Bolsonaro aposta em multidão em SP para elevar pressão por anistia

São Paulo — Após a frustrante adesão à manifestação realizada há três semanas na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aposta em levar uma multidão neste domingo (6/4) à Avenida Paulista, em São Paulo, para pressionar o Congresso Nacional a aprovar a anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e demonstrar que ainda tem poder de mobilização popular frente ao desgaste enfrentado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O foco em uma pauta única — a anistia — e o uso de um símbolo feminino — o batom — para convocar apoiadores para o ato pelas redes sociais são o grande trunfo do núcleo duro bolsonarista para encher os quarteirões da avenida mais famosa da capital paulista nesta tarde e mostrar força política contra o Supremo Tribunal Federal (STF), que tornou Bolsonaro e mais sete aliados réus no fim de março, por suposto envolvimento em uma trama golpista para manter o ex-presidente no poder após a derrota para Lula nas eleições de 2022.

Além do apelo para que os apoiadores compareçam em grande número na Paulista — até a previsão do tempo foi monitorada de perto pelos organizadores e não há previsão de chuva na hora da manifestação —, aliados de Bolsonaro se esforçaram para reunir a maior quantidade de governadores no trio elétrico destinado às autoridades. Segundo o pastor Silas Malafaia, sete governadores confirmaram presença, entre eles Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Cláudio Castro (PL-RJ) e Romeu Zema (Novo-MG), dos três estados mais populosos do país.

Principal organizador do ato, Malafaia acredita que quanto mais governadores forem à Paulista mais respaldo a mobilização terá para dar urgência à tramitação do projeto de lei sobre a anistia na Câmara dos Deputados. O pastor diz que a presença de chefes do Executivo de vários estados remonta à mobilização feita há quase uma década, no mesmo endereço, para pedir o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

“Isso [participação dos governadores] tem uma importância, porque representa poder político, para pressionar deputados”, disse Malafaia ao Metrópoles. “A última vez que teve vários governadores foi em 2015. Então, tem 10 anos que não tem um movimento, com tanto político como esse”, acrescentou o líder religioso, que insistiu até o último minuto para que o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), fosse ao ato deste dmoningo. Caiado lançou pré-candidatura à Presidência na sexta-feira (4/4) e deve comparecer porque não está disposto a perder a exposição do evento deste domingo, com todos os holofotes políticos voltados à Avenida Paulista.

Bolsonaro também atuou para que mais governadores topassem ir à Paulista na manifestação pela anistia aos envolvidos nos atos do 8 de Janeiro. O governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), acertou sua ida ao ato após almoçar com o ex-presidente no Palácio Iguaçu, sede do governo paranaense, nessa sexta-feira (4/4). Segundo um parlamentar próximo a Bolsonaro, a ideia de reunir muitos governadores é mostrar que a pauta da anistia supera qualquer divisão da direita na disputa por espaço eleitoral em 2026.

São Paulo maior que o Rio

Embora não faça estimativa de público, Malafaia aposta que o ato da Paulista será muito maior do que o de Copacabana, há três semanas. Entre os motivos, ele aponta o fato de a capital paulista ter uma população muito maior do que a do Rio, a Avenida Paulista ser o grande palco de manifestações políticas do país, e o horário da manifestação, prevista para começar às 14h — no Rio, o ato foi de manhã por causa do jogo da final do Campeonato Carioca. “Tinha final de Fla-Flu e a gente não pôde fazer à tarde. Tivemos que fazer de manhã, o que é um pouco mais difícil aqui no Rio”, afirmou o pastor.

Para o professor da Universidade de São Paulo (USP) Pablo Ortellado, que faz o monitoramento das manifestações por meio do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), o ato de Copacabana teve problemas de organização que podem ter atrapalhado o engajamento. Segundo o monitoramento dele, o ato na capital fluminense reuniu 18,3 mil pessoas. O Instituto Datafolha estimou o público em 30 mil, enquanto a Secretaria da Segurança Público do Rio divulgou 400 mil presentes.

“Supondo que o problema de convocação foi o que fez com que aquele número fosse baixo, eu acho que pode ser que a gente tenha uma mobilização bem significativa aqui na Avenida Paulista, alguma coisa aí entre 40 e 60 mil, que é o patamar de mobilização que os bolsonaristas têm conseguido”, prevê o professor da USP.

Ortellado faz menção às brigas envolvendo o núcleo do bolsonarismo que mudaram o local da manifestação do dia 16 de março de São Paulo para o Rio, além das mudanças na pauta, que começou sendo “Fora Lula”, passou para “Fora Lula em 2026”, até chegar em “Anistia Já”. Esses fatores dão força à teoria que o esvaziamento em Copacabana foi mais um problema de desorganização que uma desmobilização do bolsonarismo.

Para a Paulista, o professor observa que os mobilizadores conseguiram concordar em uma pauta única, da anistia, além de terem mantido o mesmo endereço, data e horário desde o princípio da mobilização.

A escolha da anistia dos envolvidos nos atos de 8/1 é um elemento importante para aumentar a expectativa de público neste domingo. No monitoramento das redes sociais sociais bolsonaristas, Ortellado tem observado que o tema domina os diálogos do campo da direita e pode ser uma pauta mais forte das que foram propostas em outros momentos, como o impeachment de ministros do STF ou o “Fora Lula”.

“Eu diria que a anistia é a questão mais mobilizadora do campo do Bolsonaro, pelo que estou observando nas mídias sociais desse campo. Então, compreendo a expectativa dos bolsonaristas de ter uma organização gigante por conta disso”, afirma Pablo Ortellado

O ato do domingo será um termômetro para avaliar se a teoria se confirma ou não. Jair Bolsonaro (PL) deve usar o protesto para testar se o tema tem apelo fora das redes e, em caso positivo, tentar usar a mobilização para pressionar a tramitação do PL da Anistia na Câmara dos Deputados.

Também será o momento de teste para o próprio Bolsonaro. Depois dos números de Copacabana, surgiu a especulação de que o ex-presidente estaria perdendo seu poder de mobilização popular, uma perspectiva que, para Ortellado, ainda é prematura.

“Esses processos de mobilização, eles têm essas oscilações, que não quer dizer necessariamente que o grupo político perdeu capacidade de mobilização. Eu diria que são oscilações naturais da política. Pode sim estar acontecendo [a desmobilização], mas a gente vai precisar ver algumas instâncias, alguns episódios de mobilização baixa para a gente começar a formar esse juízo, justamente porque a mobilização oscila”.

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