‘Precisamos cobrar, queremos os túneis’, diz liderança indígena sobre obra no Morro dos Cavalos

O acidente com um caminhão-tanque que tombou, pegou fogo e queimou também 27 veículos no último domingo (6) reativou a necessidade de intervenções na BR-101, no Morro dos Cavalos. A principal delas é a construção de túneis próximo à rodovia, a fim de tirar o tráfego pesado da BR e deixá-la livre para o tráfego de veículos menores e de passeio.

Grave acidente no Morro dos Cavalos deixou congestionamento quilométrico na BR-101 – Foto: Divulgação/CBMSC/ND

Entidades como Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina) e Fetrancesc (Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Estado de Santa Catarina) se manifestaram favoráveis a este projeto. Agora, ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e o Ministério dos Transportes também comentaram o assunto. Além disso, a liderança da aldeia indígena Morro dos Cavalos também apoia a ideia.

A ANTT se manifestou por meio de nota e informou que o trecho é alvo de estudos para a realização de obras que melhorem a segurança e a fluidez do tráfego e que, entre as soluções em análise, está a construção de um túnel.

“Essas intervenções poderão ser viabilizadas por meio do processo de revisão quinquenal do contrato de concessão da Concessionária Catarinense de Rodovias S.A. (Via Costeira), ou ainda pelo procedimento de readaptação e otimização contratual do contrato da Concessionária Autopista Litoral Sul, atualmente em análise na ANTT”, destacou a agência, reiterando também que segue atuando para viabilizar a melhor solução para o trecho, com foco na segurança viária e no interesse público.

O Ministério dos Transportes ressaltou que, no que se refere ao processo de otimização da Autopista Litoral Sul, do ponto de vista da política pública, a proposta já obteve admissão por parte do ministério e que segue em instrução no âmbito da ANTT, para avaliações subsequentes e posterior submissão ao TCU (Tribunal de Contas da União).

“Importante esclarecer que o processo de otimização é um fórum adequado para a discussão de problemas estruturais existentes no sistema rodoviário e as possíveis soluções a serem realizadas, especialmente no que diz respeito aos aspectos atinentes à segurança viária. O Ministério dos Transportes estuda alternativas para viabilizar a execução da referida obra, bem como a alternativa com maiores benefícios aos usuários e menor impacto ambiental.”

Ontem, a Arteris Litoral Sul realizou serviços de retirada de árvores na região do km 233,7, em Palhoça. Já os serviços de manutenção no pavimento, iniciados na madrugada, terão sua conclusão remarcada em razão das condições climáticas desfavoráveis.

Indígenas apoiam construção dos túneis

A aldeia indígena do Morro dos Cavalos, às margens da BR-101, não representa nenhuma dificuldade para a construção dos túneis para melhorar o tráfego na localidade. Liderança da aldeia, Kerexu Ixapyry participa de discussões em busca de soluções desde os anos 2000.

“A Funai trouxe para a comunidade indígena avaliar o que pensava sobre isso. Na época surgiram algumas sugestões, como aumentar a pista, fazer uma pista aérea, por cima da vegetação, ou construir túnel”, lembrou Kerexu.

Kerexu defende a construção não apenas de um, mas de dois túneis no Morro dos Cavalos – Foto: Guilherme Cavalli/Cimi

A liderança indígena disse ainda que a própria comunidade sugeriu a construção não apenas de um, mas de dois túneis, por uma questão de segurança para a própria aldeia. Segundo ela, na época, o TCU (Tribunal de Contas da União), provocado após uma denúncia de que a obra seria muito cara, constatou justamente o contrário:

“A decisão do TCU foi de que era mais viável a construção dos dois túneis, por questões ambientais, por causa da comunidade indígena, e porque a manutenção dos túneis seria mais barata”, destacou Kerexu.

Os estudos de licenciamento iniciaram em 2010 e, em 2015, a licença para as obras foi assinada, inclusive pela Funai e Ibama, porém, a obra nunca saiu do papel. “Precisamos cobrar. Queremos os túneis. Eles são importantes para nós também, tanto pela segurança do território quanto pela questão ambiental”, afirmou Kerexu.

Casal do caminhão-tanque é do Rio Grande do Sul

Tiago Antonio Chies e Thalya Pires é o casal a bordo do caminhão-tanque que provocou o acidente do último domingo na BR-101. Os dois seguem hospitalizados, no Hospital Regional de São José. Tiago é quem dirigia o caminhão Iveco Stralis que tombou, derramando o álcool etílico na pista que entrou em ignição e queimou mais de 20 veículos no sentido contrário ao acidente.

Tiago Antonio Chies, de 31 anos, estava com a namorada, Thalia Pires, no caminhão-tanque que tombou na BR-101, no Morro dos Cavalos – Foto: NDTV/Reprodução

Acionada, a direção do Hospital Regional de São José se manifestou por meio de nota destacando que dois pacientes foram transferidos para a unidade a fim de receber atendimento especializado.

A Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina, que administra o hospital, porém, segue a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), portanto, não fornece informações sobre o estado de saúde de pacientes atendidos ou internados. Numa apuração extraoficial, jornalistas da NDTV descobriram que o casal está num quarto comum e apresenta estado de saúde estável.

Antes de procurar atendimento hospitalar, o casal recebeu primeiros-socorros de um médico que estava hospedado numa pousada próxima ao local do acidente. Tiago e Talya estavam bastante apreensivos, mas não apresentavam ferimentos graves, segundo o dono da pousada, Natanael Laurindo.

Conforme resolução da ANTT, em relação às normas para MOPP (Movimentação e Operação de Produtos Perigosos), não há vedação expressa à presença de acompanhante, desde que o mesmo esteja relacionado à operação – como ajudante ou técnico – ou seja previamente autorizado pela empresa transportadora ou pelo contratante da carga.

De acordo com a PRF (Polícia Rodoviária Federal) é preciso verificar junto à empresa transportadora ou ao contratante da carga se o motorista tinha autorização para levar a namorada na viagem. Cabe destacar que a responsabilidade pela fiscalização do transporte de produtos perigosos é conjunta, abrangendo ANTT, PRF, polícia militar, órgãos estaduais e municipais de trânsito, além da Justiça do Trabalho.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.