Cientistas desvendam mistério da pena de 30 mil anos toda preservada

Um conjunto de penas descoberto quase totalmente preservado mesmo tendo uma idade aproximada calculada de 30 mil anos era um mistério que intrigava a ciência desde que o fóssil foi descoberto, em 1889, nos arredores de Roma. Penas estão entre as estruturas mais frágeis e raramente têm uma preservação que permita se fossilizar.

A estrutura pertencia a um grifo-euroasiático (Gyps fulvus) que permaneceu quase inteiramente preservado em depósitos das cinzas vulcânicas do complexo Colli Albani. A preservação do abutre chegava a ser mais profunda que uma mumificação, com a preservação de tecidos moles, como pálpebras, além das penas.

Uma pena nos mínimos detalhes

O fóssil, analisado por uma equipe liderada pela palentóloga Valentina Rossi, da University College Cork, na Irlanda, mostra detalhes microscópicos nunca antes registrados em penas antigas. A análise foi publicada na revista Geology em 18 de março.

A nova pesquisa revelou que a preservação impressionante da ave se estende a níveis microscópicos, incluindo células como melanossomas, estruturas relacionadas à pigmentação e que são extremamente frágeis.

“Penas fósseis são geralmente preservadas em rochas de lama antigas depositadas em lagos ou lagoas. O abutre fóssil foi preservado em depósitos de cinzas, o que é extremamente incomum”, explicou Rossi.

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A pena milenar teve até sua estrutura celular preservada

A pesquisadora Valentina Rossi liderou os estudos
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Ilustração mostra como abutre teve seu fóssil preservado

Divulgação/Edoardo Terranova/Universidade de Corck

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A pena milenar teve até sua estrutura celular preservada

Divulgação/Edoardo Terranova/Universidade de Corck

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A pesquisadora Valentina Rossi liderou os estudos

Divulgação/Dirleane Ottonelli/Universidade de Corck

O segredo da preservação

A análise mostrou que as penas foram mineralizadas em zeólita, um mineral rico em silício e alumínio, em um processo nunca antes documentado em tecidos moles.

A zeólita, comum em ambientes vulcânicos e hidrotermais, formou nanocristais que se colaram às estruturas em detalhes celulares. “A alteração das cinzas devido à passagem de água induziu à formação de nanocristais de zeólitas que, por sua vez, permitiram a preservação das penas nos mínimos detalhes”, detalhou Rossi. O processo ocorreu em condições de baixa temperatura, permitindo a preservação excepcional.

Um giro para a paleontologia

Embora depósitos vulcânicos sejam frequentemente associados a correntes piroclásticas quentes e destrutivas, eles podem incluir também depósitos minerais de baixa temperatura que podem chegar ao nível de preservação encontrado. A descoberta ampliou o entendimento sobre onde e como fósseis podem ser encontrados.

A professora Maria McNamara, coautora do estudo, ressaltou a importância do achado: “Nunca esperamos encontrar tecidos delicados, como penas, preservados em uma rocha vulcânica. Descobertas como essas ampliam a gama de tipos potenciais de rochas onde podemos encontrar fósseis, mesmo aqueles que preservam tecidos moles frágeis.”

A descoberta do grifo-euroasiático não apenas revela um novo modo de preservação, mas também desafia noções prévias sobre onde e como tecidos delicados podem sobreviver ao tempo. Para os pesquisadores, a zeólita pode ser a nova chave para desvendar segredos de organismos antigos, ampliando as fronteiras da paleontologia e da geologia.

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