Dormindo em passarelas ou pontos de ônibus, sofrendo nos dias mais quentes, pedindo comida para moradores de rua. Cães e gatos desabrigados estão presentes por Brasília mas, com muita dedicação e vocação, pessoas comuns, de Vicente Pires ao Lago Sul, atuam para tirá-los dessa situação.
No dia em que Brasília faz 65 anos, conheça alguns protetores de animais que cuidam de pets abandonados pela capital. Essas pessoas passam despercebidas socialmente, mas o valor da ação está em ver um animal seguro, sabendo que terá comida e um lugar para dormir, com um tutor que se responsabilize por seu bem-estar.
Juliana Campos, Asa Norte
Na casa da pedagoga Juliana Campos, localizada na Asa Norte, os felinos encontram um lar temporário e são bem-vindos para receber cuidados pós e pré-operatórios. Tudo começou em 2019, quando ela resgatou um cachorro e acabou conhecendo um projeto que auxilia financeiramente nos resgates de animais de rua. Tocada pela ação, Campos decidiu se envolver com a causa animal participando do projeto.

O projeto pessoal só ganhou força em abril de 2020, quando ela acolheu quatro gatos que estavam no telhado do colégio onde a pedagoga atua, na 704 Norte. Inicialmente, a ideia de Juliana era apenas castrar os gatos de colônias e devolvê-los para o habitat. Entretanto, ao notar que alguns deles tinham um temperamento dócil, ela passou a acolher para buscar adotantes.
Depois disso, ela não parou de receber os bichanos. “Eu me mudei para o meu apartamento atual por conta dos gatos”, conta Campos. Na residência, ela separa dois quartos para os pets. Cada cômodo dispõe de arranhadores, prateleiras, potes de ração, água e até mesmo medicações para os felinos, guardadas em armários.
Em um dos quartos, ela mantém 13 gatos que irão fazer alguma cirurgia, ou já fizeram alguma operação. Os felinos são do abrigo Fauna e Flora, que conseguem realizar procedimentos cirúrgicos graças à parceria com clínicas veterinárias.
No outro quarto, apenas gatos resgatados das ruas, que esperam a adoção por uma família responsável. A divulgação para encontrar adotantes acontece por meios das redes sociais da protetora (@miados.ronronados).
Deusnete Rosa de Almeida, Planaltina
Apesar de sempre se solidarizar com a causa animal, Deusnete só começou a acolher cães e gatos em sua casa em 2012, quando seu marido faleceu. “Durante o luto, a vida acaba um pouquinho. Resgatar animais diminuiu o vazio que eu estava sentindo”, relata Rosa.
A experiência de poder ajudar os animais deu novo sentido à vida de Deusnete, que abraçou a missão. Na casa onde mora, em Planaltina, ela acolhe cães e gatos, que são castrados por ela e recebem todos os cuidados veterinários necessários. Os exames e medicamentos são custeados pela pensionista, que, após cuidar dos pets, os disponibiliza para adoção. “Da última vez que fiz as contas, já tinha doado e castrado cerca de 80 cães”, conta.

Todos os sábados, Rosa leva os animais resgatados para a Cobasi, na 516 Norte, onde participa de feirinhas de adoção. A pensionista já conseguiu lar para cerca de 70 gatos — alguns ela mesma castrou, outros tiveram a castração providenciada pelos novos tutores. Quando não consegue um lar nas feiras, ela divulga imagens dos pets nas redes sociais (@deuza_rosa).
Atualmente, Deusnete cuida de seis cães e 30 gatos, contando com o apoio dos filhos e netos, que moram com ela, para cuidar dos animais. Muitos já chegam à casa da protetora com algum problema de saúde, que ela trata em clínicas veterinárias ou acompanha e cuida em casa.
Mariângela Martins, Lago Sul
No Lago Sul, os animais de estimação já perderam o título de pets — são considerados filhos. Mariângela Martins declara que embora os animais acolhidos não tenham nascido dela, eles são “feitos para ela”. A casa conta com um amplo espaço verde e áreas abertas para abrigar cães, gatos e porquinhos da Índia.

Todos os pets vivem separadamente para que a convivência funcione da melhor forma. Mariângela conta com a ajuda dos pais e do jardineiro da casa para cuidar dos animais, fornecendo alimentação, interação, cuidados veterinários e todo o aparato necessário para a qualidade de vida dos pets.
“Eu acho que eles ensinam muito mais do que a gente para eles. Estamos sempre em dívida com os animais. É um amor incondicional, sem cobranças, muito pelo contrário. Eles têm uma dedicação exclusiva para a gente”, afirma a protetora.
Martins conta que alguns dos animais que ela resgatou eram vítimas de maus-tratos. Um deles é o Billybob, um york shire de 6 anos, que aos cuidados da antiga tutora passava longas horas sem comer. O jejum enfrentado pelo pet fazia com que ele comesse as próprias fezes, o que causou a perda de alguns dentes do animal de estimação. Após o resgate, Martins levou o pet em um veterinário especializado em tratamentos dentários
Além dos cães e gatos que ela cuida na própria casa, Mariângela é uma das protetoras do Projeto CED na Sede, que recolhe e castra os pets do complexo SPO em Brasília. Alguns deles são devolvidos para as colônias, outros conseguem ser adotados. O projeto visa alimentar os bichanos e evitar a proliferação descontrolada dos gatos da região.
Ana Carolina Tonissi, Jardim Botânico
No lar de Ana Carolina Tonissi, no Jardim Botânico, o carinho pelos animais de estimação está no sangue. Os pais da estudante de veterinária sempre a incentivaram a acolher animais de rua. Aos 14 anos, a protetora, junto com a mãe, resgatou a primeira cachorra das ruas, cuidou dela e encontrou um lar para ela.

Desde então, acolher cães temporariamente se tornou uma missão pessoal. Há mais de 10 anos, Carolina resgata animais desabrigados, leva-os a centros veterinários, trata e castra. “Antes de chegarem, eles passam por uma espécie de triagem, fazem exames de sangue e, quando precisam de tratamento, vamos administrando”, conta a estudante.
O cuidado com os pets também está presente na hora de aprovar uma família adotante. Carolina e outros protetores fazem questão de verificar as condições do lar e o real interesse dos candidatos. Tonissi relata que algumas pessoas procuram os cães com a intenção de usá-los como cães de guarda; outras os criam com acesso livre às ruas — um hábito prejudicial aos animais.
Atualmente, a estudante abriga 14 cachorros em casinhas no quintal de casa. Os pets têm horário certo para comer e fazem as refeições separadamente, para evitar brigas por ração. “Como eles vêm da rua, geralmente têm uma possessividade com comida”, descreve. A divulgação e a busca por adotantes acontecem pelas redes sociais (@proteja_uma_vida) e em feiras de adoção. Uma delas ocorre uma vez por mês no Betina Café, na 409 Norte.
Luana Santiago, Vicente Pires
Em Vicente Pires, em Taguatinga ou na Cidade Estrutural… A protetora e psicóloga Luana Santiago vai até as diferentes regiões do Distrito Federal para alimentar as colônias de gatos desabrigados – territórios isolados em que os felinos convivem sozinhos e livres, sem a interferência humana. A missão é tentar capturar alguns desses pets para castrar e devolver para o meio. Alguns são recolhidos para adoção e cuidados veterinários, especialmente em casos de maus-tratos ou violência.

A psicóloga adotou o primeiro bichano em 2020 e, desde então, passou a acolher os animais de estimação na própria casa. Atualmente, ela cuida de 15 gatos, junto ao marido e à mãe. Os três moram em um espaço amplo onde os felinos castrados são bem alimentados e desfrutam de um lar carinhoso, cuidados médicos, brinquedos e muitos sachês.
Quando não há espaço na casa para manter os gatos resgatados provisoriamente, Luana investe em lares temporários – lares de diferentes pessoas que se disponibilizam para cuidar dos pets até que eles sejam adotados. Santiago, juntamente a outros protetores, arca financeiramente com os custos de veterinário, alimentação e outros dispensados pelos tutores provisórios.
Uma das maiores dificuldades enfrentadas por Luana e outras pessoas do grupo de apoio é manter os potes, casinhas e outros objetos nas regiões onde os gatos vivem. Recorrentemente, são roubados bebedouros e outros utensílios deixados para a oferta de subsistência para os gatos das colônias, o que acaba prejudicando o trabalho — porém, a força de vontade e o amor pelos bichanos fala mais alto e os faz prosseguir à procura de melhores condições para os amigos de quatro (ou mais) patas.