A investigação dos episódios de tortura orquestrados por pais de santo da Tenda Espiritual Vovó Maria Conga Aruanda, localizada no Gama, ganhou mais um capítulo nessa terça-feira (15/4) com a prisão de Alex Silva, 23 anos. O homem é acusado de torturar e explorar sexualmente, ao lado de Hayra Vitória Pereira, 22, pessoas em situação de vulnerabilidade que buscavam acolhimento no centro.
A coluna teve acesso ao inquérito policial do caso. São mais de 100 páginas com depoimentos que descrevem com detalhes as sessões de tortura as quais as vítimas do casal foram submetidas por meses.
Em depoimento, a mãe de uma das vítimas, uma adolescente de 17 anos, contou à polícia que a filha somente escapou dos maus-tratos porque consegeuiu fugir. Quando encontrou os pais, a menina estava com ambas mãos e a língua queimadas, com um hematoma na cabeça e o cabelo cortado.
As lesões nas mãos da menina, que deixaram cicatrizes evidentes, foram feitas com uma colher quente. Segundo o relato, Hyara Vitória esquentou o talher no fogão e provocou os ferimentos na adolescente.
Não satisfeita, conforme a menina contou aos pais, Hyara ordenava que a menina lavasse as mãos feridas com água sanitária e esfregasse café com as palmas da mão.
Em outra ocasião, ela teve uma pimenta introduzida em suas partes íntimas e foi obrigada a ingerir fezes e lamber o chão.
À polícia, a mãe da vítima relatou que chegou a visitar o local algumas vezes, antes da filha conseguir fugir, e que acredita que outros adolescentes tenham sido vitimados pelo casal.
Investigação e prisões
Durante a investigação, diversos crimes graves foram constatados, incluindo estupro, corrupção de menores, tortura, humilhação, violência física e psicológica, lesões corporais, gravação de cenas sexuais envolvendo adolescentes, exploração sexual, redução de seres humanos a condição análoga à escravidão, manutenção de casa de prostituição, rufianismo e aliciamento para prostituição.
Também foram identificadas práticas relacionadas à publicação e ao armazenamento de material contendo cenas sexuais explícitas envolvendo crianças ou adolescentes.
Após a nova prisão, os investigadores da PCDF acreditam que mais vítimas devem se manifestar, já que muitas pessoas podem ter se silenciado por medo ou por considerarem erroneamente que tais atos fariam parte dos rituais religiosos do local.