Como surgiu a tradição do Ovo de Páscoa no Brasil e no mundo?

 

O Ovo de Páscoa é um símbolo da data festiva e religiosa do Cristianismo, que encerra a Quaresma da crença, um período de jejum para os cristãos, e marca a crucificação, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Com os mais diversos tipos, desde um simples chocolate ao leite até ovos de colher, como surgiu essa tradição milenar?

As teorias e histórias dos ovos, que não eram comestíveis a princípio, são variadas ao redor do mundo. Apesar de ser uma data religiosa, influências pagãs, ou seja, de grupos que praticavam religiões politeístas, também tiveram um papel para tornar o símbolo em uma tradição da época.

O ovo era um atributo tradicional antigo, anterior ao Cristianismo, “que representava a fertilidade para diferentes povos” pagãos, segundo a pesquisa “Ovos de Páscoa: uma prática com modelagem matemática”, publicada na revista científica Brazilian Journal of Development. Essa importância podia ser observada em outras populações, como os persas, que pintavam ovos em comemoração ao Nowruz, o Ano Novo deles, considerado um período de renovação.

Séculos antes do nascimento de Cristo, a troca de ovos era comum no dia 21 de março, no Equinócio da Primavera no Hemisfério Norte, que marcava o fim do inverno e o início da nova estação. Nessa época, os agricultores acreditavam que, se enterrassem ovos, teriam boas colheitas e terras de cultivo na temporada — e assim o faziam.

Como, historicamente, a Páscoa pode acontecer entre os dias 22 de março e 25 de abril, logo após o equinócio, o Cristianismo considerou o ovo de Páscoa um símbolo da ressurreição de Cristo e passou a utilizá-lo nos primeiros séculos da era religiosa, conforme a conversão de povos pagãos.

O leste europeu também traz uma antiga tradição de colorir ovos de Páscoa — atividade conhecida como pysanka. Na Ucrânia, por exemplo, os povos decoram os ovos com padrões que tem significados específicos sobre saúde, pureza, proteção e fertilidade, segundo o livro sobre a tradição, “One Hour Easter Egg Workshop”, escrito por Oksana Zavadenko. O costume de presentear amigos e familiares com esses objetos só se difundiu na Europa durante a Idade Média.

E quando os ovos de Páscoa se tornaram comestíveis? O chocolate, considerado ingrediente sagrado para as civilizações dos Maias e Astecas, só entrou para o cardápio entre os séculos 19 e 20, segundo os estudiosos. O movimento começou na Europa e marcou tanto a inovação culinária quanto a adaptação da celebração.

Importante destacar também que, para os judeus, a Páscoa, ou Pessach, que significa Festa da Liberdade, carrega outra importância religiosa. Para eles, a celebração marca o período no qual deixaram o Egito, país onde viveram por quatro séculos como escravos. A data registra o início do calendário bíblico de Israel.

Quando o Brasil implementou os ovos de Páscoa?

A vinda dos ovos de Páscoa ao Brasil foi mais demorada do que em outras nações: chegando ao país só no século 20, após a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, em 1888. A pesquisa da revista científica Brazilian Journal of Development aponta que séculos de trabalho escravo e colonização dos portugueses podem ser um dos motivos para esse atraso.

Além desses motivos, os estudiosos ainda explicam que houve dificuldade de implementar a tradição no Brasil pela troca de ovos ser uma atividade lúdica — prática que coloca as crianças no holofote do consumo. Como elas eram consideradas “pequenos adultos” pela sociedade escravocrata, os ovos de Páscoa demoraram ainda mais tempo para fazer sucesso no país.

Atualmente, os ovos de Páscoa, que ficaram 9,5% mais caros em 2025, tonaram-se um símbolo da festividade ao redor do mundo, com os mais diversos tipos e para todos os gostos. No Brasil, é possível encontrar ovos com brinquedos de brinde até opções recheadas e de colher — com ou sem lactose.

Para pesquisadores citados na reportagem, o simbolismo da Páscoa cristã de hoje em dia significa a renovação, esperança e comemoração da vida.

“Os símbolos pascais — o cordeiro, as luzes e velas, o Círio Pascal, o coelho e os ovos de Páscoa — entrelaçam-se para formar uma narrativa rica e multifacetada que celebra os temas universais de redenção, sacrifício, renovação, esperança e a vitória da vida sobre a morte”, diz um trecho do livro “O Ritual da Páscoa na Colônia de São Pedro”, de Virgínia e Cristina Rolim Wolffenbüttel.

Fonte: CNN Brasil

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