
Crianças e adolescentes com acompanhamento pediátrico têm maior cobertura vacinal, alimentam-se melhor, têm menor índice de obesidade, respeitam mais o tempo ideal de acesso às telas e têm um sono com mais qualidade. Essa é uma das conclusões do “Estudo da Criança Catarina – Mapa da saúde infantojuvenil de Santa Catarina”, lançado na última segunda-feira (7) pela SCP (Sociedade Catarinense de Pediatria), em parceria com a ACM (Associação Catarinense de Medicina).

Acompanhamento pediátrico melhora a saúde das crianças – Foto: Reprodução/Freepik/ND
O estudo inédito em sua abrangência e regionalização, realizado pelo Instituto Mapa, traçou o perfil da assistência das crianças de zero até os 14 anos, bem como o impacto diante de temas desafiadores, como o acesso aos serviços de pediatria, hábitos de vida, uso de telas, acidentes domésticos, qualidade do sono, brincadeiras ao ar livre e até crenças sobre vacinação, entre outros tópicos relevantes.
O trabalho envolveu 2.002 crianças em 98 cidades do Estado, com base em entrevistas presenciais, em locais de fluxo do público-alvo (mães), por equipe treinada para fazer as perguntas formuladas pelos pediatras da SCP.
“A pesquisa mostra um mapa de como as crianças estão se desenvolvendo no Estado. Temos dados de nutrição desde o nascimento até os 14 anos, tempo de tela, vacinação, atividades físicas. Com esses dados, os nossos gestores públicos terão um norte. Isso é importante porque os recursos são limitados, mas se souber onde está o problema pode-se focar os recursos neste problema”, destacou o presidente da ACM, André Sobierajski dos Santos.

André Sobierajski presidente da ACM apresenta pesquisa sobre a saúde das crianças – Foto: Germano Rorato/ND
Dados alarmantes sobre a saúde das crianças
A presidente da SCP, Nilza Medeiros Perin, chamou a atenção para outros dados alarmantes. “Alguns fatores muito importantes que nos preocuparam muito foram os níveis de sobrepeso e obesidade em todas as regiões estudadas.”
Segundo o estudo, 16,4% dos entrevistados têm sobrepeso e 21,8% estão obesos. Enquanto isso, ainda há 6,9% que estão no nível de magreza. “As crianças estão comendo mal, estão fazendo pouca atividade física, quase a metade está com peso inadequado e ainda não abandonamos o fantasma da desnutrição”, acrescentou a cardiologista pediátrica responsável pelo resumo do estudo, Isabela Back.
Outro dado preocupante foi o tempo de tela. Durante a semana, 56% dos entrevistados ficam até duas horas, enquanto 44% ficam três horas ou mais. No fim de semana, 52% ficam somente duas horas, e 48%, três horas ou mais.

Isabela Back fala sobre o sobrepeso no público infantil – Foto: Germano Rorato/ND
“A partir de 2013, o uso do celular se espalhou tanto entre adultos quanto entre crianças, houve um impacto muito grande. Existem algumas síndromes que simulam o autismo em crianças muito pequenas expostas às telas, o que pode comprometer o cérebro de forma bastante significativa, conforme mostram alguns estudos, incluindo exames de ressonância magnética que indicam alterações estruturais no cérebro. Isso é algo muito grave, e ainda mais preocupante quando se trata do celular, pois é essa a principal tela utilizada pela maioria das crianças.”
Pediatra reclama da pouca adesão de gestores públicos
O objetivo do evento foi apresentar o estudo completo para os gestores públicos de saúde, mas a falta de adesão fez com que Nilza fizesse uma provocação.
“Nós convidamos os gestores de saúde para que eles se conscientizem, porque isso na verdade é saúde pública, é prevenção. […] Nós mandamos e-mail, telefonamos, mas a falta de interesse é imensa. São dados riquíssimos, foi um estudo que levou muito trabalho e demandou dinheiro também. Ficamos contentes pela presença de quem compareceu, mas, por outro lado, frustrados pela falta de interesse dos gestores de saúde”, constatou a presidente da SCP.
Dados sobre saúde das crianças
Aonde levam o filho doente?
- UBS: 35%
- Emergência do hospital: 27%
- UPA: 18%
- Consultório do pediatra: 18%
- Consultório não pediatra: 1%
Qual o tipo de assistência?
- SUS: 69%
- Rede privada: 18%
- Ambas: 12%
Como você percebe as vacinas?
As escolas devem exigir caderneta?
- Sim: 84%
- Não: 16%
Os benefícios são maiores que os riscos?
- Sim: 60%
- Não: 40%
Telas
Quanto tempo de telas, por dia, sem relação com a escola?
Durante a semana:
- Até 2h: 56%
- 3h ou +: 44%
No fim de semana:
- Até 2h: 52%
- 3h ou +: 48%
Moda (faixas mais frequentes)
Menos de 1 ano: quase nunca
- 1 a 4 anos: 1 h/d
- 5 a 9 anos: 3 h/d
- 10 a 14 anos: 5 ou + h/d
Recomendação OMS
- Até 2 anos: nada
- Até 6 anos: até 1 h/dia
- +de 6 anos: até 2 h/dia, sem relação com escola