Guerras ideológicas versus Ciência do Clima: por que misturá-las é um erro?

 

Atualmente parece que toda conversa, de alguma forma, tem sido levada para debates ideológicos sem fim. Seja nas redes sociais ou assistindo ao noticiário, tudo se resume a quem disse o quê e sobre “meus fatos e argumentos são melhores que os seus”. Contudo, há um tema que não deveria estar nessa discussão: a ciência das mudanças climáticas.

A polarização de valores e crenças sobre como a sociedade deve funcionar tem tornado o debate respeitoso e construtivo cada vez mais raro. Mas quando se trata de mudanças climáticas não é uma questão de opinião ou posição política, mas sim e acima de tudo, uma questão de ciência.

Cientistas monitoram o aumento das temperaturas globais, o derretimento das calotas polares e eventos climáticos extremos há décadas. Ou seja, trata-se de uma realidade amplamente documentada e estudada. O ano de 2024, por exemplo, foi o mais quente já registrado e não há discussões sobre isso. Os números, medições e análises confirmam. E esses fatos apontam que precisamos agir rápido.

O que está realmente em discussão é: como nós, enquanto sociedade, enfrentaremos as mudanças climáticas no presente ao passo que planejamos e nos preparamos para o futuro? Confundir ciência do clima com disputas ideológicas apenas desvia o foco da questão central: o que faremos, juntos, para resolver o problema.

Muitas pessoas lucram com o status quo: Evitar mudanças é uma vantagem para muitas esferas poderosas. Empresas de combustíveis fósseis, alguns setores da indústria e até grupos políticos têm interesses em manter tudo como está. Para eles, as iniciativas voltadas ao clima significam prejuízos. Mas quanto mais adiarmos as ações, mais graves serão as consequências para todos e isso não pode continuar. O status quo é insustentável, tanto para o planeta, quanto para a sociedade e até para os que estão lucrando com ele. Quanto mais adiarmos as mudanças, piores serão as consequências.

A urgência da descarbonização: A ação climática vai além de simplesmente evitar problemas atuais e futuros. Envolve aproveitar uma enorme janela de oportunidades. A transição para energias limpas, o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis e o investimento em infraestrutura verde podem gerar empregos, impulsionar a inovação e promover o crescimento econômico. A sociedade e os investidores não podem se dar ao luxo de perder essa chance. Portanto, adiar a ação climática não só coloca o planeta em risco, mas também abre mão do potencial de progresso e prosperidade.

Vamos simplificar: A emergência do clima não deve ser vista como mais uma questão ideológica, mas sim de sobrevivência. O planeta não se importa com política. O aumento do nível do mar, as inundações, as ondas de calor, os furacões mais fortes e os incêndios florestais de grandes proporções não esperam que resolvamos nossas diferenças ideológicas.

Isso não significa que devemos ignorar o fato de que o aquecimento global impacta algumas comunidades mais do que outras, incluindo aquelas que pouco contribuíram para esse cenário. Essa realidade precisa ser reconhecida, debatida e enfrentada. No entanto, é essencial que essas discussões permaneçam focadas em soluções para o problema.

O que deve ser feito: Precisamos tratar o tema das mudanças climáticas pelo que realmente é: um desafio científico que exige cooperação global e um debate sobre como responder a ele. Isso significa focar em soluções, como energias limpas, melhores infraestruturas e políticas mais inteligentes, sem transformar em mais um campo de guerra ideológica.

No final do dia, as mudanças climáticas não são uma questão de estar “a favor” ou “contra”. Trata-se do ar que respiramos, da água que bebemos e do futuro que vamos deixar para as próximas gerações. Os riscos são altos e o tempo está passando.

A mudança está chegando e a questão é se vamos aproveitar ou deixar que ela escape.

*Eduardo Mufarej é co-Chief Investment Officer da Just Climate

Fonte: Pipeline

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