Mamãe, nós vamos morrer?

Por Rasha Abou Jalal, no Drop Site News| Tradução: Antonio Martins

Acordei às 3h da manhã do dia 18 com o som de uma enorme explosão acima da minha cabeça, quebrando o silêncio da noite. Por um momento, senti como se tivesse morrido.

Levantei a cabeça do travesseiro, ainda sem entender o que estava acontecendo ao meu redor. O ar estava cheio de poeira cinza.

De repente, os gritos dos meus cinco filhos perfuraram meus ouvidos. Eu não sabia dizer se estávamos vivos ou mortos e soterrados sob os escombros. Corri para abraçá-los.

Mais explosões seguiram—ataques aéreos israelenses bombardearam Gaza sem piedade e sem aviso naquela noite.

“Mamãe! Nós vamos morrer?”, minha filha de 12 anos, Saida, me perguntou, aterrorizada, seu corpo tremendo de medo.

Não consegui responder. Estava em choque. Procurei meu marido, que dormira ao meu lado, mas não o encontrei. Momentos depois, ele surgiu da poeira, segurando pedaços de pano molhados. Disse a mim e às crianças para cobrirmos nossas bocas e narizes para nos protegermos da poeira sufocante.

Percebi que as paredes do quarto ao lado haviam desabado completamente. Era o quarto onde normalmente dormíamos, mas, por acaso, meu marido e eu decidimos dormir com nossos cinco filhos em um quarto mais quente naquela noite. Eu não fazia ideia de que essa decisão trivial salvaria nossas vidas.


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Rapidamente, vesti minha abaya, peguei minha filha de três anos, Masak, no colo, e meu marido carregou nossa filha de cinco anos, Hour. Nossos outros três filhos—Saida, de 12 anos, Zein, de 10, e Sham, de 8—estavam logo atrás de nós enquanto corríamos para fora de casa, sem saber se estávamos fugindo da morte ou correndo em direção a ela.

Lá fora, vimos a casa de nossos vizinhos—a família Jamasi—reduzida a um monte de escombros. Ela havia sido atingida diretamente.

Ficamos em choque, observando paramédicos e equipes de defesa civil retirando-os dos destroços. Resgataram 11 pessoas da casa. Cinco delas estavam mortas, incluindo uma menina de oito anos chamada Siwar. Brincava do lado de fora de sua casa no dia anterior. Agora, se foi.

Siwar, de oito anos, uma das vítimas da família Jamasi mortas no bombardeio de 18/3
Siwar, de oito anos, uma das vítimas da família Jamasi mortas no bombardeio de 18/3

Fugimos da área, buscando abrigo com parentes em um bairro próximo. Pegamos o pouco que pudemos carregar, mas deixamos para trás qualquer sentido de segurança.

Enquanto fugíamos, meu marido disse: “Quando ouvi nossos filhos gritando, me senti impotente. Só pensei em tirá-los vivos dali, mas os trouxe para o quê? Para uma vida em que fugimos de uma morte para outra?”

Agora, nos apertamos em um quarto superlotado. Mesmo em um bairro diferente, o medo nos segue para todo lugar.

Ninguém em Gaza se sente seguro. Aviões de guerra israelenses circulam o céu sem parar, bombardeando casas de civis sem piedade, matando dezenas sem motivo.

Os ataques aéreos desta noite mataram mais de 400 palestinos, incluindo 174 crianças, 89 mulheres e 32 idosos.

Ainda estamos em choque. Minha filha de oito anos não consegue mais dormir.

Tentei confortá-la mas acordava chorando. Ela me disse: “Mamãe, toda vez que fecho os olhos, sinto que outra bomba está caindo sobre nós.”

Deitei ao lado dela para acalmá-la. Esta manhã, descobri que ela havia se molhado de medo.

Minha filha de 12 anos, Saida, continua me perguntando: “Mamãe, os aviões vão voltar de novo?” Não tenho resposta para ela.

Como posso tranquilizá-la quando nem eu mesma acredito que vou acordar amanhã?

Olhei nos olhos cansados e sobrecarregados do meu marido e perguntei: “Quando esse pesadelo vai acabar?” Ele respondeu: “Estamos sozinhos neste mundo. Ninguém se importa.”

Estamos tentando nos agarrar à vida, mas a vida em Gaza não é nada do que costumava ser.

Sobrevivemos a esse ataque aéreo—mas será que realmente sobreviveremos a essa guerra?

Rasha Abou Jalal

Jornalista na Faixa de Gaza Strip. Trabalha para diversas publicações, cobrindo temas políticos, sociais e humanitários da Palestina. Membro permanente do comitê julgador do Press House Award.

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