São Paulo — A aprovação da vacina contra a chikungunya, anunciada nesta segunda-feira (14/4) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), dá esperança de que a doença seja erradicada no Brasil.
O imunizante, produzido pelo Instituto Butantan em parceria com a Valneva, é o primeiro desenvolvido para o combate à doença. Ao Metrópoles, o diretor de Assuntos Regulatórios e Qualidade do Butantan, Gustavo Mendes, explicou que, caso a imunização da população seja realizada de forma eficiente, a medida poderá levar à erradicação da chikungunya.
“Os dados de eficácia da vacina são bastante robustos, são dados bastante promissores. A chikungunya é uma doença que tem esse perfil de surtos em regiões específicas. E a nossa expectativa é que a gente consiga proteger a população, inclusive antecipando para que esses surtos não aconteçam. A nossa esperança é que a gente consiga tornar a chikungunya uma doença que não circule mais”, disse Gustavo Mendes.
Para que a doença seja considerada erradicada, o diretor do Butantan explica que são necessários anos seguidos sem o registro da sua incidência. Isso depende, entre outros fatores, da disponibilidade e adesão da população ao imunizante.
No caso da chikungunya, há uma chance maior disso acontecer porque, segundo Mendes, a vacina tem um alto nível de efetividade e consegue ser aplicada em um única dose, sem a necessidade de campanhas periódicas de reforço.
A aprovação da vacina pela Anvisa nessa segunda-feira (14/4) permitirá que o Butantan negocie com o Ministério da Saúde o início da distribuição pelo Sistema Único de Saúde. A expectativa é que o imunizante comece a ser distribuído nas regiões com maior incidência da doença, nas regiões Norte e Nordeste do país, o que será feito após a incorporação ao PNI (Plano Nacional de Imunização).
“Na incorporação no PNI [Plano Nacional de Imunização] o Ministério da Saúde irá decidir exatamente quantas doses serão compradas e onde ele vai disponibilizar. Isso é baseado no custo da vacina também, e na efetividade que se espera, ou seja, quanto eu vou ter de resposta (…) A gente já sabe, em conversa com o Ministério da Saúde, que o objetivo é imunizar especificamente as regiões onde existem mais esses casos. Mas isso vai ser uma negociação, por isso que a gente ainda não tem uma data específica de quando esses imunizantes vão estar disponíveis”, afirmou Mendes ao Metrópoles
O que é a chikungunya
- Chikungunya é uma doença febril que pode causar dor crônica, especialmente nas articulações
- Em 2024, afetou 620 mil pessoas no mundo, incidindo principalmente em países como o Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia
- Ela é transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti ou Aedes albopictus
- No Brasil, se concentra em especial na região Sudeste
Novo imunizante
O novo imunizante do Butantan foi produzido em parceria com a empresa farmacêutica franco-austríaca, com testes nos Estados Unidos, em um estudo clínico com 4 mil voluntários de 18 a 65 anos.
Os resultados mostraram que 98,9% dos participantes produziram anticorpos que neutralizam o vírus. Os níveis desses anticorpos se mantiveram robustos por ao menos seis meses.
A vacina também foi registrada pelas agências reguladoras dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), e da União Europeia, a European Medicines Agency (EMA). Gustavo Mendes explica que, no caso da União Europeia, esse processo foi feito em conjunto com a Anvisa.
“Essa vacina foi inicialmente desenvolvida lá fora, pela Valneva, com uma tecnologia que a gente chama de vírus atenuado. Esses dados foram submetidos inicialmente para os Estados Unidos e para a Europa. Nos Estados Unidos, ela teve aprovação para viajantes, já que o país não tem casos da doença. A Europa fez um processo de análise em conjunto com a Anvisa e, nesse processo, a gente participou fornecendo os dados e as informações dos estudos que foram conduzidos aqui no Brasil. Então, a Anvisa recebeu esses dados em 2023 e analisou em conjunto com a Europa, fazendo os mesmos questionamentos e, finalmente, chegou à conclusão de aprovar”, disse Gustavo Mendes.
O imunizante contra chikungunya pode ser aplicado para pessoas entre 18 e 65 anos, mas estudos buscam expandir essa faixa etária para populações mais jovens.