Juiz com nome falso: José Eduardo disse que Edward é seu irmão gêmeo

São Paulo — O homem acusado de ter a verdadeira identidade por trás do juiz Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield disse à Polícia que, na realidade, é irmão gêmeo do magistrado. A versão não convenceu os investigadores e José Eduardo Franco dos Reis acabou denunciado por falsidade ideológica pelo Ministério Público.

Em depoimento à Polícia Civil em dezembro de 2024, José Eduardo afirmou que, após a morte de seu pai, sua mãe contou que ele tinha um irmão gêmeo. A criança teria sido doada a outra família e seria Edward Albert.

O acusado disse que teve o primeiro contato com o suposto irmão no início da década de 1980, quando Edward “veio ao Brasil”. Segundo ele, o irmão trabalhava como professor e teria vivido aqui até se aposentar, mudando depois para Londres, na Inglaterra. Ele chegou a apresentar um endereço e telefone que pertenceriam a Edward para a Polícia.

José disse ainda que foi ao Poupatempo da Sé em outubro daquele ano para fazer uma segunda via do RG do irmão, a pedido dele. Como mostrou o Metrópoles, foi nesta ocasião em que o caso começou a ser investigado.

Segundo a denúncia do Ministério Público, José se apresentou no Poupatempo como sendo Edward Albert e pedindo uma nova via do documento de identidade. Ao ter as impressões digitais registradas, no entanto, os sistemas de identificação automatizados apontaram que elas pertenciam, na verdade, a um homem chamado José Eduardo Franco dos Reis.

As inconsistências deram origem à investigação policial, que culminou na denuncia por falsidade ideológica.

Entenda o caso

A investigação do MPSP aponta que o José Eduardo enganou uma série de instituições se passando por Edward, um “descendente de nobres britânicos”, como afirmou em uma entrevista em 1995. Com a identidade falsa, ele entrou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e construiu carreira no meio jurídico.

“Com a cédula de identidade e demais documentos, sob a persona fictícia de Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield, o denunciado José Eduardo Franco dos Reis, dentre outros possíveis usos da documentação ideologicamente falsa em atos da vida civil, ingressou no curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, onde se formou em 1992. Em 1995, foi aprovado no concurso de Juiz de Direito, passando a exercer a magistratura até a aposentadoria”, afirma o MPSP.