Crítica: Demolidor Renascido supera falhas em boa conclusão para a 2ª temporada

De um lado, temos os fãs se perguntando se o Demolidor e os heróis de rua que fizeram um trabalho decente em suas séries da Marvel na Netflix podem ser tão legais ou superiores em sua integração ao Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês). De outro, os produtores quebrando a cabeça para juntar tudo de maneira que passado e presente ofereçam um futuro promissor na cronologia compartilhada da Marvel Studios

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Quando a série de nove episódios estreou no começo de março, fiz uma crítica que destacou algumas qualidades. Na ocasião, senti falta de uma conexão com as tramas anteriores apresentadas na Netflix. Agora, depois do final, nesta semana, posso falar mais a respeito das questões que afligem os fãs e o estúdio. Abaixo está a avaliação final de Demolidor: Renascido, do Disney+, SEM SPOILERS.

Bem, antes de mais nada, dá para cravar que Demolidor: Renascido, embora tenha algumas falhas decepcionantes, traz muita fidelidade dos gibis e termina superando os equívocos com uma boa deixa para a segunda temporada. 


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Antes de mais nada, veja o trailer abaixo e também o que deu a largada para a série nos primeiros dois capítulos.

 

Ok, em Demolidor: Renascido, um evento no começo da trama afasta Matt Murdock (Charlie Cox) da Cozinha do Inferno e o aposenta como Demolidor, em um novo escritório de advocacia mais central na cidade de Nova York. 

Paralelamente, vemos um serial killer aparecer aos poucos, enquanto o vigilante Tigre Branco (Kamar de los Reis) é colocado no centro de discussões sobre a atuação de “vigilantes” como Demolidor e Justiceiro (Jon Bernthal). Isso acontece justamente quando Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio) deixa a prisão e vence a eleição como novo prefeito de Nova York.

Trama geral desenvolvimento de Demolidor e do Rei do Crime

Ver a temporada como um todo depois de assistir cada episódio oferece uma visão mais ampla sobre as intenções dos roteiristas e quais foram suas escolhas mais difíceis. As duas principais histórias de Demolidor: Renascido giram em torno de Matt Murdock e Wilson Fisk questionando ações do passado enquanto detalham ao público as razões cruas e reais sobre as quais eles inevitavelmente sempre voltam a ser o Demolidor e o Rei do Crime.

Até a metade dos nove episódios, vemos ambos tentando deixar para trás os hábitos antigos, mesmo que muitos eventos e interações insistam em colocar em xeque o cotidiano “mais saudável e limpo” construído por cada um no começo da atração.

Matt Murdock explora todas as possibilidades que a lei o permite para exercer seu heroísmo inato, mas como um advogado pacato distante da vida de “herói de rua” do passado. Nesse novo expediente não há espaço para as figuras do passado, como Karen Page (Deborah Ann Woll) e Foggy Nelson (Elden Henson).

Do outro lado, Fisk também vê sua o status de prefeito como um recomeço sem o rastro de sangue do passado. Contudo, durante sua ausência como Rei do Crime, as atitudes de sua esposa, Vanessa Fisk (Ayelet Zurer), começam a cobrar um preço que ele se vê incapaz de pagar com um “currículo limpo”.

Rei do Crime e Demolidor só realmente dão as caras como são mais tarde na série (Imagem: Reprodução/Disney+)

Então, dá para compreender que o desenvolvimento medíocre de alguns personagens, como o Tigre Branco e o vilão Muse (Hunter Doohan); ou a falta de conexão com o MCU e com elementos da Netflix em quase toda a temporada, foram escolhas difíceis que os produtores optaram para mostrar Murdock e Fisk admitindo que não há outra saída além “libertar” seus alter-egos.

Qualidade técnica e várias tonalidades

Uma coisa que já chama a atenção logo de cara é a qualidade que um investimento maior oferece nos quesitos técnicos. Segundo informações de bastidores, os três anos de Demolidor na Netflix, com um total de 39 episódios, teriam custado algo em torno de US$ 129 milhões — isso sem contabilizar as outras séries derivadas, apenas a do Homem Sem Medo.

Demolidor: Renascido, que teve sua primeira temporada praticamente toda refeita do zero, consumiu algo em torno de US$ 200 milhões em apenas nove episódios. E isso você consegue notar facilmente em cada episódio.

Vanessa Fisk tem um bom papel de destaque na trama (Imagem: Reprodução/Disney+)

A começar pelos efeitos visuais que envolvem as habilidades heroicas do Demolidor, assim como múltiplas locações e cenas de ação e luta mais elaboradas, convincentes e explosivas do que as vistas na Netflix. O fato de vermos diversos cenários com atores de primeira linha, mesmo nos papeis menores, é bastante notável. Além disso, os poderes de ecolocalização, assim como o domínio de artes marciais e movimentos super-humanos de Murdock, aparecem com clareza nunca contemplados na série anterior.

Isso também permitiu aos roteiristas mudar a tonalidade da atração e mostrar diferentes perspectivas sobre Nova York, assim como de protagonistas e coadjuvantes, tornando o ambiente e a própria narrativa em algo mais vivo e verossímil — há uma sensação de amplitude temporal e espacial menos “intimista” do que na Netflix, que aproveitava o oneroso cenário principal de suas atrações à exaustão, em muitos episódios.

Assim, temos dois episódios de Demolidor: Renascido que exploram bastante o drama de tribunal que todos adoram, e até um capítulo de enredo de invasão e sequestro em thriller de assalto a banco com direito a referências a outros personagens do MCU. 

Essa superioridade técnica também permitiu a entrada de elementos e personagens da Netflix, principalmente nos últimos capítulos, de maneira a consolidar o desenvolvimento de “transformação” de Murdock e Fisk para o Demolidor e o Rei do Crime, respectivamente, que conhecemos.

Mau uso do Muse e dos novos aliados do Demolidor

Demolidor: Renascido está longe de ser uma série perfeita, e aqui dá para destacar dois pecados recorrentes da Marvel Studios em todas as produções da atual Saga do Multiverso, principalmente nas atrações do Disney+.

Alguns dos pecados passados da Marvel Studios em seus filmes foram perdoados por conta dos momentos brilhantes que o estúdio proporcionou. Contudo, essas falhas se tornaram gritantes nas séries e longas em que as partes boas ficaram ofuscadas pelos equívocos.

Faltou mais cuidado com o vilão Muse (Imagem: Reprodução/Disney+)

A falta de dedicação mais cuidadosa e bem resolvida com antagonistas e vilões apareceu novamente em Demolidor: Renascido, com o vilão Muse. O serial killer foi um dos oponentes mais interessantes e ameaçadores para o Homem Sem Medo em décadas de história, e, na série, serviu a subplots que seriam os mesmos se a Marvel tivesse optado por um novo personagem ou até alguma figura obscura mais descartável.

Além disso, há uma certa valorização exagerada em torno de Heather Gleen (Margarita Levieva), terapeuta sem graça que se torna um elo primordial para todas as narrativas envolvendo Matt Murdock e Demolidor, Wilson Fisk e Rei do Crime, Vanessa Fisk, Muse e até mesmo a discussão sobre vigilantes e a caracterização dessa Nova York. 

Deixar tanta coisa importante girando em torno de uma personagem nova sem carisma, e que, na verdade, soa mais como um “sanduíche de clichês” de HQs de super-heróis e de mulheres da vida de Murdock, dá um desânimo capaz de fazer muitos a deixarem de ver a série até o final. E isso fica pior se avaliarmos a escassa e insossa participação da maior parte do novo núcleo de aliados do herói.

Vale a pena?

Mesmo com vários momentos esquecíveis, Demolidor: Renascido vale sim a pena, principalmente quando Murdock e Fisk voltam a ser os personagens que conhecemos, nos últimos episódios. Aliás, o capítulo final crava o bom uso de Vanessa Fisk e dos coadjuvantes do lado vilanesco, assim como a boa volta do melhores elementos das temporadas da Netflix.

Vale a pena porque, mesmo irregular, Demolidor: Renascido, em sua conclusão, conecta seu novo mundo dos “heróis de rua” do MCU à Netflix e mostra que todas as decisões difíceis construíram uma trama capaz de gerar interesse por uma segunda temporada. Em alguns bons detalhes, até dá para citar uma sequência “fan-service” memorável para quem gosta do Mercenário, em uma cena vinda diretamente dos quadrinhos. E é possível vermos os poderes do Homem Sem Medo sendo utilizados de forma mais parecida com as HQs e em sintonia com o MCU.

Tudo o que aconteceu até o final do episódio nove de Demolidor: Renascido nos dá a esperança de que o melhor da história foi preservado para sua real conclusão. A trama cresce de maneira a nos fazer compreender a necessidade de um segundo ano: e que tudo o que mais queríamos ficou guardado justamente para a sequência.

Apesar da chata da nova namorada de Matt Murdock, dá para ver sim na boa (Imagem: Reprodução/Disney+)

Demolidor: Renascido já tem sua segunda temporada confirmada, com estreia no Disney+ programada para o dia 2 de março de 2026.

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