Dengue: em dois meses, Brasil ultrapassa 970 mil casos, mais da metade do total de 2023

 

O Brasil ultrapassou os 970 mil casos prováveis de dengue, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Os dados vão até a semana epidemiológica 8, encerrada no sábado (24), e foram anunciados nessa terça-feira (27). Isso significa que, em dois meses, o país já registrou mais da metade (58,6%) de todas as notificações do ano passado, quando 1,65 milhão de infecções foram observadas.

Frente a esse cenário, sete unidades federativas (AC, DF, GO, MG, ES, RJ e SC) – a maioria delas no eixo Centro-Sul do Brasil – e 154 municípios decretaram emergência, de acordo com o último informe diário da pasta. A nível nacional, a incidência da dengue é de 479,3 casos a cada 100 mil habitantes – a maioria dos decretos ocorreu após a cidade ou estado ultrapassar os 300 casos/100 mil habitantes.

Para Julio Croda, infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), o acumulado de casos nesta época do ano é, de fato, “inesperado” e “não usual”. “Vamos viver o pior ano da epidemia de dengue que a gente já viu no país”, alerta.

“A expectativa é que esses números continuem a crescer, e que a gente supere o recorde histórico de número de casos e, infelizmente, também o número de óbitos”, completa. Considerando que nosso sistema de vigilância mudou pouco nos últimos anos, o médico lembra que há uma estimativa de nove casos subnotificados para cada registro oficial de caso provável, além dos assintomáticos. Ou seja, o número real deve ser bem maior.

O número de mortes por dengue é de 195 até o momento. Em todo o ano passado, foram 1.094 mortes, o recorde histórico. A letalidade (a razão entre o número de mortes e dos casos prováveis de dengue), porém, é menor do que no ano passado, de acordo com a pasta. Comparando as oito primeiras semanas epidemiológicas de cada ano, a taxa de letalidade era de 0,07 em 2023, e, agora, está em 0,02.

Em coletivas de imprensa realizadas ao longo deste ano, autoridades já chamavam a atenção para essa queda, atribuindo o resultado a uma melhor preparação das equipes de saúde para manejar os casos. A dengue não tem tratamento específico, mas um protocolo adequado de hidratação salva vidas.

Mesmo faltando dois dias para o fim de fevereiro, o acumulado de casos dos primeiros dois meses deste ano já é 236.37% maior do que o registrado nos dois primeiros meses do ano passado. De acordo com o painel de arboviroses do ministério, foram registrados 289.366 casos prováveis de dengue em janeiro e fevereiro de 2023.

A dengue tem um comportamento sazonal. De acordo com o Ministério da Saúde, o aumento do número de casos e o risco para epidemias ocorrem, principalmente, entre os meses de outubro de um ano a maio do ano seguinte.

Mas os picos não costumam ocorrer já nos primeiros meses do ano. “Ultrapassamos o pico da doença de 2023 com dois meses de antecedência”, destaca Croda.

O Ministério da Saúde já chegou a apontar que o Brasil pode estar vivendo uma antecipação da sazonalidade. Croda acha que é muito cedo para termos certeza de que o pico se antecipou. “O ideal é que nos preparemos para o pior. Ou seja, para que o pico aconteça entre abril e maio”.

Previsão

A estimativa do Ministério da Saúde é de que, neste ano, o Brasil atinja 4,2 milhões de casos. É mais do que o dobro dos registros do ano passado e algo nunca visto antes no país.

Um dos motivos para a previsão nada otimista é que, após muitos anos, os quatro sorotipos da dengue circulam no país, embora DENV-1 e DENV-2 prevaleçam. Além disso, há a influência das mudanças climáticas e do El Niño, que causam aumento de temperatura, e um ritmo anormal de precipitações. Trata-se do cenário ideal para o mosquito Aedes aegypti, o vetor da dengue, transmitir o vírus e se proliferar.

Em meio a esse contexto, iniciou-se a vacinação contra a dengue com a única vacina aprovada até o momento pela Anvisa e que pode ser amplamente aplicada na população: a Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda. O número de doses é pequeno (cerca de 6,5 milhões para este ano) e, por isso, apenas crianças de 10 a 14 anos de 521 municípios serão vacinados em 2024. Os efeitos da campanha na redução de casos não devem ser sentidos no curto prazo.

Fonte: Estadão

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