Muito além de um destino turístico badalado, que tem fortalecido a economia local, a Espanha é uma força criativa quando se trata de moda. Afinal, é lar de marcas globalmente famosas, berço de alguns dos estilistas mais importantes da história e forte na tradição do artesanato. A seguir, a coluna destrincha em alguns tópicos o panorama da moda na Espanha, setor que, por lá, passa por uma recuperação lenta após a pandemia da Covid-19.
Vem saber mais:
- A Espanha é a 4ª maior economia da zona do euro e o 2º destino turístico global.
- A indústria têxtil espanhola está em recuperação lenta após a pandemia, com queda no faturamento em relação ao período pré-pandêmico, com influência de fatores geopolíticos e econômicos globais.
- Zara e Mango são os grandes nomes espanhóis em fast fashion, enquanto a Loewe, destaque no setor de luxo, se mantém entre as cinco marcas mais desejadas globalmente.
- A Espanha foi berço de ícones da moda como Cristóbal Balenciaga, Paco Rabanne e Manolo Blahnik, e é reconhecido pelo rico artesanato, com destaque para as regiões de Andaluzia e Catalunha.

Cenário econômico
Ocupando atualmente a 4ª posição entre as economias da zona do euro, a Espanha teve um crescimento do produto interno bruto (PIB) maior que França, Itália e Reino Unido em 2024, com 3,2%. O país recebeu 94 milhões de visitantes no ano passado, em 2º lugar no ranking global, atrás da França, com 100 milhões. Como pontuou a BBC, pode vir a se tornar o maior destaque em turismo estrangeiro no mundo.
Entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, segundo a The Economist, a Espanha teve o melhor desempenho na economia em 2024, mesmo após a queda de 11% no PIB em 2020. Entre os desafios, no entanto, o país tem a dependência pesada no turismo, a maior taxa de desemprego da União Europeia (apesar da queda no último trimestre de 2024) e uma dívida pública que excede a produção econômica anual.

E o setor de moda?
Se o cenário é animador para a economia, a indústria têxtil, em contrapartida, tem passado por uma recuperação lenta em relação aos números pré-pandemia. Em 2023, o faturamento do setor de moda espanhol foi 32,9% menor comparado a 2019, como informou o El País. Dados divulgados no começo de 2024 pela Icex España Exportaciones e Inversiones apontam que os produtos têxteis do país europeu diminuíram 3% em vendas internacionais, marcando a 4ª queda em 24 anos.
Em entrevista ao jornal, publicada em dezembro, a diretora-executiva da Associação de Designers de Moda da Espanha, Pepa Bueno, cita como fatores para o choque na moda espanhola os “altos e baixos” atuais da geopolítica, como a guerra na Ucrânia e o fechamento do mercado russo, os conflitos do Oriente Médio e as contrações do mercado chinês. Além, é claro, de questões como inflação, câmbio, desaceleração do consumo em alguns mercados e tarifas, que têm afetado o setor a nível global.
No segmento on-line, em dados de um ano atrás, a chinesa Shein ficava com a liderança no país, responsável por 11% das compras, seguida pela Zara (6%) e a sueca H&M (3%). A varejista asiática, que tem um escritório em Madri e chegou a abrir uma grande loja pop-up na cidade, também liderou os vizinhos Itália, Portugal e Grécia em 2023.

Marcas de relevância global
As marcas de fast fashion – e concorrentes – Zara e Mango são as maiores do setor de moda na Espanha, com forte presença no mercado internacional. Principal etiqueta no portfólio do grupo Inditex, a Zara está presente em mais de 90 países, enquanto a Mango, que deixou de operar no Brasil em 2013 (e voltou a ser vendida aqui pela Dafiti, em 2023), está em 120 mercados.
Já no segmento de luxo, o destaque fica com a Loewe, que bombou nos últimos anos com as criações de Jonathan Anderson, que deixou a direção criativa da casa há poucos dias, após 11 anos no cargo. A grife, que pertence ao conglomerado LVMH, figura há dois anos no top 5 de mais quentes da moda da plataforma Lyst. No último trimestre de 2024, ocupou a 4ª posição do ranking global.

Berço de grandes estilistas
A Espanha foi berço de estilistas importantes, a começar pelo lendário couturier Cristóbal Balenciaga (1895-1972), conhecido como o “arquiteto da moda” (no vídeo abaixo, veja o trailer de uma série baseada na vila dele, do Disney+). Inspirado pela tradição espanhola e também francesa, japonesa e chinesa, ele trabalhava formas limpas e estruturadas que conquistaram clientes importantes, e tinha como admiradores ninguém menos que Gabrielle Chanel e Christian Dior.
Outros designers espanhóis de renome global incluem Paco Rabanne (1934-2023), que ousou com futurismo nos anos 1960, e Manolo Blahnik, cujos sapatos são os queridinhos da personagem Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker) na série Sex and the City, da HBO. Fundamental para o design de moda espanhol no século 20 foi Pedro Rodríguez (1895-1990), famoso por misturar técnica, materiais finos e estética rebuscada.
Na galeria abaixo, veja fotos de estilistas nascidos na Espanha:
Tradição no artesanato
Com a saída de Jonathan Anderson da Loewe, algumas falas de uma entrevista de 2020 do estilista voltaram a repercutir na web, ressaltando a relação do país de origem da marca com a arte. “A Espanha é muito diferente de outros países da Europa, porque possui regiões muito diversas, com um artesanato muito rico”, comentou. O artesanato é destaque em regiões como Andaluzia e Catalunha.
A marca francesa Polène, por exemplo, fabrica os artigos de couro em uma cidade espanhola que é referência no assunto, Ubrique, na região da Andaluzia. Somando as vagas de forma direta e indireta, a etiqueta emprega 13,7% da população local, estimada em 16,3 mil habitantes. O curtume usado nos produtos, além da Itália, também tem origem espanhola.