HÁ VINTE ANOS – Lula sai por uma porta e eu entro por outra

Lula sai por uma porta do Palácio do Planalto e eu entro por outra. Ele foi dar um pulinho ali na Venezuela do companheiro Hugo Chávez. Volta logo.

Aproveito a ausência dele para conversar com duas pessoas que dão expediente no palácio. Não digo o nome delas porque jornalista esconde a identidade de suas fontes.

Se dissesse, vocês poderiam pensar que foram elas que me contaram o que eu venha a publicar nos próximos dias.

É bastante complicada a relação jornalista-fonte de notícias. E a relação jornalista-leitores. Há, pelo menos, três tipos de notícias:

a) as que publicamos;

b) as que as fontes nos oferecem sob a condição de não publicar;

c) as que desconhecemos.

Essas últimas são as mais preciosas, as que de fato importam. São mantidas em sigilo por seus protagonistas.

Em resumo: servimos mal a vocês. Servimos notícias de menor importância. Mas não temos culpa.

Por mais que não pareça, existe alguma ética no jornalismo. Ela nos obriga, por exemplo, a manter segredo em torno de coisas que só nos foram reveladas porque nos comprometemos em não divulgá-las.

Já fui processado mais de uma vez por me negar a revelar as fontes originais de certas notícias. Nos Estados Unidos, tem jornalista ameaçado de tirar cadeia porque se recusa a revelar suas fontes.

Mesmo para não publicar, há vantagens em se saber o máximo que for possível. Quando nada serve para que não embarquemos em versões furadas.

Para consumo externo, o exercício do poder é um espetáculo regido por leis universais. Nós, jornalistas, fazemos parte dele. E os menos cínicos entre nós, de vez em quando conseguem bagunçar o espetáculo.

Se vocês pudessem testemunhar o que se passa nos bastidores do poder dariam um tiro na cabeça – dos atores, naturalmente. Não sobraria um.

 

(Publicado aqui em 29 de março de 2005)

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