Papa Francisco e as internações prolongadas em idosos: riscos e cuidados necessários

 

As internações prolongadas em idosos, especialmente naqueles com condições de saúde preexistentes, representam um desafio significativo para a manutenção da qualidade de vida e da independência. De acordo com o integrante da Sociedade Brasileira de Geriatria e diretor de Operações da BSL Saúde que administra os  residenciais Cora Premium, Felipe Vecchio os riscos vão além da doença que motivou a hospitalização, podendo impactar profundamente a funcionalidade e a saúde global do paciente.

 

O geriatra cita o caso do Papa Francisco, que passa por uma internação prolongada devido a problemas pulmonares. “Pelos relatos, ele já apresentava dificuldades de locomoção antes da hospitalização. Após a internação, notamos que ele está mais cansado, o que sugere uma perda adicional de funcionalidade”, comenta. Vecchio também menciona que o Papa teve um episódio de broncoaspiração, que pode predispor a infecções pulmonares.

 

Um dos principais riscos destacados pelo especialista é a perda de funcionalidade, ou seja, a capacidade do idoso de realizar atividades cotidianas de forma independente. “O idoso já tem uma tendência natural à perda de massa muscular, e a internação, muitas vezes, acentua esse quadro. O paciente fica mais acamado, o que acelera a perda muscular e aumenta a dependência de cuidadores”, explica Vecchio.

A fisioterapia intra-hospitalar é uma das estratégias para minimizar esse problema, mas o médico ressalta que ela não substitui a rotina diária de atividades. “A fisioterapia ajuda a prevenir complicações do imobilismo, como trombose, mas não é o ideal. O idoso precisa de estímulos constantes para manter sua autonomia”, complementa.

 

Outro ponto crítico é a exposição a infecções, principalmente por bactérias resistentes, comuns em ambientes hospitalares. “Infecções pulmonares, como pneumonias por broncoaspiração, são frequentes em idosos com dificuldades de deglutição ou alterações cognitivas. Além disso, o uso de dispositivos como sondas e acessos venosos pode aumentar o risco de infecções de pele e até da corrente sanguínea”, alerta o geriatra.

Vecchio também chama a atenção para infecções urinárias, comuns em pacientes que necessitam de fraldas, e para lesões por pressão, que podem surgir devido ao tempo prolongado na cama. “Tudo isso exige monitoramento constante e medidas preventivas”, reforça.

 

A internação também pode afetar a saúde mental do idoso. A mudança de ambiente e rotina pode levar a quadros de desorientação e confusão mental, conhecidos como delirium. “O idoso pode ficar mais agitado, confuso ou até mesmo sonolento. Isso impacta não apenas a recuperação, mas também a capacidade de tomar decisões”, diz Vecchio.

 

Estratégias para minimizar os riscos

Para reduzir os efeitos negativos das internações prolongadas, o especialista destaca a importância de uma abordagem multidisciplinar. “A nutrição adequada é fundamental. Dependendo do caso, pode ser necessário o uso de sondas ou até nutrição parenteral, mas sempre com cuidado para evitar desconforto e agitação no paciente”, explica.

 

Além disso, a fisioterapia motora e respiratória deve ser iniciada o mais cedo possível, assim como a mobilização do paciente, sempre que clinicamente viável. “O objetivo é preservar ao máximo a funcionalidade e a independência do idoso”, afirma Vecchio.  Ele completa dizendo que as  internações prolongadas em idosos exigem cuidados específicos para evitar complicações que podem ser tão graves quanto a doença original. “É essencial que as equipes médicas e familiares estejam atentas aos riscos e trabalhem juntas para preservar a funcionalidade, a saúde mental e a qualidade de vida do paciente”, finaliza Felipe Vecchio.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.