Oposição da Groenlândia vence coalizão de esquerda nas eleições parlamentares

 

O partido de oposição Demokraatit venceu as eleições parlamentares na Groenlândia, derrotando a coalizão de esquerda que governa a ilha. O resultado ocorreu na madrugada desta quarta-feira (12), no horário de Brasília.

O partido de centro-direita Demokraatit, que defende um avanço lento e gradual para a ilha se tornar independente da Dinamarca, obteve 29,9% dos votos, suficiente para garantir a vitória no pleito, segundo agências de notícias. O partido cresceu em relação às eleições de 2021, quando obteve 9,1% dos votos, e o resultado surpreendeu até a liderança da sigla.

“Não esperávamos que a eleição tivesse esse resultado, estamos muito felizes”, afirmou o líder do Demokraatit, Jens-Frederik Nielsen, à emissora groenlandesa KNR TV. Nielsen destacou que a Groenlândia precisa se unir “em um momento de grande interesse externo” sobre a ilha.

O segundo partido com mais votos foi o Naleraq, que é a favor de uma independência rápida, com 24,5%. A apuração dos votos ainda está em andamento, com cerca de 29 mil votos contabilizados do total de 40.369 até as 7h desta quarta-feira no horário de Brasília.

A coalizão de esquerda formada pelo Partido do Povo (Inuit Ataqatigiit), do atual primeiro-ministro Múte Egede, e pelo partido Siumut obteve cerca de 36% dos votos, uma queda em relação aos 66,1% em 2021. Esses partidos também buscam um caminho gradual para a independência da ilha.

No centro da votação estava o movimento pelo fim da dependência da Dinamarca e o interesse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em adquirir a ilha.

Desde que assumiu o cargo em janeiro, Donald Trump prometeu transformar a Groenlândia – um território semiautônomo da Dinamarca – em parte dos Estados Unidos, dizendo que a ilha é vital para os interesses de segurança dos EUA, uma ideia rejeitada pela maioria dos groenlandeses.

A Groenlândia tem cerca de 57 mil habitantes, dos quais 40,5 mil estão aptos a votar. O Parlamento local, conhecido como Inatsisartut, possui 31 cadeiras. Agora, o partido vencedor da eleição terá a chance de formar uma coalizão governamental por meio de negociações com outros partidos.

“As pessoas querem mudança. Queremos mais negócios para financiar o nosso bem-estar,” disse Jens-Frederik Nielsen, líder do Demokraatit e ex-ministro da Indústria e Minerais. “Não queremos independência amanhã, queremos uma boa base,” disse Nielsen aos repórteres em Nuuk.

“Acredito firmemente que em breve começaremos a viver uma vida mais baseada em quem somos, baseada em nossa cultura, em nossa própria língua, e começaremos a fazer regulamentos baseados em nós, não baseados na Dinamarca,” disse Qupanuk Olsen, candidato pelo principal partido pró-independência Naleraq.

Inge Olsvig Brandt, candidata pelo partido governante Inuit Ataqatigiit, disse que a Groenlândia não precisa da independência neste momento. “Acho que temos que trabalhar com nós mesmos, com nossa história, e vamos ter muito trabalho antes de podermos dar o próximo passo”, afirmou.

A votação foi prorrogada por meia hora em algumas das 72 seções eleitorais espalhadas pela ilha ártica. A participação final dos eleitores não tenha sido divulgada até a última atualização desta reportagem.

Independência do território

Desde 2009, a Dinamarca permite que a Groenlândia se prepare para conquistar sua independência total. Para isso, a ilha precisa realizar um referendo.

A maior parte dos partidos políticos groenlandeses apoia a separação, mas há divergências sobre como fazer esse movimento. O principal obstáculo é o auxílio financeiro dinamarquês à ilha, que representa quase US$ 1 bilhão por ano para a economia local.

Durante seu primeiro mandato como presidente, Trump afirmou que faria uma oferta para comprar a Groenlândia. À época, as autoridades da ilha responderam que o território não estava à venda.

Há décadas, os Estados Unidos consideram a Groenlândia um território estratégico para a segurança nacional. A ilha poderia abrigar sistemas de defesa capazes de interceptar mísseis vindos da Europa ou do Ártico.

Além disso, radares instalados na região ajudariam a identificar navios e submarinos, principalmente russos, monitorando as águas entre a Islândia, a Grã-Bretanha e a própria Groenlândia.

Trump não foi o primeiro presidente dos Estados Unidos a tentar comprar a ilha. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Harry Truman tentou adquirir a Groenlândia, oferecendo US$ 100 milhões em ouro. O objetivo era garantir um território estratégico para enfrentar as ameaças da Guerra Fria.

A proposta de Truman foi rejeitada, mas os Estados Unidos conseguiram instalar uma base militar na ilha com a autorização da Dinamarca.

Além disso, a Groenlândia é rica em minerais, petróleo e gás natural. Trump já demonstrou ter interesses na extração desses recursos e tem revertido regras ambientais para a estimular a produção nos Estados Unidos.

Groenlândia iria para os EUA?

Ainda em janeiro, Trump disse estar “determinado em tomar a Groenlândia” durante uma ligação telefônica para a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen. As informações foram reveladas pelo jornal Financial Times.

Frederiksen seguiu o que autoridades da própria Groenlândia vinham afirmando e respondeu a Trump que a ilha não estava à venda.

Após a ofensiva de Trump, o primeiro-ministro Mute Egede intensificou a campanha pela independência e afirmou várias vezes que cabe ao povo decidir o futuro da ilha.

A população da Groenlândia poderia votar pela independência e hipoteticamente aprovar, em referendo, uma associação aos Estados Unidos. No entanto, analistas dizem que esse cenário é muito improvável, já que os groenlandeses estão buscando mais autonomia, e não um novo “dono”.

Uma pesquisa feita na Groenlândia no fim de janeiro aponta que apenas 6% dos entrevistados querem que a ilha se torne parte dos Estados Unidos. Outros 85% rejeitam a ideia. Os demais entrevistados não souberam ou não responderam.

Fonte: G1

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