São Paulo — Conhecido por ter xingado o papa Francisco de “vagabundo” na tribuna da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em 2021, o ex-deputado bolsonarista Fred D’Avila relembrou o episódio em que recebeu o perdão do pontífice em encontro com o líder religioso no Vaticano em 2022. O Francisco morreu aos 88 anos nessa segunda-feira (21/4).
No dia 14 de outubro de 2021, D’Avila, então no PSL, fez uma série de ofensas ao arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e ao papa Francisco durante discurso. O parlamentar chamou os religiosos de “safados”, “vagabundos” e “pedófilos”.
No ano seguinte, após perder a eleição para deputado federal, D’Avila foi até ao Vaticano pedir perdão ao papa (veja vídeo abaixo).
“Santo padre, eu vim aqui para pedir seu perdão”, disse o deputado no breve encontro com o sumo pontífice. “Deus perdoa a todos os pecados. Eu te absolvo dos teus pecados”, respondeu o papa.
“Todo esse episódio, além de ser um grande aprendizado de vida, derrubou as máscaras e mostrou-nos quem verdadeiramente é cristão e quem usa o altar e a batina para fazer proselitismos político-ideológicos, que vão diametralmente contra as doutrinas fundamentais da Igreja”, afirmou o ex-deputado ao Metrópoles.
Relembre o caso
As ofensas do parlamentar foram uma resposta a um discurso do arcebispo de Aparecida, dom Orlando, no dia 12 de outubro, durante a missa pelo Dia de Nossa Senhora Aparecida. Na ocasião, o arcebispo fez críticas à política armamentista de Jair Bolsonaro e defendeu a ciência e a vacina.
“Seu safado da CNBB dando recadinho para o presidente [Bolsonaro], para a população brasileira, que pátria amada não é pátria armada. Pátria amada é a pátria que não se submete a essa gentalha. (…) Seu vagabundo, safado, que se submete a esse papa vagabundo também. A última coisa que vocês tomam conta é do espírito, do bem-estar e do conforto da alma das pessoas. Você acha que é quem para ficar usando a batina e o altar para ficar fazendo proselitismo político? Seus pedófilos safados, a CNBB é um câncer que precisa ser extirpado do Brasil”, afirmou D’Ávila durante discurso feito na tribuna da Alesp (veja abaixo).
À época, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) chegou a pedir medidas internas “eficazes, legais e regimentais” contra o deputado, declarando repúdio aos ataques. De acordo com a instituição, o congressista fez comentários com “ódio descontrolado” e, assim, “feriu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes”.
Um relatório pedindo a suspensão do mandato do deputado por três meses chegou a ser aprovado no Conselho de Ética da Alesp em 21 de fevereiro de 2022. Uma liminar do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), no entanto, impediu a votação em plenário.