
Também conhecido como TPB, o Transtorno de Personalidade Borderline é uma condição de saúde mental que afeta cerca de 2 milhões de brasileiros, segundo a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). As características principais desse distúrbio envolvem a dificuldade de socialização, medo do abandono e um estado de humor inconstante.

O Borderline é um transtorno mental que afeta a capacidade de relacionamento de um a pessoa – Freepik/ND
Por isso, quem convive com a síndrome enfrenta desafios no controle das emoções, principalmente ao buscar entender suas relações e lidar com os impulsos.
Assim, para ter melhor condição de vida, o portador do transtorno deve passar por acompanhamento terapêutico, psiquiátrico e contar com o apoio das pessoas ao seu redor.
O que é Borderline?
Principal guia que compila condições e transtornos mentais, o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) define o Borderline como um padrão de inconsistências referente as relações entre o portador do transtorno com as pessoas, assim como o entendimento do mesmo com sua imagem e também suas relações afetivas.
Pessoas com esse transtorno tendem a sentir emoções muito intensas e de forma instável, alternando da raiva para a tristeza repentinamente, por exemplo.
Os portadores da síndrome também sofrem com o medo de serem abandono, com ações impulsivas e quadros de extremo vazio.
Essa condição mental começa a se manifestar no início da adolescência, desencadeando crises mais agudas, que são controladas a partir do tratamento e acompanhamento médico.
Diferentes pesquisas apontam que a incidência do transtorno é maior entre as mulheres, correspondendo de 70 a 75% dos casos.

Mulheres tem maior probabilidade de serem diagnosticadas com o Transtorno de Borderline – Foto: Freepik/ND
Isso é desencadeado também por fatores biológicos e pressões psicológicas impostas sobre o gênero feminino.
Características gerais do transtorno borderline
O Transtorno de Personalidade Borderline afeta principalmente como a pessoa percebe a si mesma e como interage com os outros.
As emoções são vividas com muita intensidade e frequência, o que dificulta regulá-las de maneira saudável.
Isso pode levar a comportamentos impulsivos, relacionamentos instáveis e sentimentos persistentes de vazio. Algumas características comuns incluem:
- Medo intenso de abandono: pessoas com TPB geralmente têm um medo muito forte de serem rejeitadas ou deixadas de lado, o que pode levá-las a agir de forma desesperada para evitar que isso aconteça.
- Relacionamentos instáveis: a instabilidade é característica própria do transtorno. É comum idealizarem uma pessoa num momento e, logo depois, a desvalorizem, o que gera um ciclo constante de aproximação e afastamento.
- Autoimagem distorcida: A visão que o indivíduo tem de si pode mudar drasticamente. Em um momento ele pode se sentir confiante e, logo em seguida, inútil ou desprezível.
- Comportamentos impulsivos e autodestrutivos: pode acontecer de a pessoa passar por episódios de gastos excessivos, sexo sem proteção, uso de drogas, direção imprudente ou compulsão alimentar.
- Instabilidade emocional: mudanças de humor intensas e rápidas são frequentes, podendo durar algumas horas ou até mesmo alguns dias.
- Sentimentos crônicos de vazio: a sensação constante de que falta algo ou que a vida não tem sentido também é um sintoma comum.
- Dissociação e sensação de irrealidade: em momentos de estresse, é possível que o indivíduo se sinta desconectado de si ou da realidade ao seu redor.
Diferenças entre o transtorno borderline e outros transtornos mentais
Algumas características do Borderline também são vistas em outros quadros de transtornos mentais, mas é preciso saber diferenciar os sintomas para que o diagnóstico e tratamento seja feito de maneira adequada.

Bipolaridade e Borderline são transtornos diferentes que devem ser tratados á parte – Foto: Pixabay
Por envolver a mudança de humor, o Borderline costuma ser associado ao transtorno bipolar. Contudo, nesse quadro, as mudanças são mais duradouras, enquanto as oscilações do TPB são reativas ao ambiente ou situação.
O portador do distúrbio de Borderline costuma ter também uma ansiedade mais profunda que os episódios de TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada).
Já em relação à depressão, o borderline demonstra uma alternância entre a euforia e o vazio, enquanto a pessoa depressiva convive intensamente com a tristeza.
Outra confusão que acontece é com o transtorno de personalidade narcisista, pois ambos podem envolver relacionamentos difíceis e autoimagem distorcida, mas no Borderline a pessoa costuma se ver como inferior ou desprezível, enquanto no narcisismo, há uma busca constante por validação e uma visão exagerada de superioridade.
Causas do Transtorno de Personalidade Borderline
Não existe uma única causa para o TPB. Em geral, entende-se que ele surge da interação entre fatores biológicos, psicológicos e ambientais. Os principais fatores de risco incluem:
Genética
Pesquisas mostram que há um componente hereditário envolvido. Pessoas com parentes de primeiro grau (como pais ou irmãos) com Borderline têm mais chances de desenvolver o transtorno, sugerindo uma predisposição genética.
Fatores neurobiológicos
Estudos de neuroimagem indicam que pessoas com o transtorno podem apresentar alterações em áreas do cérebro responsáveis pela regulação das emoções e controle de impulsos, como a amígdala, o hipocampo e o córtex pré-frontal.
Ambiente e experiências na infância
Traumas na infância, como abuso físico, emocional ou sexual, negligência, perda precoce dos pais ou um ambiente familiar caótico, são comumente relatados por portadores do distúrbio.
Esses fatores não determinam o desenvolvimento do transtorno, mas aumentam significativamente o risco.
Como é feito o diagnóstico de Borderline?
O diagnóstico do transtorno é clínico, é feito por um psiquiatra com base em entrevistas e na observação do comportamento da pessoa ao longo do tempo.
A base de referências para o diagnóstico é o DSM-5 que é utilizado internacionalmente para identificar transtornos mentais.

O acompanhamento psiquiátrico é essencial para o diagnóstico da doença – Foto: MART PRODUCTION/Pexels/Divulgação/ND
De acordo com o guia, para que uma pessoa seja diagnosticada com TPB, ela precisa apresentar pelo menos cinco de nove critérios específicos, como:
- Medo intenso de abandono;
- Relacionamentos instáveis;
- Impulsividade;
- Autoimagem distorcida;
- Instabilidade emocional;
- Sentimentos crônicos de vazio;
- Raiva intensa e dificuldade em controlá-la;
- Comportamentos autodestrutivos;
- Dissociação.
Entretanto, o diagnóstico não é simples, pois os sintomas do Borderline podem se sobrepor a de outros transtornos mentais ou até mesmo da dependência química.
Dessa forma, é essencial que esse processo de diagnose seja feito com parcimônia e profissionais qualificados, que consigam avaliar o histórico de vida do paciente e entender o que está por trás de seus comportamentos e emoções.
Quais são as opções de tratamento?
Mesmo sendo uma condição desafiadora, o Borderline tem tratamento, com perspectivas de melhora são muito positivas a partir da adesão ao acompanhamento terapêutico adequado.
O transtorno não tem cura definitiva, mas o tratamento ajuda o paciente a compreender sua condição e padrões emocionais, controlar os impulsos e ganhar confiança para lidar com os relacionamentos e cenários que o circundam.
A psicoterapia é o principal método de tratamento, com abordagens que envolvem a autoaceitação, mindfulness e regulação emocional.
O uso de medicamentos não é para curar o TPB, mas suavizar os sintomas associados, como ansiedade, depressão, impulsividade ou instabilidade de humor.
Antidepressivos, reguladores de humor e antipsicóticos podem ser prescritos por um psiquiatra, sempre com acompanhamento e avaliação dos riscos e benefícios.
A participação de grupos de apoio é outro mecanismo de tratamento do Borderline, já que compartilhar experiências com outras pessoas que enfrentam desafios semelhantes pode ajudar a reduzir o sentimento de isolamento e promover mais compreensão sobre o transtorno.