200 artigos no Noblat (por Ricardo Guedes)

Trato, hoje, portanto, das coisas belas, da nossa cultura, da cultura brasileira, na qual vivemos, que nos une, e nos ufana.

Acho que Roberto DaMatta é o autor, dentre outros, que melhor interpreta o nosso país. Em “O que faz o brasil, Brasil”, o primeiro Brasil com b minúsculo, de nossa economia e social, e o segundo Brasil com B maiúsculo, da nossa cultura, música, artes, carnaval e futebol, DaMatta expressa a sua obra. É na cultura onde tudo se encaixa, que nos une, na “feijoada” que é muito mais do que um prato ou uma refeição, mas um congraçamento dos sábados à tarde, quando em um verdadeiro fervor os amigos se reúnem na alegria e no saber.

Existe algo na cultura que persiste por si mesma. Interessante notar que Marx, em sua teoria do modo de produção, a maneira como os homens produzem e dividem o bem social, aponta a infraestrutura como determinante da superestrutura, o local onde se pensa e se interpreta. Mas, em “Das Grundrisse”, que poderíamos traduzir por “Os Fundamentos”, Marx faz uma crítica de suas teorias, onde aponta o “Direito Romano”, elaborado em uma sociedade escravagista, e a “Arte Grega”, gerada em uma sociedade segmentada entre cidadãos e escravos, como substâncias que persistem e persistirão em todas as sociedades, em franca oposição à base de suas teorias. Como disse Kant em “A Crítica da Razão Pura”, existem valores que são transcendentais e universais. Há algo de eterno nas culturas.

O futebol é uma “paixão”, e o carnaval aquele momento onde as classes sociais se invertem, o “Rei do Quilombo” vira o “Rei da Avenida”, com a rua sendo uma extensão da casa, e a casa como uma extensão da rua. Por quatro dias, somente, mas que se impregnam em nosso imaginário.

No cinema, atingimos o auge com Fernanda Torres e Walter Salles, no “pasmo” da dramaturgia brasileira, ao contrário do “drama enfático” anglo-saxão, do “drama intelectualizado” francês, do “drama satírico” italiano, ou do “drama desesperado” alemão. Ganhamos o mundo, na representação do momento atual.

E o Blog do Noblat, há 20 anos no Brasil, faz parte desta história, altivo e atuante, com o conjunto de sua obra, robusta e interpretativa de nosso país, na política, na economia, e de nossa sociedade. Um verdadeiro acervo, nosso verdadeiro legado. Obrigado Noblat!

 

 

Ricardo Guedes é Autor

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