A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), chamou atenção nesta segunda-feira (31/3), ao participar de um evento em São Paulo, para o fato de o Brasil estar “envelhecendo” antes de se tornar um país rico, perdendo o chamado “bônus demográfico”.
As declarações da chefe do Planejamento do governo federal foram dadas durante o seminário “Diálogos para a Construção da Estratégia Brasil 2025-2050”, promovido pelo Ministério do Planejamento e Orçamento. O evento ocorreu na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista, e também contou com a participação do ministro do ministro do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, Márcio França (PSB).
Tebet apresentou as diretrizes do planejamento estratégico do Estado brasileiro para os próximos 25 anos. Segundo a ministra, o plano deve ser “a verdadeira bússola, a carta náutica a nos comandar”. “Que Brasil queremos já em 2026? Em 2035? Em 2040? Em 2045? Porque é disso que se trata a Estratégia Brasil”, afirmou.
De acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira deve começar a “encolher” em 2042. O país passará dos atuais 203 milhões para 220 milhões de habitantes até 2041, mas, a partir do ano seguinte, começará a recuar até chegar a 199,2 milhões de habitantes em 2070.
O chamado bônus demográfico é o período em que a população de um país tem mais pessoas em idade de trabalhar do que idosos e crianças. Trata-se de uma oportunidade para o desenvolvimento econômico – que, no caso do Brasil, não está sendo aproveitada.
“O Brasil está envelhecendo, as pessoas não querem mais ter filhos. O problema não é envelhecer, mas nós estamos envelhecendo mal. Estamos envelhecendo sem termos enriquecido enquanto país”, disse Tebet. “Ainda há tempo, temos uma janela curta.”
Desigualdade
Segundo a ministra do Planejamento, um dos problemas mais dramáticos do país é a desigualdade social e entre as próprias regiões brasileiras.
“É um Brasil que tem uma desigualdade regional absurda. Não vai haver diminuição da pobreza e da miséria se não enfrentarmos as gravíssimas desigualdades do país”, afirmou Tebet. “O que importa é as pessoas terem renda. Não é só aumentar o PIB do país. Precisamos olhar para as pessoas”, prosseguiu a ministra, ressaltando a necessidade de se dobrar o PIB per capita do Brasil.
“Mundo em transformação”
Em seu pronunciamento, Simone Tebet disse que a preocupação do governo brasileiro com um plano estratégico para o futuro “não começou agora”. “Não é um processo eleitoreiro. O presidente Lula me deu carta branca há mais de 1 ano. Nós precisamos entregar uma estratégia para o Brasil. Recebemos projetos de todos os setores”, observou.
“Este é um mundo em transformação cada vez mais acelerada. Nós temos hoje mais de 40 conflitos geopolíticos no mundo”, destacou Tebet.
“Não estamos aqui para polarizar nada, mas é para mostrar por que os preços dos alimentos estão tão altos. É claro que há fatores climáticos e, em certos fatores, temos uma tempestade perfeita. Mas é também porque nós não planejamos no passado”, continuou a ministra do Planejamento.
“O que nós fizemos em relação ao desperdício de alimentos no Ceasa, no supermercado ou dentro da nossa casa? O que nós fizemos em relação ao desmatamento na Amazônia, que tira a chuva do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, que hoje são o celeiro do Brasil? O que nós fizemos em relação às mudanças climáticas?”, indagou Tebet.
Brasil 2050
Prevista para ser concluída ainda neste primeiro semestre, a Estratégia Brasil 2050 reunirá metas e objetivos definidos com diversos setores da sociedade, com foco no desenvolvimento nacional.
O plano tem a coordenação da Secretaria Nacional de Planejamento (Seplan) e aponta o ano de 2050 como horizonte estratégico, alinhado às mudanças demográficas e socioeconômicas em curso. Os debates sobre o projeto devem ocorrer até junho, em diversas capitais brasileiras.