Veja quais são os setores econômicos mais prejudicados por greve de auditores fiscais da Receita Federal

 

A prolongada greve dos auditores fiscais da Receita Federal, que já ultrapassa 100 dias, emerge como uma nova ameaça à inflação e às contas públicas, representando mais um obstáculo ao crescimento econômico – uma meta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deseja manter acima de 3%, como nos últimos dois anos, mas que parece cada vez mais difícil de alcançar. A operação-padrão nos terminais alfandegários, realizada em protesto contra o governo, está atrasando a liberação de cargas de exportação e importação. Os prejuízos financeiros já somam 3,5 bilhões de reais, enquanto o governo deixou de arrecadar aproximadamente 15 bilhões de reais em impostos.

Nos terminais, cerca de 75.000 remessas estão retidas, desencadeando um colapso logístico que afeta tanto o setor produtivo quanto os consumidores. É importante lembrar que o governo trava uma batalha com a escalada de preços que acabou minando a sua popularidade. No início do mês, o Executivo anunciou a isenção do imposto de importação para alguns produtos alimentícios essenciais, incluindo café e carnes. No entanto, a paralisação dos auditores fiscais continua a gerar custos logísticos significativos, que inevitavelmente serão repassados ao consumidor final, podendo frustrar os planos de Lula.

Um dos setores mais atingidos por essa paralisação é o agronegócio, o setor que mais exporta. De acordo com Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), cerca de 672.000 sacas de café, ou mais de 2.000 contêineres, ficaram retidas nos portos brasileiros em janeiro de 2025, devido aos gargalos logísticos. Desde junho de 2024, os exportadores de café acumulam prejuízos portuários de 57,7 milhões de reais, sendo 6,134 milhões de reais apenas no primeiro mês de 2025. De acordo com o Cecafé, os prejuízos só não são maiores devido ao período de entressafra, quando a produção diminui, resultando em menor quantidade de sacas para serem armazenadas nos portos.

Os custos adicionais decorrentes desses atrasos e gargalos logísticos nos portos brasileiros estão sendo repassados às empresas, o que inevitavelmente levará ao aumento dos preços para os consumidores e à perda de competitividade no mercado internacional. “O agronegócio nacional precisa de ações céleres e urgentes para evitar a continuidade dos prejuízos logísticos”, diz o diretor técnico do Cecafé, Eduardo Heron.

Os exportadores de proteína animal também estão sendo penalizados. Em off, uma fonte do setor diz que a retenção de documentos e a demora na liberação das cargas têm comprometido a qualidade dos produtos. A falta de eficiência na tramitação dos processos aduaneiros gera atrasos que podem prejudicar acordos comerciais com mercados estratégicos, como China e União Europeia, e elevar custos para os frigoríficos, que inevitavelmente serão repassados ao consumidor final.

O setor automotivo, que é altamente dependente de peças importadas, também vê sua linha de produção ser prejudicada. O comércio eletrônico, que depende de prazos rápidos de entrega, também sofre com as restrições impostas nos portos, gerando uma onda de reclamações de clientes e aumento nos custos logísticos.

O problema, no entanto, não se limita aos portos, afetando também o transporte rodoviário de cargas que precisam ser levadas até os terminais. A Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI) destaca que, em locais como Uruguaiana, São Borja e Foz do Iguaçu, a presença de viaturas da Receita Federal tem dificultado o acesso aos portos, agravando ainda mais os obstáculos logísticos. Segundo a associação, liberações que em média levavam duas horas para serem processadas chegaram a demoras de quatro dias ou mais, elevando custos operacionais que afetam não só transportadores, mas consumidores e indústrias que dependem dos insumos carregados.

“A falta de articulação entre os servidores e o governo federal escancara um descaso inaceitável com setores estratégicos da economia”, diz a ABTI. Segundo a entidade, a falta de resolução mancha a credibilidade do Brasil no cenário internacional e parceiros comerciais já questionam a incapacidade do país em garantir a previsibilidade das operações.

A paralisação, iniciada no fim de 2024, resulta de uma longa disputa por reajustes salariais, com os auditores reivindicando compensação pelas perdas inflacionárias acumuladas desde 2016, que já ultrapassam 50%. No entanto, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que herdou um cenário fiscal apertado, tem se mostrado relutante em atender às exigências, especialmente diante de seu compromisso com o equilíbrio fiscal de zerar – com atraso – o déficit neste ano.

A paralisação também interrompe os julgamentos no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), um órgão fundamental para a recuperação de receitas. Atualmente, processos que somam 51 bilhões de reais estão estagnados, comprometendo ainda mais os cofres públicos. Apesar das tentativas de mediação do Ministério da Fazenda, até o momento, a paralisação segue sem uma solução à vista. A prorrogação do prazo para responder aos requerimentos dos auditores até março de 2025 sugere que o impasse deve persistir, aprofundando os danos à economia e à competitividade do Brasil no mercado global.

Fonte: VEJA

 

 

 

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