ela ficou com muito medo, porque os dois são policiais e estavam armados e usando muito álcool”, afirmou a mãe da jovem.

Ela acrescentou que, conforme relatado pela filha, o PM que a acariciava chamou o motorista da viatura para ir para o banco traseiro, onde ambos teriam abusado sexualmente da jovem.

“Fizeram com ela tudo o que se possa imaginar em nomenclatura de sexo, mas nem vou comentar, porque está registrado no depoimento dela.”

Após o estupro, os dois policiais voltaram para os bancos dianteiros do carro da PM e começaram a circular. Foi nesse momento que a vítima começou a enviar os áudios e o vídeo, no qual fala sobre o abuso. “Ela ficou transtornada falando que queria ir pra casa, porque tinham abusado dela.”

Antes do crime, a jovem havia informado seu endereço residencial aos policiais. Ambos, porém, como o vídeo feito pela vítima mostra, afirmam não saberem onde ela mora.

3 imagens

Vítima aceitou carona dos PMs antes do crime

Soldado e cabo foram presos
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Vídeo foi feito após suposto estupro

Arquivo Pessoal

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Vítima aceitou carona dos PMs antes do crime

Arquivo Pessoal

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Soldado e cabo foram presos

Deixada em rodovia

No início da madrugada de segunda-feira (3/3), um oficial da PM recebeu os vídeos da jovem dentro da viatura. Ele afirma, conforme registros oficiais, não existir “ato libidinoso nas imagens”, acrescentando que, “porém, o último contato dela com o familiar foi às 22h [de domingo]”.

Os dois policiais apontados pela jovem como autores do suposto abuso foram encontrados posteriormente e, indagados, afirmaram ter “prestado apoio à moça”, acrescentando que ela, supostamente, “entrou em surto na viatura”.

Eles negam ter abusado sexualmente dela e, em decorrência do suposto surto, solicitaram que ela desembarcasse do carro policial, nas proximidades da Rodovia Anchieta. O soldado Leo e o cabo James portavam câmeras corporais, e as imagens serão analisadas pela Corregedoria da PM.

A reportagem apurou que a jovem foi deixada em um descampado, descalça, e que os PMs levaram os pertences dela embora, incluindo o celular.

A jovem foi localizada por familiares na Unidade de Pronto Atendimento do bairro da Liberdade, no centro da capital paulista. Antes disso, ela foi ao 26º Distrito Policial (Sacomã) – como estava emocionalmente transtornada, policiais civis acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que a encaminhou a uma unidade de saúde.

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