Novo exame de sangue diagnostica Alzheimer e mede extensão da demência

A ciência está avançando no desenvolvimento de ferramentas para detectar o Alzheimer, mas nenhuma tinha mostrado resultados tão precisos quanto um novo teste sanguíneo divulgado nesta segunda-feira (31/1), na revista Nature Medicine.

O exame de sangue proposto pelos pesquisadores das universidades de Washington, nos Estados Unidos, e de Lund, na Suécia, não apenas diagnostica a doença, mas também mede o estágio da progressão da demência. O teste analisa uma proteína específica no sangue e pode indicar o grau de comprometimento cognitivo, algo que nem os exames mais modernos atuais fazem.

Os autores do estudo acreditam que a nova ferramenta pode orientar médicos na escolha do tratamento mais adequado, uma vez que as terapias para reduzir o declínio cognitivo são mais eficazes nos estágios iniciais da doença. Além disso, o exame diferencia o Alzheimer de outras causas de demência, eliminando dúvidas diagnósticas.


Os estágios do Alzheimer

O Alzheimer costuma evoluir de forma lenta, mas é progressiva e não tem cura. A partir do diagnóstico, segundo o Ministério da Saúde, a sobrevida média das pessoas acometidas pela doença oscila entre oito e 10 anos. O quadro clínico costuma ser dividido em quatro estágios. São eles:

  • Estágio 1 (forma inicial): nesta fase, observa-se pequenas alterações na memória, na personalidade e nas habilidades visuais e espaciais. Desorientação espacial costuma ser um dos primeiros sinais.
  • Estágio 2 (forma moderada): com o progresso da doença, começam a aparecer dificuldades para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos. Agitação e insônia também estão presentes. A maioria dos diagnósticos ocorre neste estágio.
  • Estágio 3 (forma grave): o comprometimento causado pela doença leva resistência à execução de tarefas diárias e irritabilidade. Aparece uma deficiência motora progressiva que causa, por exemplo, incontinência urinária e fecal. Pacientes também enfrentam dificuldade para comer.
  • Estágio 4 (terminal): no último estágio, os pacientes já não caminham ou falam. Apresentam dor ao engolir e são propensos a ter infecções intercorrentes.

Proteína no sangue revela danos do Alzheimer

O estudo focou na proteína MTBR-tau243, cujos níveis no sangue refletem a quantidade de emaranhados de tau no cérebro. Os emaranhados de tau são uma das principais causas do Alzheimer: essas proteínas mal-formadas se acumulam e se tornam tóxicas para o cérebro.

Ao analisar amostras de 108 voluntários nos EUA e 55 na Suécia, os pesquisadores constataram que a técnica identificou com 92% de precisão a presença e a gravidade dos danos.

Pacientes com declínio cognitivo leve apresentaram níveis elevados da proteína, enquanto aqueles com demência avançada tiveram concentrações até 200 vezes maiores do que uma pessoa saudável. O teste também distinguiu casos de Alzheimer de outras formas de demência, como aquelas causadas por doenças vasculares ou degeneração frontotemporal.

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Por ser uma doença que tende a se agravar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar o avanço. Portanto, ao apresentar quaisquer sintomas da doença é fundamental consultar um especialista

Apesar de os sintomas serem mais comuns em pessoas com idade superior a 70 anos, não é incomum se manifestarem em jovens por volta dos 30. Aliás, quando essa manifestação “prematura” acontece, a condição passa a ser denominada Alzheimer precoce
Na fase inicial, uma pessoa com Alzheimer tende a ter alteração na memória e passa a esquecer de coisas simples, tais como: onde guardou as chaves, o que comeu no café da manhã, o nome de alguém ou até a estação do ano
Desorientação, dificuldade para lembrar do endereço onde mora ou o caminho para casa, dificuldades para tomar simples decisões, como planejar o que vai fazer ou comer, por exemplo, também são sinais da manifestação da doença
Além disso, perda da vontade de praticar tarefas rotineiras, mudança no comportamento (tornando a pessoa mais nervosa ou agressiva), e repetições são alguns dos sintomas mais comuns
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Alzheimer é uma doença degenerativa causada pela morte de células cerebrais e que pode surgir décadas antes do aparecimento dos primeiros sintomas

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Por ser uma doença que tende a se agravar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar o avanço. Portanto, ao apresentar quaisquer sintomas da doença é fundamental consultar um especialista

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Apesar de os sintomas serem mais comuns em pessoas com idade superior a 70 anos, não é incomum se manifestarem em jovens por volta dos 30. Aliás, quando essa manifestação “prematura” acontece, a condição passa a ser denominada Alzheimer precoce

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Na fase inicial, uma pessoa com Alzheimer tende a ter alteração na memória e passa a esquecer de coisas simples, tais como: onde guardou as chaves, o que comeu no café da manhã, o nome de alguém ou até a estação do ano

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Desorientação, dificuldade para lembrar do endereço onde mora ou o caminho para casa, dificuldades para tomar simples decisões, como planejar o que vai fazer ou comer, por exemplo, também são sinais da manifestação da doença

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Além disso, perda da vontade de praticar tarefas rotineiras, mudança no comportamento (tornando a pessoa mais nervosa ou agressiva), e repetições são alguns dos sintomas mais comuns

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Segundo pesquisa realizada pela fundação Alzheimer’s Drugs Discovery Foundation (ADDF), a presença de proteínas danificadas (Amilóide e Tau), doenças vasculares, neuroinflamação, falha de energia neural e genética (APOE) podem estar relacionadas com o surgimento da doença

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O tratamento do Alzheimer é feito com uso de medicamentos para diminuir os sintomas da doença, além de ser necessário realizar fisioterapia e estimulação cognitiva. A doença não tem cura e o cuidado deve ser feito até o fim da vida

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Alternativa acessível a exames complexos

Atualmente, o método padrão para avaliar Alzheimer é a tomografia por emissão de pósitrons (PET), que detecta placas amiloides e emaranhados de tau no cérebro. Apesar da precisão, o exame é caro, demorado e pouco acessível. “Um teste sanguíneo para tau como este pode ser crucial na prática clínica para popularizar o diagnóstico”, disse o neurologista Randall Bateman, um dos coautores do estudo, em comunicado à imprensa.

A equipe já havia desenvolvido exames de sangue para as placas de proteína amiloide, usados hoje por médicos. Agora, a adição da análise de tau permite um panorama mais completo e até uma forma mais precisa de medir a demência. A tecnologia foi licenciada para a C2N Diagnostics, empresa que comercializa os testes de sangue anteriores.

Futuro com tratamento personalizado

Com terapias recentes aprovadas pela FDA e outras em desenvolvimento, a capacidade de identificar o estágio da doença se torna essencial. “Estamos entrando na era da medicina personalizada para Alzheimer”, afirmou o neurologista Kanta Horie, coautor do estudo. “Exames como este permitirão ajustar tratamentos conforme a progressão”.

Para estágios iniciais, drogas anti-amiloides podem ser mais eficazes, enquanto em fases avançadas, terapias direcionadas à tau ganham relevância.

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