
Uma pesquisa liderada pela Climate Central e pela Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, projeta que o nível do mar pode aumentar até 1,9 metros até o final do século. O estudo aponta que diversas cidades do Brasil, inclusive no Litoral de Santa Catarina, ficam sob risco.

Uma pesquisa internacional apontou que o litoral catarinense pode ser engolido pelo nível do mar até 2100 – Foto: Imagem gerada por IA/ND
A projeção supera em 90 cm as estimativas mais recentes da ONU e destaca a urgência de ações contra as mudanças climáticas. A nova pesquisa, feita em parceria a Universidade de Tecnologia de Delft (TU Delft), na Holanda, foi publicada no dia 27 de janeiro deste ano.
Aumento do nível do mar pode atingir Litoral catarinense, diz estudo
O estudo, que analisou um cenário de altas emissões de CO₂, indica que bairros inteiros de Florianópolis, São José, Palhoça e outras localidades podem ficar parcialmente submersos. Entre as áreas mais vulneráveis estão Jurerê, Barra da Lagoa e Estreito, na Capital, além do Centro de Palhoça e regiões de Balneário Camboriú, Bombinhas e Imbituba.
Quais regiões de Santa Catarina seriam atingidas:
- Florianópolis: Bairros como Carianos, Abraão e Coqueiros sob ameaça;
- Palhoça: Centro, Pinheira e Passagem do Maciambu em área crítica;
- Outras cidades de SC: Porto Belo, Tijucas e Governador Celso Ramos também estão no mapa de risco, segundo a pesquisa.

Regiões à Beira-Mar de Florianópolis seriam as mais atingidas – Foto: Imagem gerada por IA/ND
O aumento do nível do mar foi calculado com base em modelos climáticos que consideram o derretimento acelerado de geleiras e outros fenômenos relacionados ao aquecimento global. Segundo o professor Benjamin Horton, diretor do Earth Observatory of Singapore, a pesquisa evidencia a gravidade dos impactos que comunidades costeiras podem enfrentar.
A pesquisa da Climate Central aborda cenários extremos de elevação oceânica e alerta mais precisos sobre vulnerabilidade costeira. A pesquisa da Clima Central baseia-se em projeções atualizadas de emissões de CO2.
“Essa pesquisa representa um avanço significativo na ciência do nível do mar. Ao estimar a probabilidade dos resultados mais extremos, ela destaca os impactos graves que a elevação do nível do mar pode ter em comunidades costeiras, infraestrutura e ecossistemas, ressaltando a urgência em lidar com a crise climática”, explica o professor Benjamin Horton, diretor do Earth Observatory of Singapore.

Áreas litorâneas de Santa Catarina, como Balneário Camboriú, poder ser invadidas pelo mar até o final do século – Foto: Imagem gerada por IA/ND
Oceanógrafo explica o que pode acontecer com o aumento do nível do mar
De acordo com o professor Jules Soto, curador-geral do Museu Oceanográfico da Univali, o mundo vive o fim de uma glaciação, “desde o período Pleistoceno, que foi o final dos animais da Era do Gelo, já com o homem já habitando na América, inclusive, no Brasil”.
“A partir daí, começou um processo de aquecimento global. E esse processo de aquecimento, se dá da seguinte forma: uma relação muito lógica de física. Quanto menor a quantidade de gelo, essa troca de calor se dá de uma forma mais acelerada, no sentido de aquecimento”, explica Soto.
Conforme o oceanógrafo, quanto menos calotas de gelo, menos áreas glaciais vão resfriar o ar, esquentando, assim, os oceanos. “Mesmo que o ser humano não existisse na Terra, esse aquecimento ia acontecer”, alerta o oceanógrafo.

A Geleira do Juízo Final, a maior do mundo, tem este apelido porque o seu colapso pode causar um aumento catastrófico do nível do mar – Foto: Divulgação/Nasa/ND
Sobre o estudo que aponta o aumento do nível do mar em áreas litorâneas pelo mundo, incluindo Santa Catarina, Soto destaca que os dados que se tem verdadeiramente científicos, é que essa contribuição é visória em proporção aos mecanismos naturais. “Então, ela não tem sido determinante”, diz.
“Não existe nenhum trabalho, atualmente, no mundo, contundente, que diga que a queima de combustíveis fósseis está sendo determinante para o aquecimento global. O que há é uma relação direta entre desenvolvimento tecnológico, queima de combustíveis fósseis, com o aquecimento global, que estão acontecendo paralelamente”, explica.
Soto destaca que o efeito está gerando aumento do nível do mar. “Contudo, ainda é de uma forma muito breve”, disse o professor, complementando que já houve aumentos no último século e que este foi o mais rápido, inclusive com fases que estancou.
O que fazer para frear o avanço do mar?
Soto afirma que não há uma relação custo-benefício que justificasse qualquer medida para conter o avanço do mar. “Essas medidas não ocorrem de uma forma calculada. Vamos fazer barreiras? Não! Isso não tem sentido nenhum”. Segundo ele, com o passar dos séculos, principalmente, em 100 anos, esse nível do mar vai começa a “incomodar”.
“Nós já não teremos o litoral como a gente conhece hoje. Então, as próprias tecnologias, o próprio desenvolvimento da engenharia vai desenvolvendo mecanismos naturais de proteção’, explica Jules Soto.
O oceanógrafo deu como exemplo os Países Baixos (Holanda), que desenvolveu estruturas e bombeou água para fora dessas estruturas, ficando abaixo do nível do mar. “Mas isso é uma engenharia que vai acontecendo conforme os problemas vão se apresentando”, pontuou.