Câmara aprova lei com nome de menino que morreu por erro médico em SP

São Paulo — O projeto de lei Eduardo Brazilino Queiroz, protocolado em memória ao adolescente de 13 anos de mesmo nome que morreu de febre maculosa após ser vítima de erro médico no ano passado, foi aprovado nessa terça-feira (18/3) pela Câmara Municipal de Sumaré, no interior de São Paulo. A lei, que foi aprovada por unanimidade, busca capacitar profissionais e conscientizar a população sobre a doença.

A iniciativa surgiu após Ianca Brazilino Queiroz, mãe da vítima, perder o filho mais velho, de 13 anos, no dia 15 de maio de 2024. Na ocasião, Eduardo teria sido diagnosticado com dengue — mesmo sem nunca ter sido testado para o vírus.

Após coleta de exame, o menino testou positivo para maculosa no dia 28 de maio, dias após a morte. Desde então, a mãe, Ianca Brazilino Queiroz, e um amigo da família, o vereador Professor Edinho (Republicanos), buscam justiça e meios de homenagear o garoto que lutou durante sete dias contra a doença.

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O menino deixou uma irmã de 5 anos

O menino deve ter sido picado por um carrapato enquanto pescava dias antes dos sintomas aparecerem
A lei deve disciplinar diagnósticos médicos para identificação da febre maculosa
A mãe denunciou os médicos e hospitais ao MPSP
O jovem morreu aos 13 anos de idade
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O menino costumava frequentar pesqueiros e áreas de mata

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O menino deixou uma irmã de 5 anos

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O menino deve ter sido picado por um carrapato enquanto pescava dias antes dos sintomas aparecerem

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A lei deve disciplinar diagnósticos médicos para identificação da febre maculosa

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A mãe denunciou os médicos e hospitais ao MPSP

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O jovem morreu aos 13 anos de idade

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Treze dias após a morte, o menino foi diagnosticado com febre maculosa

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O que diz a lei

A lei deve aprimorar o atendimento, o diagnóstico e o tratamento da febre maculosa e visa garantir a precisão, eficácia e agilidade no manejo da doença. Segundo Ianca, o regulamento deve evitar que mais pessoas morram pela bactéria e que Eduardo vire exemplo.

“A expectativa é que essa lei seja usada e cumprida à risca, respeitada pelos médicos. Que acabem os diagnósticos [baseados] em achismos”, explica a mãe.

Com a aprovação, os profissionais de saúde deverão seguir procedimentos definidos para o diagnóstico da enfermidade. Desde a triagem, enfermeiros deverão questionar os pacientes e/ou responsáveis sobre a exposição a áreas de proliferação da bactéria e contato com carrapatos.

Além disso, exames laboratoriais específicos devem ser solicitados, como hemograma completo, sorologia para Rickettsia spp, testes de função hepática e exames de imagem, para avaliação de complicações.

Segundo o vereador Professor Edinho, autor do projeto, a lei deve ser sancionada pelo prefeito do município, Henrique Stein Sciascio (Republicanos), nos próximos dias.

Dever cumprido

Imagem colorida de pessoas posando para foto na Câmara Municipal de Sumaré - Metrópoles
A lei deve ser sancionada pelo prefeito de Sumaré nos próximos dias

Em entrevista ao Metrópoles, a mãe do adolescente conta que a aprovação é uma forma de mostrar que “Eduardo se foi para salvar vidas”. Desde junho do ano passado, a mãe reúne prontuários médicos para protocolar denúncias e conseguir justiça pela morte do garoto.

“Minha sensação é de dever cumprido, de poder ajudar a salvar vidas com toda a tragédia que aconteceu com meu filho. Eduardo é um herói!”, comemora a mulher.

Agora, Ianca aguarda o resultado de sindicâncias da Prefeitura de Sumaré e do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) para denunciar os médicos responsáveis e poder viver o luto. “Sabendo que a justiça não foi feita, a minha luta continua. Eduardo morreu por uma negligência médica e isso é inaceitável para uma mãe. Meu luto só será vivido quando a justiça fizer o seu papel”, concluiu.

Febre maculosa

A febre maculosa tem cura, mas o tratamento precisa ser iniciado precocemente com antibióticos adequados. O principal sintoma da doença é a febre alta, que pode ser confundida com outras enfermidades.

“Por isso, é importante que o médico sempre pergunte, ou que o paciente relate que esteve em área de vegetação com presença de carrapato ou capivara. Com esse histórico, o tratamento deve ser iniciado imediatamente”, diz Andrea von Zuben, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), de Campinas.

Os principais sintomas da febre maculosa são:

  • Febre;
  • Dor de cabeça intensa;
  • Náuseas e vômitos;
  • Diarreia e dor abdominal;
  • Dor muscular constante;
  • Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés;
  • Gangrena nos dedos e orelhas;
  • Paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões causando parada respiratória.

Na evolução da doença, também é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que não coçam, mas podem aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés.

Como é a transmissão?

A transmissão da doença ocorre em ambientes silvestres, nos quais exista o carrapato Amblyomma cajennense, popularmente conhecido como carrapato-estrela. Para que ocorra a transmissão, é necessário que o carrapato fique fixado na pele por um período de cerca de 4 horas.

Como se proteger:

Ao realizar trilhas e atividades de lazer ao ar livre, algumas precauções devem ser tomadas para evitar a febre maculosa:

  • Evitar caminhar, sentar e deitar em gramados e em áreas de conhecida infestação de carrapatos;
  • Em áreas silvestres, realizar vistorias no corpo em busca de carrapatos em intervalos de três horas para diminuir o risco de contrair a doença;
  • Se forem verificados carrapatos no corpo, não esmagar o carrapato com as unhas, pois ele pode liberar as bactérias e infectar partes do corpo com lesões;
  • Se encontrar o parasita, ele deve ser retirado de leve com torções e com auxílio de pinça, evitando contato com as unhas. Quanto mais rápido forem retirados, menor a chance de infecção;
  • Utilizar barreiras físicas, como calças compridas, com a parte inferior por dentro das botas ou meias grossas;
  • Utilização de roupas claras para facilitar a visualização e retirada dos carrapatos.
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