Israel ignora civis e intensifica atividade militar na Faixa de Gaza

A situação da guerra entre Hamas e Israel segue em um impasse. As negociações para um novo cessar-fogo parecem novamente fadadas ao fracasso. Enquanto isso, Israel atua com mais intensidade na Faixa de Gaza, que já não recebe novos caminhões de ajuda humanitária desde o bloqueio imposto pelo governo israelense, no início de março. Em Israel, um movimento contra a guerra ganha cada vez mais força entre militares, membros da área de Defesa e setores da sociedade civil.

As negociações passam por um momento de indefinição. No entanto, a última atualização indica que o Hamas teria recusado uma proposta israelense de um cessar-fogo de seis semanas de duração.

De acordo com um oficial do Hamas citado de forma anônima por veículos britânicos e norte-americanos, o grupo palestino não aceitou a demanda israelense para que abandone as armas.

“A proposta israelense transmitida pelo Egito demandava explicitamente o desarmamento do Hamas sem qualquer compromisso israelense de encerrar a guerra ou de se retirar da Faixa de Gaza. O Hamas, portanto, rejeitou integralmente a oferta”, disse.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, visitou o norte de Gaza e declarou que o Hamas sofrerá ainda “mais golpes”. Ao lado de Netanyahu, o ministro da Defesa, Israel Katz, afirmou que o país “nunca permitirá que o Hamas ameace as comunidades e os cidadãos israelenses e, por isso, a operação em curso pressiona o Hamas a libertar os reféns”.

Em paralelo, Dia Rashwan, chefe do Serviço de Informação do Egito (SIS, em inglês), declarou ao canal egípcio Al-Qahara News que as negociações para um cessar-fogo e libertação dos reféns israelenses “seguiram um caminho positivo.”

Os mediadores voltaram a usar a expressão “otimismo cauteloso” para se referir à possibilidade de um acordo ser alcançado. A proposta egípcia exige que o Hamas liberte dez reféns israelenses em troca de mais prisioneiros palestinos detidos por Israel, um cessar-fogo de 45 dias de duração e o retorno da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza interrompida por Israel em 1º de março.

Neste momento, o Hamas ainda mantém 59 reféns israelenses em cativeiro; entre eles, 35 já morreram.

Movimento de contestação à guerra ganha a adesão de reservistas israelenses

Esse movimento começou com uma carta aberta assinada por mais de mil pilotos da reserva da Força Aérea de Israel pedindo o fim da guerra na Faixa de Gaza. Eles também exigem que a prioridade do governo seja a libertação dos reféns israelenses mantidos em cativeiro pelo Hamas.

O Exército de Israel anunciou que centenas dos reservistas que assinaram a carta serão expulsos das forças armadas. A decisão, no entanto, parece não ter enfraquecido o movimento.

Cerca de 150 oficiais da Marinha de Israel também escreveram outra carta. Segundo eles, “os objetivos da guerra não foram alcançados e hoje ela atende principalmente a objetivos políticos.” Eles também pedem o fim da guerra, uma nova política de ações militares e medidas diplomáticas para que os reféns israelenses sejam libertados pelo Hamas.

Aproximadamente dois mil professores de instituições de ensino superior do país também assinaram um documento em que pedem o fim da guerra e o retorno dos reféns.

“Neste momento, a guerra serve principalmente a interesses políticos e pessoais, e não a interesses de segurança. Como já foi comprovado no passado, somente um acordo pode trazer os reféns de volta em segurança, enquanto a pressão militar leva principalmente à morte de reféns e ao risco para os nossos soldados”, diz o documento.

Cerca de 250 reservistas da unidade de inteligência 8200, a mais importante do Exército de Israel, demonstraram apoio ao movimento. Em declaração, eles afirmam que “juntam-se ao apelo para exigir o retorno imediato dos reféns, mesmo que isso implique uma mudança imediata na condução da guerra.”

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu manifestou-se de forma contrária a essas declarações. Segundo ele, todas elas fazem parte de “uma mentira divulgada pela imprensa.” Ele também afirma que as cartas não foram escritas em nome dos soldados, mas por um pequeno grupo de pessoas mal-intencionadas e operadas por ONGs do exterior cujo objetivo é “derrubar o governo de direita.”

Depois das manifestações de militares e membros dos serviços de segurança, 1.700 artistas e personalidades da cultura israelense assinaram uma carta exigindo o fim imediato da guerra na Faixa de Gaza e o retorno dos reféns. Além disso, 600 arquitetos, engenheiros e urbanistas assinaram outra petição, exigindo o retorno dos reféns, mesmo que isso exija a interrupção imediata dos combates.

A nova lógica da incursão de Israel em Gaza

Segundo fontes citadas pela imprensa local em Israel, há uma mudança no método de ação militar: nesta nova lógica, Israel não considera mais a possibilidade de entradas e saídas pontuais na Faixa de Gaza, mas sim o controle contínuo no terreno que tem por objetivo exercer pressão máxima sobre o Hamas. A expectativa desta nova forma de atuação é levar o Hamas para a mesa de negociações sob as condições de Israel.

Do ponto de vista prático, no sul da Faixa de Gaza, Israel concluiu a tomada do chamado Corredor Morag, criado em paralelo ao Corredor Filadélfia, uma faixa de 14 quilômetros de extensão que divide Gaza e Egito. O Corredor Morag divide dois pontos importantes da Faixa de Gaza: Rafah e Khan Younis, no sul do enclave.

Segundo as avaliações israelenses, já nos próximos dias o exército vai obter o controle de quase 40% da Faixa de Gaza. Esse percentual, simbolicamente, na visão de Israel, marca a transição para a fase de controle de longo prazo da Faixa de Gaza ao mesmo tempo em que consolida conquistas a serem usadas como moedas de troca durante as negociações futuras. O ministro da Defesa Israel Katz comentou este momento; segundo ele, quanto mais o Hamas se recusar a libertar os reféns israelenses, mais intensas serão as atividades militares na Faixa de Gaza.

Ataque a hospital no norte de Gaza

De acordo com médicos na Faixa de Gaza, dois mísseis atingiram o hospital Al-Ahli, no norte do enclave palestino. O ataque não deixou vítimas, mas uma jovem morreu durante o processo de retirada dos pacientes.

A RFI entrou em contato com o Exército de Israel que, por meio de nota, respondeu que “o complexo hospitalar era usado pelo Hamas para planejar e executar ataques terroristas contra as forças israelenses e cidadãos de Israel.”

Este é o mesmo hospital onde uma explosão na área do estacionamento matou centenas de pessoas em outubro de 2023. Naquela ocasião, autoridades palestinas atribuíram o ocorrido a um ataque aéreo israelense. Já Israel afirmou que a explosão foi causada por um lançamento fracassado de um foguete pela Jihad Islâmica Palestina.

Sobre o episódio mais recente, Avichai Adraee, porta-voz em árabe do Exército de Israel, afirmou que “Israel irá atacar com intensidade qualquer área de onde foguetes ou mísseis sejam disparados”.

O hospital Al-Ahli era uma das últimas unidades médicas em funcionamento pleno no norte da Faixa de Gaza. Agora está fora de funcionamento e sem previsão para ser reaberto, segundo o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas.

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