Só tem torcida de político na rua: o Brasil cansou, a corja venceu

É formidável como o Brasil nos obriga a prestar atenção ao que não tem importância. Essa manifestação bolsonarista de ontem, em Copacabana, qual é a relevância dela para a vida de todo mundo, exceto a do próprio Jair Bolsonaro? Nenhuma.

Como de hábito, quem organiza fala em milhão de manifestantes e quem se opõe, em poucos milhares. O milhão de ontem é claramente lorota. Havia ali umas 20 mil pessoas.

Não é pouco, não fosse a nossa mania de inflar o número de gente que se junta na rua para protestar, comemorar Réveillon, sambar ou rezar. Aí, tem de ser milhão para cima para ser considerado sucesso.

Eu ia dizendo sobre a falta de importância da manifestação de ontem. Vale para todas. Perdeu-se o estímulo para ir gritar na rua por coisas que valem a pena desde o fim da Lava Jato — fim para o qual Jair Bolsonaro deu contribuição inestimável também, depois de pegar carona eleitoral na operação anticorrupção que chegou muito perto de limpar o país da corja que o governa.

O Brasil continua a ser a porcaria de dez anos atrás ou porcaria até maior, mas os brasileiros foram derrotados pela corja e se cansaram de se esgoelar na Avenida Paulista, em Copacabana ou em qualquer outra grande praça pública. Sobraram só as torcidas organizadas de Jair Bolsonaro e de Lula — e a de Lula, principalmente, está cada vez menor, só comparece mesmo em troca de pixulecos. Meno male.

Essa torcidas organizadas querem fazer crer que se movem em prol de boas causas — no caso de Jair Bolsonaro, pela liberdade de expressão e pela anistia aos presos pelo 8 de janeiro; no caso de Lula, pela defesa da democracia e contra o fascismo, como se houvesse ameaça fascista no país —, mas estão lá apenas para defender os interesses pessoais dos seus ídolos. Meno male.

Hoje, faz seis anos da abertura do inquérito das fake news. É o mesmo tempo de duração da Segunda Guerra Mundial, o acinte se prolonga. Fui o primeiro cidadão a a ser incluído nessa maçaroca autoritária, por publicar notícia verdadeira. Tive a minha revista censurada e fui obrigado a dar um depoimento kafkiano na Polícia Federal.

Alguém vai para a rua para se manifestar contra tamanha aberração jurídica, cuja abertura contou com o apoio de lulistas e também de bolsonaristas?

Bolsonaristas, sim, senhores: em 2019, tanto o advogado-geral da União, André Mendonça, como o procurador-geral da República, Augusto Aras, defenderam a legalidade do inquérito. Pois é, falar toda a verdade sobre o inquérito das fakes news não interessa a painho nenhum — nem ao da direita, nem ao da esquerda.

Está todo mundo cansado das boas causas, só tem torcida de político se manifestando. O Brasil cansou, a corja venceu.

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