Guerra declarada: facções batem de frente e desafiam o Estado

Nascidas, em sua maioria, dentro dos presídios, as facções criminosas buscam consolidar poder e ampliar sua influência. No Brasil, estão presentes em todas as regiões. Dados do Mapa das Organizações Criminosas 2024 revelam que 88 facções foram identificadas no país nos últimos três anos. Além de atuarem no tráfico de drogas, essas organizações também se articulam para enfraquecer o poder do Estado.

Rebeliões, fugas, resgates e confrontos são algumas das estratégias utilizadas na busca por domínio e controle. Na ânsia pelo poder, os grupos adotam medidas para ocupar o topo da hierarquia criminal.

Segundo levantamento do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), 71% dessas organizações possuem estatuto próprio, reproduzindo modelos estatais em uma estrutura paralela, com regras e leis próprias.

Guerra facções

Ameaças e violência

Nessa sexta-feira (4/4), a coluna revelou que o Comado Vermelho (CV) planejava, em um presídio de no Tocantins (TO), uma rebelião com reféns, fuga em massa e ataques coordenados contra autoridades públicas, incluindo juízes, promotores, delegados e policiais penais. O objetivo, segundo fontes da segurança, seria atingir diretamente o Estado como forma de retaliação e intimidação institucional.

“Guerra declarada”

Em entrevista exclusiva à coluna, um policial penal, que trabalha nas unidades prisionais do Tocantins e atua na linha de frente contra os criminosos, descreveu o clima de tensão crescente dentro do sistema penitenciário.

“A animosidade entre presos e policiais aumenta a cada dia. A Segurança Pública sabe que é uma guerra declarada. A trégua entre o Primeiro Comado da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) é só uma forma de unir forças para impulsionar o crime organizado e derrubar o Estado.”

O policial revelou que, há cerca de um mês, um “salve” (ordem interna da facção) colocou 10 policiais penais na mira de retaliações – e ele está entre os nomes da lista.

O outro lado da força

À coluna, o Ministério da Justiça (MJ) informou que está desenvolvendo um plano de retomada territorial baseado em estudos técnicos sobre a economia do crime e seus líderes em determinadas regiões.

A estratégia prevê não apenas operações policiais para prender os responsáveis, mas também medidas para substituir a estrutura criminosa por um novo ciclo econômico legítimo. A proposta inclui a criação de centros de convivência para jovens, capacitação profissional, geração de renda e espaços de cidadania para facilitar o acesso a documentos e incentivar o empreendedorismo local.

O projeto-piloto será implementado inicialmente no Nordeste, em parceria com governos estaduais, e depois expandido para outras regiões do país. A iniciativa busca evitar que áreas retomadas pelo Estado voltem a ser controladas pelo crime organizado, como já ocorreu em experiências anteriores.

“Para isso, o governo estuda modelos bem-sucedidos em outros países, como a Colômbia, e pretende estabelecer um padrão nacional para a retomada territorial e a presença contínua do poder público nessas localidades.”

 

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