“Ninguém via”, diz morador de Perdizes que matou porteiro. Vídeo

São Paulo — O homem que matou a facadas o porteiro Gabriel Araújo, de 48 anos, na Rua Caraíbas, em Perdizes, na zona oeste de São Paulo, em 2 de dezembro, disse, em audiência nessa terça (11/3), ter se sentido perseguido por funcionários do prédio onde morava. Segundo ele, “ninguém via” a suposta movimentação criminosa dos colaboradores do condomínio.

Emilio Carlos Swoboda Vigatto, 43 anos, preso desde o dia em que o porteiro foi assassinado, afirmou em audiência que os funcionários do prédio eram todos “capatazes do zelador”. O assassino confesso acusou os colaboradores de invadirem apartamentos e cometerem abusos sexuais contra mulheres e crianças do complexo residencial.

“Saía um grupo de pedreiros e entrava outro grupo de outra coisa no prédio, que eram os capatazes do zelador. E, desculpe falar assim, porque tudo isso ocorreu na minha vida, e ninguém fazia nada para me ajudar, ninguém via, ninguém me dava atenção”, disse.

Ainda em depoimento, Emilio afirmou que a mesma movimentação acontecia no condomínio onde morou anteriormente – e que esses acontecimentos se estenderam por uma década. Segundo ele, mais moradores teriam denunciado essas práticas.

“O meu prédio, que eu morava antes desse, vinha sendo atacado pelos próprios funcionários. Pelo zelador, pelos porteiros, inclusive pelo cara da faxina e pelo cara do elevador. E não sou só eu que reclamei disso”, afirmou.

Veja trechos do depoimento de Emilio:

Escutava pensamentos

O réu confesso diz que, com o tempo, passou a escutar os pensamentos de outras pessoas – dentre elas, do porteiro Gabriel. Essa teria sido a motivação para o assassinato.

“E aí eu fiquei escutando pensamentos, cada vez que eu passava pelo Gabriel ali as bobagens que ele me falava quando passava por mim, eu escutava ele falando por pensamento comigo”, disse.

Conforme Emilio, um dia, passando pela garagem do prédio, ele teria escutado o porteiro pensar “comi”. Ele contou em audiência que “deve ter entrado de alguma forma em contato com o mental dele”.

“Eu fui desenrolando essa conversa, pra tentar entender, aí eu entendi que ele estava mexendo com pessoas do prédio, talvez com as mulheres que moravam lá no meu imóvel, que eu realmente sublocava”, completou o assassino.

Após as declarações, nenhuma pergunta foi feita ao réu – nem pela acusação, nem pela defesa.


O crime

  • Policiais militares foram acionados por volta das 6h10 de 2 de dezembro de 2024 para atender uma ocorrência na Rua Caraíbas, em Perdizes.
  • No local, encontraram o porteiro Gabriel já morto, vítima de golpes de faca. Uma câmera de segurança registrou o momento do homicídio.
  • Imagens do circuito de segurança de um endereço próximo ao local do crime mostraram aos policiais que o criminoso entrou em um veículo GM Onix.
  • Com a ajuda do programa de monitoramento Muralha Paulista, a polícia identificou que o veículo entrou no mesmo condomínio em que o porteiro assassinado trabalhava.
  • Uma campana de poucos minutos fez com que Emilio fosse identificado pelos policiais. Ele estava saindo do prédio, utilizando o Onix, quando foi abordado.
  • Uma revista pessoal encontrou na cintura do homem um revólver calibre 38, marca Taurus, com numeração raspada e municiado com seis estojos íntegros. Ele confessou ter assassinado Gabriel.
  • No carro de Emilio, a polícia encontrou as roupas utilizadas no crime. Já no apartamento do assassino, mais munições foram encontradas.
  • Em conversas informais durante a abordagem, o homem confessou ter matado o porteiro sob a alegação dele ser “estuprador” e “ter mexido com a mulher dos outros”.
8 imagens

Vítima foi identificada como Gabriel Araújo, que trabalhava como porteiro

Homem morreu em frente a estabelecimento comercial
Samu foi acionado e a morte foi constatada ainda no local
Homem foi esfaqueado na manhã desta segunda-feira (2/12)
Área onde ocorreu o crime está isolada
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Marca de pegada de sangue na calçada

Bruna Sales/ Metrópoles

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Vítima foi identificada como Gabriel Araújo, que trabalhava como porteiro

Bruna Sales/ Metrópoles

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Homem morreu em frente a estabelecimento comercial

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Samu foi acionado e a morte foi constatada ainda no local

Bruna Sales/ Metrópoles

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Homem foi esfaqueado na manhã desta segunda-feira (2/12)

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Área onde ocorreu o crime está isolada

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Crime ocorreu em Perdizes, bairro da zona oeste de SP

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Caso foi na Rua Caraíbas, altura do número 386

Reprodução/ SBT


O que diz a defesa

O advogado João Moacir Correia de Andrade afirmou ao Metrópoles que, após as declarações em audiência, o juiz Renan Oliveira Zanetti, da 3ª Vara do Júri de São Paulo, determinou que Emilio passe por um exame de sanidade mental.

Conforme a defesa do réu, a submissão do réu confesso ao exame já era um pedido feito por seus advogados. O requerimento, agora, foi reforçado também pela acusação.

“De 15 a 20 minutos ali [de depoimento de Emilio], falando a respeito de tudo ali, acho que não ficou dúvida ali para quem estava acompanhando de que ele, de fato, não é uma pessoa na sua consciência plena. Mas é claro que isso, quem vai dar o diagnóstico final, vão ser os profissionais competentes aos quais ele vai ser submetido a exame”, destacou o advogado.

Segundo Andrade, o réu sempre apresentou histórico de alguns desvios de conduta e, “depois do uso excessivo de droga, isso acabou agravando um pouco mais. Então é o que levou ele a esse desiderato”.

“É um quadro que a gente lamenta como ser humano, como profissional a gente vai buscar fazer o que a lei determina”, afirmou a defesa.

Andrade destacou que Emilio irá responder pelo crime, uma vez que ele confessou ter cometido o homicídio. “Os profissionais vão dizer até onde vai esse grau de insanidade ou não. A partir daí, [vamos] ver quais vão ser os caminhos jurídicos a serem tomados em relação a de que forma ele vai responder pelo que ele fez”, explicou.

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