Ato pró-Bolsonaro: polícia oculta comentários após repercussão de post

São Paulo — O perfil da Polícia Civil de São Paulo no Instagram desativou os comentários da publicação com imagens da manifestação pró-Jair Bolsonaro, realizada no último domingo (25/2), na Avenida Paulista, no centro da capital paulista. O Metrópoles mostrou que também houve interação entre o administrador da página e apoiadores do ex-presidente, com flores em retribuição a elogios, além de curtidas em mensagens como “Fora Lula”, em referência ao atual presidente.

O post teve grande repercussão, inclusive com críticas, que apontaram “proselitismo”, “quebra de impessoalidade” e “imparcialidade” por parte da corporação. A publicação contava com cerca de 293 mil visualizações, 25 mil curtidas, 2.280 comentários e 1.900 compartilhamentos até o momento da publicação desta reportagem.

Post sobre manifestação

O perfil oficial da Polícia Civil de São Paulo no Instagram postou vídeo com imagens aéreas e também em detalhes da manifestação pró-Jair Bolsonaro. O registro traz imagens gerais dos manifestantes, tanto vistas do alto quanto em detalhes aproximados.

O texto da postagem diz: “Polícia Civil, sempre presente nos grandes eventos e manifestações, cumprindo seu principal papel: sua segurança!”. Também há um trecho com o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, em frente ao helicóptero que aparentemente foi usado para realizar as filmagens — o delegado-geral Artur Dian está a seu lado.


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A publicação foi saudada por pessoas que defendem Bolsonaro. Um dos comentários diz “manifestação linda”, seguida de emojis com aplausos. Em resposta, o perfil da Polícia Civil posta emoji com mãos unidas, em agradecimento, e uma rosa.

Outra pessoa faz comentário agradecendo à polícia “por ter cuidado dos nossos patriotas”. O perfil da Polícia Civil posta, em retribuição, uma rosa.

Uma das publicações curtidas pelo perfil da corporação foi um comentário “Fora @lulaoficial”, mencionando o perfil oficial do presidente Lula (PT) no Instagram.

Críticas

A publicação também recebeu críticas. “Cuidado para a imagem da corporação não parecer que está fazendo proselitismo. A polícia é instituição de estado. Mesmo com um post singelo, acaba promovendo ‘o culto’”, disse uma pessoa.

Outro usuário da rede social aponta a quebra da impessoalidade. “Aí vocês querem que eu leve vocês a sério com essa prova de impessoalidade?”, questionou. “A polícia nem esconde que flerta com golpismo, né?”, disse mais um.

Um comentarista destacou que o perfil da Polícia Civil também não costuma postar vídeos de manifestações. “Fui olhar se a polícia tinha vídeo [do] alto de outras manifestações e zero, essa foi a única. Cada um tire sua conclusões sobre a imparcialidade”, afirmou.

O que dizem as autoridades

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que a publicação teve o objetivo, único e exclusivo, de mostrar a atuação operacional da Polícia Civil para garantir a segurança da população ao longo do ato, assim como foi realizado em outros eventos.

“O mais recente deles foi a Operação Carnaval, que também contou com divulgação do trabalho realizado em campo pela Instituição em suas redes sociais, desde o pré-Carnaval. As publicações incluíram tanto o planejamento, como os resultados, por exemplo, quando diversos celulares furtados foram apreendidos e recuperados. Em outras postagens, dicas de segurança foram dadas à população”, diz, em nota.

Os comentários foram desativados, segundo a SSP, devido às manifestações de cunho político.

A SSP diz, também, que as ações da Polícia Civil são voltadas à segurança pública e as atividades são executadas sem distinção. “Para a manifestação ocorrida neste domingo (25/2), a Instituição mobilizou equipes do GER (Grupo Especial de Reação) do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), o helicóptero, drone e policiais do Cerco em campo para monitoramento.”

Além disso, uma unidade móvel da Delegacia de Atendimento ao Turista também esteve nas proximidades da Avenida Paulista (Rua da Consolação), “apta a elaborar ocorrências e dar informações à população, nos mesmos moldes que a Operação Carnaval”, diz a nota.

Questionados na segunda-feira sobre o post, o Ministério Público Estadual, a Controladoria Geral do Estado e o próprio governo estadual não retornaram ao Metrópoles até a publicação desta reportagem. O espaço está aberto para manifestações.

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