Indústrias devem migrar com reforma tributária (por Roberto Caminha)

A recente Reforma Tributária no Brasil promete ser um daqueles acontecimentos que sacodem o tabuleiro do xadrez econômico. Com o fim de diversos incentivos fiscais no Nordeste e Centro-Oeste, muitas empresas estão fazendo as malas e pegando o primeiro voo (ou melhor, a primeira carreta) de volta para estados do Sul e Sudeste. E não é por saudade da garoa paulista ou do pão de queijo mineiro, mas porque lá estão a infraestrutura, a tecnologia e a proximidade com os grandes centros consumidores. Em outras palavras, está todo mundo querendo reduzir custos e evitar gastos desnecessários com logística e fornecimento de insumos. É tudo que se quer no nosso Brasil: a criação de zonas de abandono de cidades e suas Detroitizações.

Com os novos ajustes fiscais, a vantagem competitiva de manter uma empresa em regiões que antes ofereciam incentivos, praticamente desaparece. Se antes uma montadora ou uma fábrica de autopeças se instalava em um estado com impostos reduzidos e subsídios generosos, agora a história é outra. Sem esses atrativos, faz muito mais sentido para as empresas voltarem a se estabelecer em locais onde já existe uma cadeia de produção consolidada e uma infraestrutura de primeira linha.

Isso significa que estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná podem se tornar ainda mais atrativos para indústrias que dependem de logística eficiente e proximidade com consumidores. O resultado? Uma espécie de “efeito rebote” industrial, em que cidades que perderam indústrias para outras regiões agora vêem a roda girar ao contrário.

Agora vem a parte curiosa: e as cidades que perderam as indústrias? Com a saída dessas empresas, algumas regiões podem enfrentar um declínio econômico, semelhante ao que aconteceu em Detroit, nos Estados Unidos. Para quem não sabe, Detroit já foi a capital mundial do automóvel, mas com a crise das montadoras e as mudanças tecnológicas, muitas fábricas fecharam e a cidade ficou com bairros abandonados e uma economia em frangalhos.

No Brasil, poderemos ver cidades que antes cresceram impulsionadas por subsídios fiscais se transformarem em verdadeiras “cidades fantasmas” industriais. O que antes era um polo automotivo pode virar um enorme estacionamento de galpões vazios. Os prefeitos dessas cidades já podem ir preparando o discurso otimista para a próxima eleição: “Temos potencial turístico!”. Mas a verdade é que sem planejamento para diversificar a economia, a coisa pode ficar feia.

Para as empresas, a mudança pode ser vantajosa. Além de estarem mais perto dos grandes mercados consumidores, elas também reduzem custos com logística e fornecimento. Imagine uma fábrica de autopeças que antes estava a mil quilômetros do centro de produção dos automóveis. Agora, ao se reestabelecer próximo às montadoras, ela economiza tempo, dinheiro e ainda evita aqueles atrasos clássicos de transporte que deixam qualquer gerente de produção de cabelo em pé.

Já para os estados que perdem essas indústrias, o impacto pode ser significativo. Menos empregos, menos arrecadação e menos movimento na economia local. Algumas regiões que antes eram focos de desenvolvimento podem acabar virando cenários de filme pós-apocalíptico, com fábricas fechadas e comércios esvaziados.

A Reforma Tributária no Brasil está prestes a mudar completamente o mapa industrial do país. Cidades que antes floresciam graças a incentivos fiscais podem entrar em decadência, enquanto outras, que já possuem infraestrutura e tecnologia, podem se tornar os novos polos industriais. Aí chega a velha musiquinha do brega raiz: Aonde a vaca vai, o boi vai atrás. Juntamente com as fábricas, a pobreza acompanhará as mudanças e a segurança já combalida, de Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, terá que se reestruturar para as grandes chegadas nos seus conjuntos e centros das cidades. Podemos prever situações caóticas em vários bairros destas cidades.

O desafio para os estados que perderão empresas é se reinventar e encontrar novas formas de atrair investimentos, seja por meio de tecnologia, educação ou novos modelos de incentivo econômico. E para os estados que receberão esse novo fluxo de empresas, a hora é de se preparar para um possível “boom” industrial.

O que nos resta é torcer para que o Brasil aprenda com os erros de Detroit e que, em vez de cidades fantasmas, vejamos novas potências industriais emergindo. Quem sabe, ao invés de criar ruínas modernas, consigamos construir um futuro mais equilibrado? A resposta está na forma como gestores públicos e empresários vão reagir a essa nova realidade. Afinal, no Brasil, o jogo sempre pode virar. E até o passado continuará incerto. O meu Brasil brasileiro vai inventar, com toda a certeza, zonas de desertificação para ele mesmo tentar desenvolver.

 

Roberto Caminha Filho, economista, vai torcer pela Bahia, Goiás e outros enjeitados. Passará por São Paulo e Rio a 10.000 m de altitude, longe dos tiros e mísseis.

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