Um vídeo obtido pela Polícia Civil mostra o que seria o momento mais simbólico da aliança criminosa que facilitou a fuga de dois detentos do Comando Vermelho (CV) do Centro de Ressocialização Industrial Ahmenon Lemos Dantas, em Várzea Grande (MT): um almoço em uma churrascaria da capital entre os foragidos, dois policiais penais e mulheres ligadas à facção.
A gravação foi incluída nas provas que embasaram a Operação Shadow, deflagrada na segunda-feira (14/4), para cumprir 35 ordens judiciais contra suspeitos de envolvimento no esquema.
Segundo as investigações, o encontro na churrascaria ocorreu momentos antes da fuga e envolveu os reeducandos Gilmar Reis da Silva, conhecido como Vovozona, apontado como líder da facção Comando Vermelho, e Thiago Augusto Falcão de Oliveira, condenado por homicídio.
Os dois saíram ilegalmente da penitenciária em uma caminhonete do Sistema Penitenciário, dirigida pelo policial penal Léo Márcio da Silva Santos, que também participou do almoço. A saída foi autorizada pelo então diretor da unidade, Adão Elias Junior, hoje também investigado.
Fuga orquestrada
O plano envolveu assinaturas forjadas, omissão de registros, troca de veículos e desvio de rotinas administrativas para simular uma saída regular de serviço. Durante o trajeto, a caminhonete oficial apresentou problemas e foi substituída por uma Toyota Hilux registrada em nome do próprio líder da facção. Os detentos então seguiram até a oficina, onde se encontraram novamente com o policial penal antes de irem todos à churrascaria.
No local, foram recebidos por duas mulheres em uma Pajero Mitsubishi. Uma delas pagou a conta do grupo. Após o almoço, os criminosos deixaram o restaurante em dois veículos diferentes, e o reencontro ocorreu logo em seguida para finalizar a fuga.
O policial penal, então, retomou as atividades normalmente, inclusive realizando compras para o presídio, antes de notificar a direção sobre o suposto desaparecimento — com atraso e informações imprecisas.
Operação Shadow
A Operação Shadow confirmou que a fuga contou com apoio de agentes públicos e integrantes externos da organização criminosa. Os policiais penais são investigados por facilitação de fuga, fraude documental, prevaricação e associação criminosa. O vídeo e outros elementos apontam que a fuga foi conscientemente encoberta pelas autoridades internas da unidade.
Entre as medidas judiciais estão 11 mandados de prisão preventiva, 12 de busca e apreensão, além de bloqueios de bens, sequestro de veículos e imóveis. As ordens foram cumpridas em Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis e Poconé.
Gilmar Reis da Silva e Thiago Augusto Falcão de Oliveira seguem em liberdade e são considerados de alta periculosidade. A Polícia Civil divulgou imagens dos dois criminosos e pede apoio da população na recaptura.