Vila medieval e túmulos da Peste Negra são achados em ruína na França

Uma escavação em uma antiga abadia medieval francesa levou à descoberta de mais de 1.000 túmulos, um caixão de chumbo e uma vila com quase 1.200 anos. Contendo até mesmo vítimas da Peste Negra, o sítio arqueológico da Abadia de Beaumont teve uma história com 800 anos de eventos até ser derrubada durante a Revolução Francesa, em 1789.

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É a primeira vez que uma abadia europeia é escavada totalmente, mostrando em nuances a história do convento católico. Ela fica nos arredores da cidade de Tours, no vale de Loire, a 178 km da capital francesa, Paris. Sua fundação foi no ano de 1002 d.C. em um local já ocupado pela vila de Belmons desde ao menos 845 d.C.

Arqueólogos trabalhando na vala comum encontrada no sítio arqueológico da Abadia de Beaumont (Imagem: Jean Demerliac/Inrap)
Arqueólogos trabalhando na vala comum encontrada no sítio arqueológico da Abadia de Beaumont (Imagem: Jean Demerliac/Inrap)

Documentos históricos indicam que a abadia cresceu rapidamente, se tornando a maior comunidade de freiras da província. Em 1789, no entanto, a Revolução Francesa decapitou o rei Luís XVI e sua esposa, Maria Antonieta, e mudou as estruturas do país, inclusive do convento — suas 46 freiras foram expulsas e toda a construção e suas adjacências foram destruídas no início do século XIX.


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Escavação na abadia francesa

Segundo os arqueólogos responsáveis, todos os elementos possíveis da abadia foram escavados, incluindo o claustro, a igreja, os aposentos, a cozinha, o refeitório, os lavatórios, o salão, a adega, o pombal, as fornalhas, as cisternas, a tubulação, a lavanderia, as latrinas, a despensa e o lixão, bem como mais de 1.000 túmulos de diversas épocas diferentes.

Também foram encontrados sinais da antiga vila de Belmons. Segundo as análises, a igreja da abadia sofreu pelo menos duas grandes reformas antes da demolição — a primeira foi a modificação da abside, estrutura com um domo semicircular no teto, que ficou duas vezes maior.

Depois, um ambulatório foi adicionado à construção, colocando corredores e coxias ao longo da nave, parte central da igreja que abriga a congregação. Ao longo dos 800 anos de funcionamento, no entanto, reformas menores continuaram ocorrendo, adicionando quartos e banheiros e refazendo ladrilhos.

Sarcófagos encontrados nas ruínas da Abadia de Beaumont — são mais de 1000 túmulos (Imagem: Jean Demerliac/Inrap)
Sarcófagos encontrados nas ruínas da Abadia de Beaumont — são mais de 1000 túmulos (Imagem: Jean Demerliac/Inrap)

Já o cemitério, que também foi crescendo, abrigava caixões com corpos de diversos grupos sociais, como as freiras e os serviçais do convento. Os esqueletos apenas começaram a ser estudados, mas já se sabe que uma epidemia da Peste Negra ocorreu no local, em 1563. Na mesma semana, nove freiras — duas delas no mesmo dia — morreram e foram enterradas na mesma cova.

Segundo a análise de um túmulo com uma dúzia de baús, pelo menos alguém importante à igreja foi enterrado no cemitério, podendo ser a abadessa Madame de Bourbon-Condé, neta do rei Luís XIV. Ela virou freira em torno de 1720 d.C. e se tornou abadessa de Beaumont em 1732 d.C., morrendo no ano de 1772.

A vida da nobre teria sido relativamente confortável, com casa e serviçais próprios. Um conjunto de chá de porcelana do século XVIII achado na escavação indica que as freiras importavam cerâmica fina da China, provavelmente a alto custo.

A cripta funerária que menciona a abadessa é a única do estilo no local, e continha apenas alguns ossos e cerâmica. A lápide estava em outro lugar do sítio. Ela teria sido a primeira aberta durante a Revolução, acreditam os cientistas, e o chumbo de seu caixão teria sido usado para fazer as chamadas “balas patriotas” dos exércitos revolucionários. O restante do trabalho de análise será feito no laboratório, já que a escavação foi totalmente vasculhada.

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